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Annie sentia-se estranhamente à vontade ao lado de Dante. A conversa fluía de forma natural, como se as palavras fossem uma dança bem ensaiada. Ele falava sobre suas aventuras, suas viagens e a vida em geral, enquanto ela ouvia atentamente, absorvendo cada detalhe. A sensação de estar prestes a descobrir algo novo e emocionante era revigorante.

"E você? O que faz quando não está cuidando do seu filho?" Dante perguntou, inclinando-se para mais perto, interessado.

Annie hesitou por um momento. A rotina que a definia parecia tão monótona que não sabia como descrevê-la a alguém tão fascinante. "Eu... eu sou dona de casa. E, bem, cuido do Lucas. Isso ocupa a maior parte do meu tempo," ela respondeu, um pouco envergonhada.

"Isso é muito importante. Criar uma criança é um trabalho árduo, mas extremamente gratificante. Você parece uma mãe incrível," ele disse, e Annie sentiu as bochechas aquecerem.

Ela sorriu, mas a lembrança de Tom e de sua traição a atingiu como um raio. Era como se uma sombra tivesse cruzado sua mente, a lembrança de noites em claro, de discussões, de promessas quebradas. Mas, por um momento, ao olhar para Dante, ela conseguiu esquecer.

Dante continuou a falar, e Annie começou a se perder em seus olhos escuros. Ele era envolvente, e a maneira como ela se sentia na presença dele era algo que não experimentava há muito tempo. Era como se ele estivesse escutando não apenas suas palavras, mas também o que havia por trás delas.

"Você tem algum sonho que gostaria de realizar, Annie?" ele perguntou, quebrando o silêncio que se formara entre eles.

A pergunta pegou-a de surpresa. "Sonho?" Ela refletiu por um instante. "Bem, eu sempre quis escrever. Desde pequena, eu amava contar histórias. Mas com a vida que tenho agora, isso parece tão distante..."

"Por que não tenta? Pode parecer difícil, mas nunca é tarde para perseguir seus sonhos. Você só precisa dar o primeiro passo," ele disse, seus olhos brilhando com um entusiasmo contagiante.

As palavras dele ecoaram na mente de Annie. O que a impedia de escrever? O que a impedia de viver a vida que realmente desejava? Ela sorriu para Dante, sentindo uma centelha de esperança acender-se dentro dela. "Você tem razão. Eu realmente deveria tentar."

A conversa prosseguiu, e, à medida que os minutos se transformavam em horas, Annie começou a se sentir mais leve, como se estivesse se libertando de um peso que a acompanhava há muito tempo. As risadas foram se tornando mais frequentes, e a conexão entre eles parecia crescer a cada instante.

Quando o bar começou a esvaziar, Annie percebeu que precisava voltar para casa. O sol já se punha, tingindo o céu com tons de laranja e rosa. Era hora de buscar Lucas na escola, e a realidade de sua vida a aguardava, mas, por um breve momento, ela se permitiu sonhar.

"Dante, eu realmente gostei de te conhecer," ela disse, um pouco hesitante. "Obrigada por me fazer sentir assim, mesmo que por algumas horas."

"Eu também gostei, Annie. E se você quiser, podemos nos encontrar novamente. Eu adoraria ouvir mais sobre suas histórias," ele respondeu, com um sorriso que iluminou seu rosto.

Annie sentiu um frio na barriga. "Eu adoraria." Trocaram números de telefone e, com um último olhar, ela se despediu, saindo do bar com uma mistura de ansiedade e excitação.

Ao dirigir de volta para casa, Annie refletiu sobre o que havia acontecido naquela noite. A sensação de liberdade que sentira ao falar com Dante era algo que ela não experimentava há anos. Mas, ao mesmo tempo, a culpa começou a se instalar em seu coração. Seria correto se permitir sentir essa atração por outro homem? E se Tom soubesse?

Chegando em casa, encontrou Lucas sentado no sofá, jogando vídeo game. Ele olhou para ela e sorriu, e isso fez seu coração derreter. "Oi, mamãe! Você não vai acreditar na tarefa que temos que fazer sobre ciências. Precisamos fazer um experimento com água e gelo!"

"Oi, meu amor! Isso parece divertido! Vamos fazer juntos depois do jantar?" Annie respondeu, decidida a se concentrar em seu filho. Se houvesse alguma coisa que a mantivesse ancorada na realidade, era Lucas.

Um Grito SilenciosoOnde histórias criam vida. Descubra agora