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A luz do sol filtrava-se pelas cortinas da pequena casa de Annie, tingindo o ambiente com um tom dourado e suave. Ela acordou com o som do despertador, mas o coração já estava pesado com a realidade que a aguardava. Um novo dia começava, e com ele, as mesmas rotinas que se repetiam há anos. Annie se espreguiçou, tentando afastar a sensação de que algo estava prestes a mudar.

Ao se levantar, vestiu-se rapidamente em sua roupa de dona de casa: uma blusa simples e uma calça jeans que já começava a ter os sinais do tempo. Olhou-se no espelho e viu os olhos verdes que sempre foram seu orgulho, mas hoje eles carregavam um brilho de tristeza que a incomodava. No fundo, uma voz sussurrava que algo estava errado, mas ela ignorou, como sempre fazia.

Na cozinha, o aroma do café fresco a envolveu enquanto ela preparava o desjejum. O barulho das xícaras e o tilintar do garfo contra o prato criavam uma sinfonia familiar. Lucas, seu filho de 8 anos, entrou na cozinha com o cabelo desgrenhado e um sorriso largo.

"Bom dia, mamãe!" ele exclamou, correndo até a mesa. Annie sorriu, seu coração se aquecendo com a energia do filho. "Bom dia, meu amor! Pronto para mais um dia na escola?"

Lucas assentiu, devorando os ovos mexidos e a fatia de pão que ela havia preparado. Enquanto ele comia, Annie não pôde deixar de pensar em como sua vida se resumia a esses momentos simples, mas preciosos. Ela era uma boa mãe, sempre se dedicando ao filho, mas a verdade sobre seu casamento começou a se infiltrar em sua mente como uma sombra.

"Você tem alguma tarefa especial hoje, querido?" ela perguntou, tentando manter a conversa leve.

"Vamos ter um concurso de ciências! Estou animado!" Lucas respondeu, piscando um dos olhos, como se a vitória já estivesse garantida.

"Eu sei que você vai arrasar! Depois me conta tudo sobre isso, tá bom?"

Depois do café da manhã, Annie vestiu Lucas com sua blusa favorita e o levou à escola. No caminho, conversaram sobre os amigos da classe e os jogos que ele queria jogar após as aulas. O sorriso dele era contagiante, e Annie se esforçou para manter o semblante alegre, embora a preocupação com Tom a consumisse.

Quando chegou à escola, deu um abraço apertado em Lucas. "Amo você, filho. Tenha um ótimo dia!"

"Eu também te amo, mamãe!" Ele acenou para ela enquanto corria para a porta da escola, e Annie sentiu um nó na garganta. O amor que sentia por Lucas era o que a mantinha firme, mas, ao mesmo tempo, a dor da traição de Tom a atingia como uma lâmina afiada.

Após deixar o filho, Annie dirigiu-se para casa, mas, ao invés de entrar, decidiu dar uma volta. O dia estava ensolarado, mas o calor do sol não conseguia dissipar a frieza que se instalara em seu coração. Ela precisava de um tempo para pensar, para entender sua vida e as escolhas que tinha feito.

Finalmente, a urgência da necessidade a levou até um bar que ficava a algumas quadras de sua casa. Ao entrar, a atmosfera era completamente diferente de sua vida cotidiana. O bar estava imerso em risadas e música alta, e a energia vibrante parecia convidá-la a deixar suas preocupações para trás.

Ela se sentou no balcão e pediu um drink, a mistura de álcool e frutas trazendo uma sensação de leveza que há muito não experimentava. Enquanto o líquido escarlate descia pela sua garganta, Annie se permitiu relaxar um pouco, fechando os olhos por um instante e esquecendo-se do mundo exterior.

Foi então que ele apareceu. Dante, um homem alto e imponente, com cabelos escuros e uma tatuagem serpenteando pelo braço. Ele parecia ter saído de um filme, e a atenção dele a fez sentir um frio na barriga. Ele se aproximou, seu olhar fixo nos olhos verdes dela.

"Posso me juntar a você?" ele perguntou, a voz profunda e convidativa. Annie sentiu um arrepio percorrer sua espinha e, sem saber por que, assentiu.

"Claro," respondeu, tentando parecer despreocupada.

Dante pediu uma bebida e logo estavam conversando, como se fossem velhos conhecidos. Ele tinha um jeito carismático e seguro, e isso a atraiu de imediato.

Um Grito SilenciosoOnde histórias criam vida. Descubra agora