Saí de casa e me deparei com um Ranger Rover branco parado na minha porta. Johnny estava encostado no carro de cabeça baixa com um cigarro na mão. Assim que fechei o portão ele levantou a cabeça. Em movimentos lentos jogou o cigarro no chão e pisou. Em seguida abriu a porta do carro ainda sem quebrar o nosso contato visual, e fez sinal para que eu entrasse. Eu o fiz. Era tão alto e confortavel ali dentro, coloquei o cinto. Estava um pouco frio por causa do ar condicionado. Johnny entrou no banco do motorista e se esquivou para o meu lado. Antes que eu pudesse respirar ele abriu o porta luvas e tirou um spray bucal de la. Voltou para o seu lugar, colocando do spray em sua boca. Colocou o cinto e deu partida sem falar nada.
Depois de alguns minutos ele ligou o som do carro e ouviu-se o som de 30 seconds to mars.
- hum bom gosto Sr. Johnny... - falei enquanto cantarolava 'Hurricane' mentalmente.
- obrigado, e apenas Johnny eu ja disse... - ele revogou. - e além do mais, acho que se fosse pra me tratar formalmente seria mais lógico ser Sr. Deep, não Sr. Johnny.
- isso é uma indireta?
- não. É uma aula de português formal.
- okay Sr. Deep.
- sem o senhor por favor. - ele falou agora sério, me calei.
Ele então vira a curva em uma esquina e entra em uma rua escura, cheia de árvores, e o Jared Leto gritava ardentemente no seu vocal.
- pra onde estamos indo?
- para o Paraíso. - ele respondeu simplesmente.
- mas o Paraíso não fica por aqui. - falei pensando que ele estava se referindo ao bairro Paraíso. Ele deu apenas um sorriso. Depois de algumas quadras ele virou à esquerda, mais uma quadra e vi uma cabana. Fiquei chocada. No centro de São Paulo não deveria haver um lugar tão maravilhoso como esses.Era uma cabana rodeada de árvores. Ele estacionou e quando notei, ja estava abrindo a porta para que eu saísse. Sem palavras desci do carro, olhei em volta, havia um jardim lindo, cheio de flores, um caminho de pedras nos guiava até a porta. Johnny segurou em minha mão e seguimos. - ao entrarmos fiquei mais surpresa ainda, o lugar estava lotado.
- Sr. Deep, seja bem vindo. - um jovem disse nos abordando.
- boa noite Afonso.
- Olá Johnny! - uma senhora forte disse vindo em nossa direção.
- Natália...- ele disse a abraçando. - essa é a minha amiga Naraya!
- Olá querida, é um prazer te conhecer. Você é privilegiada, pois esse cara nunca apresentou nenhuma mulher pra gente, nem mesmo a esposa. - ela disse rindo.
- é um prazer conhecê - la. E estamos em reunião de negócios, ele é o meu chefe. - falei esclarecendo.
- ahhh sim. Bem... acompanhe eles até sua mesa Afonso. - o jovem rapaz nos guiou até uma escada. Subimos alguns degraus e chegamos em um terraço onde não tinha ninguém. La havia uma mesinha redonda para dois, com um pequeno jarro com uma única flor branca. No chão haviam vários outros jarros de vidro, mas esses enormes e cheios de rosas vermelhas.
- vem. - Johnny disse segurando a minha mão e me levando para a beira do corrimão. A vista era linda... o jardim encantador, agradeço por estar uma noite clara. A lua estava brilhando forte e o céu estava forrado com estrelas. Atrás das árvores estavam os gigantes... os prédios da avenida Paulista. Era realmente uma visão incrível.
- a vista é linda. - falei enfim.
- nem só a vista. - Johnny disse me levando de volta para a mesa. Puxou uma cadeira para que eu sentasse e assim o fiz.
- então... vamos falar de negócio. - falei tentando parecer descontraída. Tentando.
- acalme-se Naraya... a noite é uma criança. - falou relaxado.
- é que... bem... depois daqui eu tinha planos...
- ah, claro me desculpe... estou atrapalhando os seus planos. O seu namorado deve está irado... - falou meio que rindo.
- não tenho namorado e... porque sinto que você... o senhor está debochando de mim? - disse séria.
- Não. Absolutamente não. Nunca pense isso Naraya. Eu jamais debocharia de você. Você é uma garota muito inteligente e interessante eu so... - ele parou.
- você só... - incentivei
- eu estava debochando do seu namorado, caso você tivesse. - eu, mesmo sem entender o porque ele faria isso, ri alto e ele me seguiu. Nos controlamos quando a senhora chamada Natália chegou até nós com uma garrafa de vinho e nos serviu. Saiu em seguida voltando a nos deixar à sós. Acho que depois de ela nos flagrar rindo desse jeito, não acreditará mais que seja uma reunião de negócios.
-me fale um pouco de você Naraya! -ele pediu tomando um gole da sua bebida.
- bem, eu, a... A minha vida não é nada interessante. - eu disse tentando tirar a atenção de mim.
- aposto que não. - ele provocou me olhando nos olhos. Esse homem possui um poder sobre mim que nem eu mesma consigo entender...
- okay. Tenho 21 anos, gosto da cor vermelha, adoro filmes de terror, pareço boazinha, mas ja passei muito trote por telefone... deixa eu ver o que mais... - ele estava rindo muito... - na faculdade interpretei o soneca na peça da Branca de Neve e os sete anões, eu prefiro pipoca doce, sou alérgica a abelhas e só. Acho que essa sou eu. - finalizei e tomei um pouco do meu vinho.
- ah Naraya, você é muito divertida, mas não era disso que eu estava falando, quero saber sobre a sua vida, amigos, família, passado... - ele disse e eu congelei com algumas lembranças... a estrada, os livros no chão, o gosto de terra com lágrimas, a dor... tentei respirar fundo e pensar no que a minha psicóloga me disse ha uns meses, "você não está no passado Naraya! O presente é o que importa, e ele você controla!"
-o presente é o que importa! - falei ríspido e ele baixou a cabeça parecendo entender. Logo ouvimos passos subindo as escadas, ficamos em silêncio, a senhora Natália se aproximou de nós com um único prato fechado com uma tampa de vidro.
- aqui está... Bom apetite!
- obrigado Natália! - Johnny agradeceu e ela se retirou. - bem... Naraya, hoje quero fazer com você o que nunca fiz com ninguem alem de mim. E pra isso preciso que confie em mim, você consegue?
- er... acho que sim. - respondi confusa.
- não queremos incertezas aqui minha cara, ou você confia ou vai ficar com fome. - ele disse divertido me fazendo tirar metade da tensão que estava em meus ombros...
- certo. Eu confio, não posso arriscar ficar com fome. - falei e ele riu mais.
- Naraya, Naraya, o que você ta fazendo comigo... - ele falou em um fio de voz suspirando, levantou e veio até mim, parou atrás da minha cadeira e fiquei arrepiada...
