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- Bom dia Ton! - falei sorridente entrando no elevador, ele estava de cabeça baixa.
- Oi... - disse simplesmente me deixando surpresa.
- tá tudo bem?
- ah... Sim... É só que depois do que aconteceu! Você sabe...- ele não pode terminar a frase, o elevador parou e a Sra Deep entrou. Ela nos cumprimentou. Depois ficamos em silêncio.
-Naraya na minha sala.- disse simplesmente quando chegamos ao nosso andar. A acompanhei escutando apenas o barulho dos seus saltos batendo no chão. Fiquei nervosa a princípio... ela estava muito séria, e as pessoas olhavam pra ela com medo, ou respeito. Fiquei confusa. Será que ela sabia sobre o senhor Deep? Ou sobre o Choi? Ou pior... sobre os dois! Eu não tive culpa... tentei ser profissional, os dois me cercaram de formas diferentes! Respirei fundo ao entrar na sala dela.
- feche a porta!- ela ordenou. O fiz, ela apontou para que eu sentasse.-pois bem, como já deve saber, meu marido sofreu um acidente ontem e... - fiquei em choque. Não ouvi mais nada. Só estava em choque.- Naraya você está me ouvindo?
- desculpe... Eu... Eu não sabia!
- Sim sim... ele estava com alguma vagabunda como sempre, infelizmente só bateu o carro depois que a deixou em casa... - estremeci.
- Mas como sabe disso?-tive audácia de perguntar.
- ah ela deixou um batom no carro dele. Uma cor que somente mulheres da noite usariam. Mas já estou acostumada com as supostas traições do meu marido, só não esperava ser humilhada assim, quando a polícia veio até mim com aquele batom... "achamos seu batom senhora" olhem bem pra mim! Mas enfim... Vamos ao que interessa. Você precisa de uma água? Parece pálida, tome! - ela me serviu um copo de água.
- Obrigada.
- Naraya eu olhei o seu portfólio quando você foi contratada e confio no seu potencial. Ton trabalha conosco há muito tempo e eu não poderia me desfazer dele... O meu filho iria assumir esse projeto, mas com o pai dele no hospital...
- ele está bem? O Sr Deep está... bem?- a interropi lembrando que não havia perguntado.
- ele está em coma. Não sabemos quando ou se vai acordar. O importante aqui, é que preciso que você assuma um projeto muito importante. Vou mandar Tom junto com você na primeira semana e pelo menos uma vez por mês ele vai lá te ajudar no começo, mas preciso saber se você está disposta a tomar essa responsabilidade Naraya... Você quer crescer nesse ramo?
- claro! Quero sim.
-então quero que você arrume as malas. No sábado você viaja pra Paris.
-O o qu... O que? - gaguejei.
- Paris, Naraya. Comandar a primeira filial da nossa revista em terras francesas.
-Mas... mas eu nem falo francês...
- Mas fala inglês, é só o que precisamos.-ela nem olhava mais pra mim procurava algo na gaveta. Eu estava atordoada nessa confusão. Pensava no Sr Deep e no Choi... como o Choi estaria se sentindo? Eu precisava falar com ele. Precisava o abraçar e dizer que está tudo bem. Também gostaria de mais detalhes sobre a situação do Sr Deep.
Abri minha boca pra perguntar quando a Sra Deep levantou a mão com o batom azul escuro da Rafaela. Paralisei. Nem lembrava que aquele batom estava na minha bolsa naquela noite...
- está vendo? É isso que os homens fazem Naraya... depois de tantos anos aturando os surtos e traições dele, - ela parecia triste, os olhos lacrimejavam enquanto ela olhava fixamente pro batom na sua mão, bem a minha frente. Eu ainda congelada.- depois de tanta dedicação, nem pude ser a última boca que ele beijou...- baixei a cabeça lamentando profundamente toda aquela situação... queria falar! Queria dizer a ela que eu era essa mulher e que não usei o batom naquele dia, mas isso era consolo? Fechei os olhos e tentei respirar fundo, procurei as palavras, mas antes que conseguisse falar, a porta se abriu.
- Deus, Choi! Bata na porta!- ela disse limpando o olho e escondendo o batom.
- Só quero pegar a chave do carro.-ele disse sério, Nem olhou pra mim. Fiquei desconsertada.
- e o seu?
- oficina.
- de novo? - os dois começaram uma discussão de família, sobre o Choi ser irresponsável dirigindo o próprio carro. Tomei um gole de água e fiquei de cabeça baixa esperando aquela cena constrangedora acabar.
Depois de alguns xingamentos discretos, "você é um irresponsável igual ao seu pai!", "Ele não é o meu pai. E nem você minha mãe!" Choi pegou as chaves e saiu batendo a porta.
- As coisas estão difíceis pra ele... - ela disse simplesmente e voltou a sentar. - Eu confio em você Naraya.- disse enfim erguendo a cabeça. Olhei pra ela, seus olhos tristes e desesperançosos.
- Não vou decepcioná-la. - falei tomando fôlego. Ela levantou e estendeu a mão. Fiz o mesmo. Nos cumprimentamos e assim que estava pra sair, ela me liberou, para ir pra casa e arrumar as coisas o resto da semana.
Eu não fazia ideia no que estava me metendo, mas minha consciência não suportaria dar mais uma decepção àquela mulher.
Peguei os meus pertences na minha sala, olhei para a mesa de Choi, tudo do mesmo jeito. Um livro jogado, uma luminária padrão de escritório, provavelmente presenteado pela mãe, um lápis sem ponta, um lápis com ponta, duas canetas pretas e a agenda que ele nunca abriu. Suspirei... achei que viveríamos muitos momentos constrangedores nesta sala, até termos que dizer adeus. Não fiquei brava por ele ter me ignorado mais cedo, nem imagino o que está se passando na mente dele... O pobre garoto está com o pai internado, em coma! Mesmo que os dois não se dão bem, ainda sim é o pai.
- Coucou! - Ton disse entrando na sala.
- hey... já sabe sobre Paris?
- é... soube sim. - falou perdido na sala. Terminei de arrumar minhas coisas na caixa e olhei pela janela, Ton e eu ficamos assim por um tempo, apenas olhando pela janela. Talvez ele estivesse vendo algo específico, mas eu só estava tentando gravar aquela vista na cabeça. Passei pouquíssimo tempo aqui, nem consegui decidir se gostava ou não de ver aqueles prédios.
- será que em Paris teremos uma vista melhor que essa? - devaneei. Ton demorou um pouco. Depois fungou e virou-se pra mim.
- você está preocupada com a vista de Paris?- olhei pra ele sem entender seu tom de voz.- num momento como esses e você pensando na vista... eu não sei se você percebeu, porra, mas o nosso chefe pode morrer a qualquer momento!
- Não eu... eu... - gaguejei- é que você chegou falando francês, achei que não queria falar sobre coisas tristes.
- sabe sobre o que eu gostaria de falar Naraya? - ele se aproximou de mim de forma agressiva. - eu gostaria de entrar naquela sala e falar para a Letícia com quem o marido dela estava ontem a noite.- disse seco me pegando de surpresa. Não consegui ter nenhum tipo de reação, só fiquei parada olhando nos olhos dele que não me traiam nem para piscar.- não se preocupe... - ele deu um sorriso malicioso e virou de novo para a janela, quem é esse e onde está o Ton?- eu jamais daria mais uma notícia ruim pra essa mulher... ela já passou por muita coisa. Por isso eu não disse nada sobre você ser incompetente pra esse projeto. Acho melhor você longe deles, de TODOS eles.- disse se virando pra mim e saindo.
Porra! O que foi tudo isso? De onde isso surgiu? Ele me ajudou a escolher o vestido, Tom me aconselhou a ir naquela suposta reunião de negócios. O que ele queria? Que eu dirigisse o carro pra ele, o deixasse em casa seguro nos braços da esposa? Por que ele tá me culpando?
Respirei fundo, e mentalizei as palavras da minha professora de Arte contemporânea, a professora Melina "Não confie, se confiar desconfie, se provarem confiança confie desconfiando.". Pode ter sido uma armação que foi longe demais? Balancei a cabeça espantando os pensamentos ruins. Não era hora de pensar nesse surto de um cara claramente bipolar. Era hora de garantir o meu futuro profissional, afinal, eu não precisava ficar tão preocupada com tudo isso, eu não os veria por um longo tempo... Olhei de novo para a mesa bagunçada e suspirei.
Fui para casa e passei o resto do dia fazendo minhas malas e tomando vinho. Já estava em um outro nível de sanidade quando alguém bateu na porta. Fui atender esperançosa...
- Rafaela... -murmurei a deixando entrar.
- Que recepção...
- desculpe... É que eu tô um pouco ocupada.
- sofrendo?
-o que? -olhei pra ela, que sentou no sofá em cima de algumas roupas.
- vamos analisar, você tá bêbada - tentei me defender, mas ela falou mais alto - com um monte de roupa no chão. Ouvindo The Joke desde 16h, que foi a hora que cheguei, então é possível que esteja ouvindo a brilhante voz de Brandi Carlile há muito mais tempo.
- eu acabei de colocar essa música. - murmurei sentando ao lado dela.
- já são 20:54. - ela disse olhando para o celular.
-o que? Nossa... eu nem vi o tempo passar...
- quer conversar?
- Não. Tá tudo bem.
- ah claro... você só tá se preparando pra fugir.
- é que eu fui promovida no trabalho. Vou ter que ir morar em Paris.
- nossa... Mas você podia estar feliz, ou eu não estou a par da nova forma de comemoração? - respirei fundo e levantei. Fui até a cozinha, vi que estava na segunda garrafa de vinho. Enchi uma taça pra Rafaela e completei a minha. Sentei no chão perto de mais algumas roupas.
- eu nem sei se lá faz tanto frio.- sorri jogando uma touca pro alto.
Contei o que havia acontecido. Eu não sabia o que estava sentindo, mas não era nada bom.
- vamos. Levanta!- Depois de um tempo ouvindo e suspirando ela se decidiu em me aconselhar dessa forma.
- Vamos onde?
- primeiro desligar essa música porque você tá saturado um clássico. Os vizinhos vão odiar a Brandi por muito tempo.-revirei os olhos e desliguei o som.
Saímos no carro dela, e eu ainda sem saber pra onde.
- onde estamos indo Rafaela? Eu não quero ir pra nenhuma balada...
- Não vamos.
- E então?
- Aqui. Vamos falar com algum médico e descobrir como ele tá.
-o que?- olhei pra o lado e estávamos entrando no estacionamento do hospital. - Rafaela não! Para agora. A esposa dele pode tá aí. Para! O Choi...
- eu preciso ir no hospital. Tomar minha injeção de Anticomcepcional. Então será uma grande coincidência se encontramos alguém...
- Rafaela...
- a receita tá aí no porta luvas. Não tô brincando.-ela tinha mesmo uma receita.
Rafaela desceu do carro e eu fiquei paralisada até ela abrir a porta.
- Eu não...
- Vamos ou você não vai conseguir dormir... nem viver... - ela estava certa. Desci do carro e a acompanhei com a receita na mão.
Entramos no hospital. Eu estava com medo.
-Rafa? -uma voz ressoou à nossa frente.
- Oi! Como tá?- um jovem enfermeiro a abraçou assim que chegamos a recepção.
- tô bem. E você grandona? - grandona? Ela era mais baixa que eu...
- precisando da injeção mágica.
- okay... vem comigo.
- ah, Martin, essa é a minha amiga Naraya, o chefe dela tá internado aqui... você sabe de alguma notícia, o nome dele é...
- Deep... Johnny Deep.-eu completei.
- venham comigo. - acompanhamos o jovem para uma área reservada. E por uma vitrine de vidro ele apontou para alguém com vários fios no corpo, um tubo de oxigênio no rosto e muitas telas ao redor da cama. Meu coração doeu... senti medo, me senti culpada e triste. Queria segurar na mão dele e conversar sobre cores...
- ele... ele tá morrendo?
- espero que não... -uma outra voz falou atrás de mim. Paralisei. - A minha mãe surtaria.
- Choi... Eu... a injeção... minha amiga a injeção...- gaguejei.
- Oi, Sou a amiga injeção. Bem, eu vou tomar um café com o Martin e... sabe... tomar a injeção. Te vejo no carro.- Rafaela disse me abandonando ali.
- me desculpe por hoje...
- tudo bem. Eu... eu sinto muito pelo seu pai.
- obrigado. Ele vai sair dessa. Vaso ruim não quebra. Vamos tomar um café?
- claro. - seguimos para a cafeteria do hospital.
- o café daqui é horrível, mas o cappuccino da pra engolir.
- cappuccino então. - falei. Nos sentamos.
Ficamos em silêncio por um tempo. Nada constrangedor, só avaliando as pessoas ao nosso redor.
- Choi, sua mãe me deu o projeto de Paris.
- eu sei. Ela conversou comigo antes. Eu falei que você é a pessoa ideal pra isso.
- Mas... era seu plano.
- era o plano do meu pai. Eu queria, mas sem ele aqui eu... eu só quero tá por perto pra ver o que acontece com ele.
- entendo. É uma oportunidade incrível pra mim, mas... eu pensei que... a gente tava começando a se conhecer e eu não queria te deixar sozinho nesse momento. - falei com toda sinceridade.
- Eu vou ficar bem.
- ele vai ficar bem?
- os médicos dizem que ele está se recuperando bem... talvez na semana que vem eles tirem ele do coma.
- que bom.
- Sim.
Ficamos em silêncio de novo. Tomei meu cappuccino.
- Choi, eu estava com ele.
- com quem?
- com o seu pai. Estávamos numa reunião de trabalho. Antes de eu sair com você. Essa noite.- ele respirou fundo e fechou os olhos, nessa ordem. Quando os abriu me encarou com um olhar aquecido, não sei se era raiva.
- eu sei.- disse simplesmente.
- sabe?
- não fique surpresa. O meu pai tem uma agenda. Eu li.
-Meu Deus... a sua mãe... Ela sabe?
- Não. Eu escondi.
- Choi... eu não... Ela acha que seu pai estava com alguma mulher... que ele estava traindo ela.
- ele estava.- Choi disse me deixando ainda confusa.
-depois que ele te deixou em casa ele foi encontrar a Rebecca. É a amante dele.- essa informação fez meu espírito deixar o corpo por um longo tempo. Tempo esse em que houve um silêncio como se não tivesse ninguém naquele lugar.
- Choi... eu sinto muito. - finalmente voltei a mim. Segurei a mão dele.
- você precisa fazer isso por mim. Acha que consegue Naraya? - ele segurou minha mão com carinho.
- o que?
- Paris. Quando o meu pai ficar bem eu vou e nós dois gerenciados juntos.-ele disse com um brilho nos olhos eu sorri. Me alimentei do seu rosto gentil.
- sim... eu vou te esperar.- Choi colocou sua outra mão no meu rosto, fechei os olhos e senti seus lábios contra os meus...

-Paris é linda!
- nem tanto... já estive aí.
- para Choi! Aqui é um lugar incrivelmente romântico!
- quando eu estiver aí com você vai ficar melhor.
- eu sei... não vejo a hora! Agora tenho que desligar, vou entrar no elevador.
- tá. Se cuida amor...
- beijo!
Desliguei o telefone e entrei no elevador.
- Segura!- alguém gritou em inglês, achei curioso, então segurei a porta.
- vem logo! Tem gente aqui! - o rapaz disse segurando a porta ele mesmo. Era um cara alto, cabelos pretos com roupas estilosa e um sorriso brotou no meu rosto quando percebi que era asiático. Lembrei do meu Choi. Outro asiático entrou no elevador e finalmente a porta se fechou.
- desculpe, eu não falo francês...
- nem eu.-sorri.
- ah! Graças a Deus. Obrigado por segurar e desculpe a demora. Meu amigo é... não sei a palavra em inglês.
- tudo bem. -sorri de novo. Até o jeitinho de falar deles me lembrava o Choi.
- fã?
-Oi?
- Você é fã?
- fã de que? - fiquei confusa.
- BTS.
- ah não... Eu só trabalho aqui... mas soube que eles virão pra uma sessão de fotos e... - parei por um segundo, fechei os olhos e olhei pra eles que estavam sorrindo.- vocês são os BTS né?- eles gargalharam, e eu também. - desculpem... Eu me chamo Naraya, sou a editora chefe. Achei que vocês eram um grupo maior.
-somos sete.- a porta do elevador abriu.
- ah, ótimo... ótimo... faltam alguns então.
- sim. Eles já estão aí, paramos pra tomar um café em um lugar agradável.
- Aqui é cheio desses lugares. - sorri.
- Naraya, você precisa autorizar a matéria.- Jannete disse me arrastando.
- tchau meninos, a gente se ver...
- Yoongi. - um deles disse.
- Taehyung- o outro também gritou.
Eu nunca Vou lembrar desses nomes. Pensei.

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