Capítulo 12: Revelações; Parte III

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Somos levados, no outro dia, para uma antiga casa a beira da floresta. Estamos dentro de uma carruagem quando vemos o conde conversar com uma senhora já idosa de aparência humilde, e em seguida nos mandar descer e nós apresentá-la como nossa tutora: Rowena Hatzel.
Dotada com um rosto gentil, ela passa a mão em nossos cabelos, aperta nossas mãos e encara cada um nos olhos vom seus olhos cinzas inquietantes.
_Fizeste uma ótima escolha, Conde Stordrean. São jovens fortes e espertos, absorveram bem o poder da Visão. Agora, só lhes falta o conhecimento.
Antes de ir embora, o Conde fez questão de nos lembrar da chantagem pela milésima vez e avisou que não serão toleradas tentativas de fuga ou qualquer outra desfeita. Os Licantropos iam rondar a propriedade para garantir que nada fugirá do que foi combinado.
Ao sair, ficamos os cinco ali, desejando o pior para o louco que nos fazia reféns.
Todos compartilhavamos um ódio incondicional por aquele sujeito, mas não era só isso que nos unia. No pouco tempo que nos conhecíamos, laços começaram a surgir entre nós. Descobrimos outras coisas em comum, como as dificuldades na infância e juventude e como tivemos que nos adaptar.
Os outros jovens se chamam Bernard, que é o de cabelos negros que enfrentou o Conde Stordrean no primeiro dia, Katherine, uma garota linda e de uma lábia infalível, e Edward, que era mais reservado mas ótimo no que se diz à disfarces.
Luke também parece gostar deles, e odiar o conde na mesma proporção, mas a preocupação com a possibilidade de ele fazer algum mal à Dylan supera qualquer resistência. Contra isso não há como lutar.
A sra. Hatzel é muito gentil. Nos levou para a sua casa, que era muito humilde e pobre, mas hospitaleira, e ofereceu um chá que desceu forçado, mas os biscoitos foram bem-vindos.
_Em primeiro lugar - ela começou a dizer - só estou fazendo isso porque estou sendo forçada. Não me agrada o modo como Conde Stordrean está mantendo-os prisioneiros, mas farei o possível para auxiliá-los com o que precisarem.
Nesse momento, nós cinco percebemos que tínhamos uma aliada.
É bom morar com a sra. Hatzel do mesmo modo que é prazerosa a presença dos outros, mas chega a ser constrangedor quando nos lembramos que estamos sendo obrigados a coagir com um maníaco.
Rowena Hatzel é uma bruxa e ela nos ensina tudo sobre o mundo da Magia. As espécies de criaturas místicas. Os lugares lendários que pensávamos serem somente lendas. A identificar feitiços, preparar algumas poções com a flora mítica e um pouco sobre maldições. Mas o principal tema de nossas lições era a Floresta Eterna.
O lugar é simplesmente encantador. A sra. Hatzel nos disse que esta floresta é centro de muita atividade paranormal devido a localização de uma intersecção entre os planos etéreo (dos sonhos), o físico e o espiritual, ou seja, o lugar é mesmo assombrado e lar de espécimes raros.
Enquanto aprendíamos várias coisas sobre o mundo da magia, nossa amizade foi crescendo a ponto de, em pouco tempo, agíamos como uma equipe de verdade. Os demais também eram guerreiros e com ótimos truques e armadilhas ao passo que eu e Luke compartilhavamos o que sabíamos sobre a natureza e a arte do arco e flecha.
Em pouco tempo, aprendi lições valiosas com todos ali, de modo que, quando Conde Storbrean voltou meses depois, éramos outras pessoas. Ainda queríamos matá-lo, mas estávamos mais sábios, experientes com a magia.
Quando veio nos buscar, ele veio com dez vezes mais Benevolentes. Os Benevolentes, segundo sra. Hatzel, era qualquer criatura mágica que fosse lacaia de um praticante de Magia, seja feiticeiro ou Vidente.
Nos despedimos dela e agradecemos por tudo o que ela fez por nós. Dali, rumamos para a Floresta Eterna.
Acredito que a carruagem daquele homem era mágica porque em poucos minutos andando em meio à escuridão, estávamos os cinco diante uma floresta como jamais havíamos visto.
Árvores negras, altas e densas cobriam toda a região, e diante a trilha que dava acesso à floresta, não víamos nada a não ser trevas ali dentro.
_Espero que o treinamento de vós tenha sido de alguma valia - o doentio conde estava diante de nós - pois suas vidas e as de quem amam dependem disso.
Afirmamos com um sinal de cabeça e ele nos equipou. Todos usávamos roupas especiais, feitas de um tecido resistente que tinha a habilidade de se mesclar ao ambiente.
Cada um recebeu uma arma: eu, um arco e flecha gregos, com a benção dos deuses arqueiros; Luke, um punhal e algumas facas de atirar encantadas, com lâminas venenosas; Bernard, uma espada dourada, feita de metal Tanisíano, que mata qualquer ser vivo; Katherine, uma lança elétrica e um escudo, e por fim, Edward com uma besta com flechas encantadas.
Por último, ele nos entregou uma gaiola do tamanho de um barril, mas que ficava diminuta do tamanho de uma noz, feita de ferro Aquoso, um metal a base de água feito nas forjas submarinas.
_Boa sorte, meus caçadores de recompensas!
Reclamamos e lançamos uma última maldição antes de sairmos em nossa busca pela floresta. Prometemos vingança.
A Floresta Eterna se revelou mais perigosa do que imaginavamos. Haviam muitas criaturas hostis que não esperávamos encontrar por lá, e muitas vezes tivemos que lançar feitiços e requisitar ajuda às entidades etéreas. Mas duas coisas nos moviam: a vontade de rever entes queridos em segurança e a de matar Conde Storbrean.
Dentro da floresta, fizemos algumas amizades com seres pacíficos e entidades de luz, e com essa ajuda conseguimos localizar a Fênix em poucos dias.
Os Benevolentes a serviço do conde ficaram bloqueando a entrada da floresta, então a única possibilidade de nos permitirem sair é com a ave na gaiola.
O que aprendemos sobre este magnífico ser é que faz seus ninhos entre as rochas, o quanto mais alto possível para fugir dos predadores terrestres.
No centro da floresta havia uma enorme árvore petrificada. Sua aparência era de uma árvore comum mas seu tronco era de pedra bruta, assim como os galhos, e as folhas de mármore. Rowena Hatzel nos falou de uma árvore assim uma vez, chamada Éden Petros.
Nos galhos mais altos da árvore estava um ninho composto por rochas onde descansava o pássaro eterno, que era o nosso bilhete para a liberdade.
Demoramos horas para atingir os galhos mais altos da árvore e quando estávamos bem perto, a vimos.
Era magnífica! Suas penas eram chamas vivas e todas estavam quase tão ardentes e flamejantes quanto o sol. Era do tamanho de um pavão, e aparentava ser muito dócil.
Fomos chegando aos poucos, silenciosos, divididos de modo que um vinha de cada lado, a fim de podermos cercar a ave, mas ela não parecia demonstrar sinais de resistência.
Quando estávamos a poucos metros de distância, percebemos o porque. Ela estava fraca, a parte de suas penas estavam caídas em volta do ninho. Pareciam fagulhas, o que significava que a ave estava morrendo. Não ia oferecer nenhuma resistência.
_O que faremos agora? - pergunta Luke, quando estávamos a cercar a ave que parecia calma mesmo percebendo nossa presença.
Mesmo hesitantes, decidimos fazer o que fora nossa missão até ali. A colocamos dentro da gaiola com ferro Aquoso com uma certa dificuldade, mas ela não quis resistir. Logo ia se desfazer em cinzas, então tínhamos que ser rápidos para sair de lá com ela ainda em chamas.
Do jeito mais rápido possível, descemos da árvore com a gaiola, tentando fazer o mínimo de movimentos bruscos. Para sair da floresta, foi mais tranquilo, já que poucas criaturas ousaram cruzar nosso caminho.
Levamos um dia para conseguir sair de lá, onde nos deparamos com Rowena à nossa espera com os lobisomens benevolentes.
Ela não pareceu acreditar quando viu a ave engaiolada. Nos abraçou, e disse que temia por nossa segurança.
_Onde está o maldito? - perguntou Bernard, que assim como todos nós, não via a hora de por um fim naquele pesadelo.
E por passe de mágica, talvez, ele surgiu diante de nós. O mesmo jeito impecável e arrogante de meses atrás.
_Quem poderia imaginar? Vós conseguistes mesmo! Estou surpreso.
Ele parecia orgulhoso, mas sua ironia e o desdém não permitiam que o sentimento fosse tido como verdadeiro.
_Demoraram demais - diz ele - Agora, passem-me a ave para que eu possa sugar sua energia vital.
Ele estende a mão, pronto para pegar a gaiola, mas a sra. Hatzel se coloca na frente.
_Não vou permitir que tu faças mal à um ser tão iluminado!
_Saía da frente, velhota - ameaça ele, com seu tom de voz de veludo.
_Nada vai me tirar daqui, e não há que possa fazer!
E acontece.
Uma bola de energia sai do medalhão do homem e a acerta em cheio.
Todos gritamos de desespero quando vemos seu corpo ser lançado à metros de distância.
Tentamos socorrê-la mas já era tarde demais. Ela estava morta.
_Desgraçado! - grita Edward.
_Como ousa fazer isso, covarde? - enfrenta Katherine.
_Criatura desprezível! - Luke está dignado, como todos nós.
O conde ri.
_Vós vistes que foi culpa dela. Quis dar uma de forte, mas não passava de um verme insolente.
Isso nos infla de ódio, e o pássaro reage. Toda Fênix reage às emoções humanas de diferentes modos, dependendo da natureza e da intensidade do sentimento.
A ave que antes estava abatida agora parece estar mais viva. Talvez a chama de ódio que se acendeu dentro de nós a tendo acendido de volta à vida também. Ela está mais viva, altiva e parece estar tentando alçar voo mas impedida pelas barras de água.
_Passem-me a minha Fênix agora! - grita o maníaco.
_Ela não é sua - eu gritei em resposta.
_E nunca será - afirma Bernard, pegando a gaiola, pronto para abri-la.
_Não ouse fazer isso! - ameaça o homem - Ou juro que os matarei aqui e agora!
Mas não recuamos. Já não tínhamos medo, não havia importância se nos machucasse. Nenhum dos seus truques surtiriam mais efeito.
Bernard abre a porta da gaiola ao mesmo tempo que outra bola de energia é lançada pelo vilão.
A ave sai pela abertura e em pleno voo é abatida pela bola de energia que por pouco não nos matou. Ela caiu no chão, e o conde observa horrorizado o que acabou de fazer.
_Não...
Corremos de encontro à ave enquanto o homem está imóvel, e um grito quase sobre-humano preenche a clareira.
_Matar uma criatura mística tão poderosa não é um bom agouro, conde Storbrean - digo olhando em seus olhos - Sofrerá pragas terríveis por esse ato!
O que eu falava era mesmo verdade segundo a superstição.
A ave estendida no chão, com as chamas bem fracas agora, quase apagando.
Todos chorando diante seu corpo estendido no chão frio.
Um brilho surge do peito da ave, e uma bola de fogo brilhante como o sol começa a subir, flutuando perto das nossas cabeças. Em pé agora, assistiamos à tudo , em círculo, quando uma voz surgiu. Era doce e angelical. Talvez fosse o espírito da ave a falar conosco.

Meus queridos, hoje vós mostreis que ten o coração puro e nobre, escolhendo a morte à machucar o próximo, e acreditem, com esse ato ganhastes meu respeito e admiração, e por isso, pretendo recompensá-los.
Recebam agora a Dádiva da Fênix, que além de uma graça também é um fardo: acabam de ganhar a imortalidade. Vossos espíritos permanecerão intactos e renascerão em outros corpos, a medida que a morte os alcançar, assim como uma fênix, que deixa marcas quando está a fazer seu voo, o mesmo ocorrá com vós.
Todos aqueles que vós deixares marcas nesta vida, sejam amigos ou inimigos, transcenderam juntamente com vós através das eras.
Mas cuidado. Todos serão eternos, mas viverão por meio de um destino pré-traçado que cada um terá que carregar de acordo com o que fizeres nesta vida. Mas chegará um dia em que este encanto terá um fim, e nesse dia, todos os destinos pré-traçados serão desfeitos e os caminhos traçados novamente.
Boa sorte, meus amados!

_É foi assim que aconteceu - falei, retirando o anel do alcance de Sarah, que está impressionada - O Conde Stordrean se desfez em trevas quando a luz surgiu, mas ficou bem claro o que iria acontecer: havíamos ganhado a imortalidade, assim como nossos amigos e inimigos, mas teríamos que carregar uma espécie de Karma por essas vidas até o dia em que essa maldição terá um fim.
_Do mesmo modo como íamos nos sacrificar pela ave - completou Luke - a Fênix deu sua imortalidade à nós e à aqueles ao nosso redor.
Sarah me abraçou, e ela está emocionada. Ela vira tudo por meio do meu Amuleto.
_Meu Deus, quanta coisa você já enfrentou amiga.
_ E esse foi apenas o começo - digo, de frente à ela agora - Depois que ganhamos noss imortalidade, vivemos muitos outros perigos. Saímos atrás dos nossos amigos, todos juntos e formamos um novo grupo, e passamos a nos autodenominar Blake.
_Mas por que esse nome?
_Veja isso - pego um lápis e escrevo em uma página em branco do livro.

Bernard
Luke
Artemis
Katherine
Edward

_Nos tornamos uma espécie de caçadores de recompensas - explica Luke.
Levanto a manga da minha camiseta e no meu braço está uma marca em fogo que surgiu em nossos braços quando nos tornamos Transcendentes, que lembrava uma diminuta ave em voo.
_Como não percebi isso antes? - pergunta Sarah estupefata.
_Ela só aparece com a Revelação - responde Luke - Acontece com todos nós: depois que recuperamos nossos Amuletos e as memórias das vidas passadas.
_E quando encontramos Dylan, ele também tinha a marca - acrescento - E o mesmo aconteceu com Violet, Heitor e alguns outros amigos.
_E também com os inimigos - diz Luke.
Sarah pergunta:
_Quer dizer que esse Conde...
_E várias outras pessoas que nos odiavam se tornaram imortais também - completo o raciocínio dela - E todos vivemos de acordo com o nosso Karma, que é uma espécie de destino pré-traçado.
Me entristeço só de pensar no meu Karma, mas Luke aperta minha mão.
_Mas um dia isso vai acabar e vamos poder viver nossas vidas em paz.
_Agora só me resta uma dúvida - perguntou Sarah - Luke, você disse que uma tal de Charlotte Greater está por trás desses desaparecimentos, e pelo o que entendi, ela é uma Transcendente também.
Percebo onde Sarah quer chegar.
_Charlotte foi uma amiga que Dylan, Luke e eu fizemos antes de entrar para os Blake. Ela fazia parte de um grupo de ciganos, e sabia fazer esse tipo de coisa como ver o futuro e hipnotizar as pessoas. Mas houve um desentendimento entre nós, e nos tornamos inimigas.
_Mas o que aconteceu?
_Bem... -respondo com embaraço - Pode-se dizer que ela tentou roubar meu homem.

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⏰ Última atualização: Jul 19, 2015 ⏰

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