Capítulo Dois

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2 de novembro de 2004

O colégio estava em êxtase. Era época de interclasse, com provas finais e alunos ansiosos, pois no próximo ano seria a vez do ENEM. Para a jovem Rosamaria, porém, o único pensamento era o vôlei. Jogando pelo São Caetano, ela se dedicava ao esporte desde os nove anos, quando ingressou em um projeto local.

Enquanto isso, Camila se esforçava nos estudos para passar em Direito e continuar o legado da sua família. Desde pequena, acompanhava os pais em audiências, o que deixava pouco espaço para relacionamentos ou diversões. Os times das salas de Camila e Rosamaria eram rivais no vôlei, e os gritos de guerra ecoavam pelo ginásio. Embora Camila não fosse fã de esportes, adorava torcer pela sua classe.

Rosamaria, na quadra, brilhava, e seu desempenho começou a afetar a moral do time de Camila.

— Rosa pipoqueira! — gritou Camila, e a torcida a seguiu, fazendo ecoar os insultos.

Rosamaria sentiu o sangue ferver e seus olhos lançaram chamas na direção de Camila.

— Porra! — murmurou, exasperada.

Era o ponto decisivo que seu time precisava para vencer. A torcida gritava animada, e suas companheiras de time a olhavam com pena. Rosamaria respirou fundo e, ao fazer o saque, a bola voou com precisão, sem que as meninas do outro time conseguissem interceptá-la.

— Ganhamos, caralho! — exclamou, batendo no peito enquanto suas companheiras a cercavam em um abraço coletivo.

Camila, incrédula, assistiu à comemoração da jogadora, irritada pela derrota. Contudo, Rosamaria não conseguia tirar os olhos dela. Após algum tempo, decidiu ir atrás de Camila. Comprou um saquinho de pipoca na cantina e se aproximou da mesa onde Camila estava sentada.

— O jogo foi ótimo, não acha? — Rosamaria sentou-se ao lado de Camila, mastigando a pipoca enquanto a fitava.

— Você se acha muito, né, Rosamaria? Pelo amor — revirou os olhos.

— Quer dividir essa pipoca? Está com gosto de vitória — provocou.

— Eu queria é dar um socão na sua boca! Pra ver se você deixa de ser tão insuportável — respondeu Camila, já irritada.

— Você é muito nervosinha, né? — Rosamaria enfiou uma pipoca na boca dela. — Fica mais bonita de boca fechada.

Camila estava prestes a protestar, mas ficou quieta. Elas se encararam, a tensão evaporando, dando lugar a um nervosismo inusitado.

— Eu ainda vou casar com você — disse Rosamaria, sem pensar e sem desviar o olhar.

Atualmente

— Só as meninas? — perguntou Rosamaria, fixando os olhos em Camila.

— Sim, elas acordavam todos os dias cedinho só para te ver jogar — respondeu, sorrindo ao recordar. — Mas você não respondeu a outra pergunta.

— Ah, não sei o que vou fazer. Quero passar o máximo de tempo possível com as meninas, mas também não quero ficar longe do vôlei.

— Se pensa em levá-las para o Japão, pode tirar essa ideia da cabeça — protestou Camila.

— Não! Elas já estão habituadas à cultura, à culinária e à escola daqui. Seria uma mudança muito grande — Rosamaria tomou um gole de suco. — Vou tirar um tempo após as Olimpíadas e aproveitar com as meninas.

— Tá tudo bem? — Alice e Helena entraram, de mãos dadas, e se sentaram à mesa.

— Tudo sim, filha — Camila sorriu, mas com um semblante fraco.

— Minhas batatinhas já chegaram, mamãe? — Helena perguntou animada.

— Ainda não, princesa — Rosamaria fez carinho na cabeça da filha. — E o time da sua escola, Alice?

— Está ótimo! A técnica disse que sou a melhor oposta que ela já viu — disse, cheia de orgulho.

— Que ótimo, filha! Estou muito orgulhosa de você.

— A Alice fez um trabalho incrível nos jogos entre escolas, né? — Camila interveio.

— Ela deu bolada na cara das outras meninas — Helena comentou, e todas riram.

O almoço seguiu tranquilo, com Camila e Rosamaria trocando olhares. Havia sentimentos de ambos os lados, mas ambas eram cabeçudas demais para admiti-los. Camila estava em um relacionamento confortável com Rafael, e Rosamaria se concentrava em suas filhas e em descansar.

Alice e Helena foram para a casa de Rosamaria, onde brincaram, assistiram a filmes, e agora Helena dormia enquanto Rosamaria conversava com Alice na sala.

— Eu adorei o almoço de hoje. Fazia tempo que não via vocês juntas — disse Alice, aconchegando-se nos braços da mãe.

— Você sabe que, independente de tudo, eu e Camila somos suas mães e te amamos muito, né? Mas como casal, não funcionamos mais.

— Eu sei — Alice suspirou, parecendo chateada. — Fazia tempo que não via ela feliz assim.

— Como assim, filha? — Rosamaria perguntou, intrigada.

— Esses dias eu a vi tomando um remédio escondido. Pesquisei o nome e é um antidepressivo. Tudo começou quando ela conheceu o Rafael.

— Sua mãe nunca foi de tomar remédios — disse Rosamaria, preocupada. — E vocês gostam do Rafael?

— Ele nunca se importou muito conosco. A Helena não repara, mas eu não gosto dele. Sinto que ele não faz bem pra minha mãe — Alice falou com sinceridade, fazendo Rosamaria acariciar o cabelo da filha. — Eu sei que vocês não estão mais juntas, mas cuida da minha mãe? Tenho medo de acontecer algo com ela…

— Eu farei o possível — Rosamaria disse, beijando a testa da filha.

— Rosamaria! — A porta do apartamento se abriu com uma loira animada, que sorriu ao ver Alice.

— Madrinha! — Alice correu e a abraçou apertado.

— Cuidado para não quebrar os ossos dela, filha. Nessa idade, qualquer movimento brusco quebra a velha — Rosamaria provocou, e logo abraçou a amiga.

— Eu não falo nada pra você, viu? — Carol riu em negação.

Do outro lado da cidade, Camila estava em casa com Rafael, deitados juntos e bebendo vinho.

— Não fui almoçar com você porque estava com as meninas. Acabei esquecendo de avisar.

— Você também estava com sua ex-mulher — ele disse, sério.

— Ela é a mãe das minhas filhas, temos um laço eterno. Mas não sinto mais nada por ela, você sabe que te amo e quero estar com você — Camila afirmou, dando um beijo no rosto de Rafael.

— É até bom que ela fique com as meninas, assim podemos aproveitar mais — isso deixou uma pulga atrás da orelha de Camila, que apenas assentiu.

Camila conheceu Rafael um ano após o divórcio. Ele assumiu o escritório de advocacia do pai e, com isso, se aproximou dela. No início, ela não deu bola, mas acabou aceitando sair com ele. Não havia a mesma conexão que tinha com Rosamaria, e essa ausência a incomodava, mas o medo da solidão a fez permanecer.

— Hey, não vamos fazer nada hoje… — Camila disse enquanto Rafael a beijava no pescoço.

— Fique quieta, Camila. Apenas aproveite — ele ordenou, firme.

Camila silenciou. Ela não conhecia esse lado de Rafael e decidiu obedecer.

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Espero que estejam gostando da história! Estou postando alguns edits e spoilers no Tiktok: @/  montibellergf! Beijinhos. ❤️

Amor em jogo - Rosamaria Onde histórias criam vida. Descubra agora