2. O inferno onde entrei

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Era quente e úmido, ao contrário do restante da cabana, gélida em abandono

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Era quente e úmido, ao contrário do restante da cabana, gélida em abandono. Uma luz pálida e doentia pendia do teto, presa por um fio desgastado, balançando suavemente enquanto lançava sombras grotescas pelos cantos.

A madeira coberta de bolor respirava, pulsando como se estivesse viva. Os pelos em minha nuca se arrepiaram, mesmo que ali fosse quente, ao ponto de o suor brotar e escorrer pelo meu corpo. Era como acessar as entranhas de um demônio faminto.

Os estalos da madeira sob os meus pés ecoavam pelo espaço apertado, como se o próprio chão gemesse de prazer com a minha descida pelas escadas. Mesmo trêmulas, minhas pernas insistiram em continuar, degrau por degrau.

Ao meu redor, estantes antigas inclinavam-se precariamente, prestes a desabar sob o peso dos livros encharcados pela umidade, mofados pelo tempo. Páginas soltas e amareladas espalhavam-se pelo chão.

Em meio a elas, encontrei a fonte da podridão, a combinação que apenas uma perfumaria de sarcófago poderia alcançar.

A camada de pelos se desprendia da carne azul-esverdeada como um tapete. Vermes contorciam-se entre as costelas. Cavidades vazias no lugar dos olhos, me vigiam.

Um gato morto.

E, apesar da repulsa crescente, eu o toquei, apertei a carne gosmenta que me escapava entre os dedos. E, assim que o fiz, as luzes se apagaram.

Um grito esganiçado, um miado distorcido. Caí. O coração disparado, tateei as tábuas ásperas tentando me orientar. O calor... estava mais perto.

Um novo som irrompeu, baixo, arrastado e sorrateiro, como se algo se movesse nas sombras, observando, aguardando. Afundei novamente os dedos na massa disforme e gosmenta, recolhi o que podia do gato e fugi dali.

As escadas me impediam. Tropecei. Berrei. Escorreguei. Mas subi. Minhas costas bateram contra a porta, que fechei com um estrondo.

O gato gemeu. Entre os meus dedos, os vermes dançavam.

Seus olhos vazios refletiam a minha alma. Um sorriso morto. Trêmulo, fui até a lixeira e joguei o cadáver. Mas minha mente? Ficou presa no porão.

As horas se passaram, mas não o meu tormento. Ao menos o odor pútrido diminuíra consideravelmente.

Estava sentado à mesa, tentando rascunhar os primeiros capítulos daquela história. Mas era impossível manter os olhos sobre as páginas ainda brancas.

Eles insistiam em se focar na porta fechada ao final do corredor à minha frente. Como escrever algo belo quando o miado cadavérico ainda ressoa na minha cabeça? Quando o porão insiste em me habitar.

Eu estava decidido a voltar, ele implora por mim.

Eu estava decidido a voltar, ele implora por mim

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O Porão Que Me Habita - yaoiOnde histórias criam vida. Descubra agora