4. 𝙲𝚊𝚖𝚒𝚗𝚑𝚘 𝚜𝚎𝚖 𝚟𝚘𝚕𝚝𝚊

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"Não me faça chorar bem agora que caprichei na maquiagem, desgosto é uma coisa, meu ego é outra, eu imploro que você não me envergonhe, filho da puta, por favor, por favor, por favor "

                      𝙿𝚕𝚎𝚊𝚜𝚎, 𝙿𝚕𝚎𝚊𝚜𝚎, 𝙿𝚕𝚎𝚊𝚜𝚎 - 𝚂𝚊𝚋𝚛𝚒𝚗𝚊  𝙲𝚊𝚛𝚙𝚎𝚗𝚝𝚎𝚛

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A noite descia pesada sobre mim, trazendo não apenas o manto escuro que cobria a cidade, mas também um peso interno que apertava meu peito. Sentada diante do espelho, no quarto apertado que me fora designado, a imagem refletida não parecia ser a minha. A maquiagem, meticulosamente aplicada, parecia uma máscara inexpressiva, distante do que eu sentia por dentro. As roupas justas e reveladoras, escolhidas para seduzir os olhares famintos de desconhecidos, pressionavam minha pele, como se fossem grilhões invisíveis. E, enquanto as risadas reverberavam lá fora, aqui dentro, só havia silêncio.

O que estou fazendo aqui? A pergunta ecoava na minha mente, insistente, cada vez mais alta. Sentia uma onda de pânico crescendo no peito, mas me forcei a afastá-la. Eu tinha feito uma promessa. Eu precisava do dinheiro. A minha irmã, presa naquela casa que era a personificação do inferno, dependia de mim. Tudo o que eu fazia, todo sacrifício, era por ela. Eu faria o que fosse necessário para tirá-la de lá, mesmo que isso significasse sufocar a voz interior que me gritava para parar. Não havia outra saída.

Porém, uma dúvida incômoda surgia em minha mente: Eu sabia realmente no que estava me metendo? As mulheres que me receberam naquela noite haviam sorrido para mim de forma enigmática, como se entendessem algo que eu ainda não compreendia. Elas pareciam confortáveis nesse mundo que para mim era sombrio e desconhecido. E eu, cada vez mais, me sentia afundando, sem chance de retornar à superfície.

Levantei-me devagar, as pernas trêmulas com o nervosismo crescente. O quarto, com suas paredes apertadas e a decoração fria, de repente se tornou opressor. Eu precisava sair, precisava sentir o ar novamente, mesmo que fosse o ar pesado da boate. Respirei fundo, tentando controlar o pânico, e com um último suspiro, caminhei até a porta. Ao abri-la, me deparei com o corredor iluminado apenas pelas luzes artificiais. Era um contraste gritante com o ambiente vibrante que sabia estar à minha espera lá fora.

Enquanto avançava pelo corredor, o som pulsante da música se tornava mais forte, uma batida surda que reverberava pelo chão e subia por minhas pernas. Cada passo me aproximava do desconhecido, e com ele, do destino que eu havia escolhido. As luzes da boate, quando finalmente atravessei o arco que separava o corredor do salão principal, eram quase cegantes. Cores vivas e saturadas dançavam no ar, enquanto as sombras das pessoas se moviam em sincronia com a música. Tudo parecia um caos organizado, uma confusão de luzes, sons e corpos que me envolvia, me sufocava.

O salão, antes vazio e quase inofensivo à luz do dia, agora estava abarrotado de pessoas. Corpos se moviam juntos, sensuais e despreocupados, ao ritmo da música, formando uma massa viva que pulsava de energia. As luzes vermelhas que dominavam o espaço davam à boate um ar de mistério, de perigo, como se qualquer coisa pudesse acontecer sob seu brilho rubro. Enquanto eu caminhava lentamente, sentia os olhares se arrastando sobre mim, avaliando, julgando, e cada vez mais me sentia como uma estranha à margem de um mundo que não compreendia.

Ao longe, vi James entrando na boate, seu andar firme e controlado, como se ele fosse o dono do lugar - o que, de fato, era. Mas naquela noite, ele não estava sozinho. Ao seu lado, caminhava um homem alto e imponente, cuja presença parecia dominar o ambiente. Seu corpo, delineado pela camisa preta ajustada, exibia tatuagens que subiam pelo braço exposto, contornando seus músculos como marcas de histórias não contadas.

Havia algo nele, uma aura hipnotizante, uma intensidade silenciosa que atraía olhares involuntariamente. Ele segurava um cigarro entre os dedos, levando-o aos lábios com uma calma meticulosa, como se o mundo ao seu redor não importasse. A fumaça escapava lentamente de seus lábios, flutuando no ar carregado da boate, e seu olhar, sempre distante, parecia analisar cada canto daquele espaço com uma atenção meticulosa.

Quando seus olhos encontraram os meus, por um instante, o tempo pareceu parar. Não havia sorriso, nenhum gesto, apenas um olhar firme que me atravessou. Aquilo foi o suficiente para que eu sentisse um calafrio subir pela espinha. Ele então murmurou algo para James, que sorriu de canto e acenou levemente com a cabeça, antes de seguirem para uma área mais reservada, onde as luzes eram mais baixas, quase invisíveis. O olhar do homem tatuado se desviou de mim tão rápido quanto veio, mas o impacto daquele breve encontro permaneceu.

Ainda absorvendo aquele momento, senti uma mão firme em meu ombro. O toque brusco me arrancou do meu transe e, ao me virar, encontrei o olhar duro de James. Seu maxilar trincado denunciava uma raiva mal contida.

- O que você está fazendo aqui, porra? - sua voz saiu em um sussurro áspero, carregado de irritação.

Meu corpo inteiro enrijeceu com o tom agressivo, mas eu não podia permitir que ele me intimidasse. - Me solta, não te interessa o que eu estou fazendo aqui - respondi, firme, tirando sua mão do meu ombro com um gesto decidido.

James me encarou, incrédulo, seu olhar passando de raiva a uma confusão mal disfarçada. - Você já tem uma porra de uma casa. Por que está na boate de novo, e ainda vestida assim? - Ele me analisou de cima a baixo, o desprezo transparecendo.

- Qual parte você não entendeu que eu preciso do dinheiro? - rebati, minha voz carregada de frustração.

Antes que ele pudesse responder, uma mulher loira se aproximou de mim com um sorriso malicioso. - Um homem se interessou por você. Vai querer? - ela perguntou, apontando disfarçadamente na direção de um homem mais velho, sentado em uma das mesas.

Segui seu gesto e me deparei com o olhar do homem. Ele aparentava ter pelo menos cinquenta anos, e a forma como me encarava me causou um desconforto imediato. Senti meu estômago revirar. Eu não queria aquilo. Céus, não posso fazer isso...

Antes que pudesse recusar, James deu uma risada zombeteira. - Olha só você, trabalhando como acompanhante de luxo. Quem diria... - Ele cruzou os braços, olhando-me com ironia.

Eu revirei os olhos, impaciente. - Fala logo o que você quer, James. Não tenho tempo pra isso - repliquei, sem esconder minha irritação.

Sua expressão mudou, ficando mais séria. - Tem alguém interessado em você. Uma proposta diferente. Vai te dar muito mais dinheiro. - Ele deu um gole em seu whisky, deixando as palavras no ar.

O dinheiro que eu precisava. Claro, havia um preço, mas o que quer que fosse, eu sabia que tinha que aceitar. Minha mente trabalhava freneticamente. Olhei ao redor e vi o homem tatuado novamente, me observando enquanto soltava mais uma nuvem de fumaça. Algo me dizia que aquilo estava relacionado a ele.

- Tudo bem. Eu aceito - falei, com uma decisão amarga.

James não demonstrou qualquer surpresa. Ele apenas me olhou por um momento antes de dizer com a voz fria:

- Boa sorte.

E, sem mais uma palavra, ele se afastou, deixando-me com uma sensação de que aquilo era apenas o começo de algo muito maior.

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HIDDEN NIGHT -  𝘑𝘦𝘰𝘯 𝘑𝘶𝘯𝘨𝘬𝘰𝘰𝘬 Onde histórias criam vida. Descubra agora