Capítulo Cinco

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O dia na casa de Carol e Anne foi repleto de momentos agradáveis. Entre risadas, brincadeiras e conversas leves, havia também os olhares trocados entre Camila e Rosamaria, carregados de algo que ambas ainda relutavam em admitir. As meninas, Alice e Helena, também se divertiram tanto que acabaram ficando para o almoço, onde o clima era de descontração e familiaridade.

Quando a tarde chegou ao fim, a chuva começou a cair, e como Camila estava sem carro, Rosamaria se ofereceu para levá-las de volta para casa. No caminho, Helena adormeceu no banco de trás, o rosto sereno e os pequenos cachos colados na testa pela umidade do ar.

Ao chegarem, Rosamaria, com um gesto quase automático, pegou Helena nos braços, carregando-a com cuidado para dentro da casa. O calor do corpo da filha a fez lembrar dos tempos em que aquele lar ainda pertencia às duas, antes da separação. Agora, a casa parecia diferente - o ar de lar que antes preenchia o espaço parecia ausente, e a chuva tamborilando nas janelas apenas acentuava a solidão que o lugar transmitia.

- É melhor você ficar um pouco. A chuva está forte - disse Camila, a preocupação estampada no rosto enquanto olhava a tempestade pela janela.

Rosamaria hesitou, ainda incerta se sua presença ali seria bem-vinda. - Não vai te atrapalhar? - perguntou, tentando não transparecer o desconforto.

- Nem um pouco - Camila respondeu, um leve sorriso nos lábios enquanto se sentava no sofá, fazendo um gesto para que Rosamaria a acompanhasse.

Do andar de cima, Alice observava a cena com os olhos brilhando de expectativa. Escondida nas escadas, ela assistia em silêncio as mães interagindo. Ao perceber que Rosamaria havia aceitado o convite, a menina subiu correndo as escadas, empolgada.

Entrou no quarto de Helena, que ainda estava debaixo das cobertas, mas agora já com os olhos abertos, espiando.

- Eu disse que iria dar certo, Lena! Nossas mães estão no sofá conversando - Alice sussurrou, animada, enquanto fechava a porta com cuidado.

Helena soltou uma risadinha, ainda fingindo sono, mas sem conter a felicidade. - E o melhor... eu não tive que andar nadinha! - Elas riram juntas, cúmplices no pequeno plano de unir as mães.

Rosamaria observava a sala com um olhar distante. O cheiro familiar ainda estava lá, mas a sensação de lar que antes preenchia aquele espaço parecia ter se dissipado. Ela se sentou no sofá, ao lado de Camila, sem saber exatamente como começar. O silêncio entre elas não era desconfortável, mas carregava o peso das palavras não ditas.

Camila cruzou os braços, olhando para fora, para a chuva que caía forte contra as janelas.

- A casa parece diferente agora... - comentou Rosamaria em voz baixa, quebrando o silêncio. Seus olhos vagavam pelas paredes, onde antes fotos de momentos felizes preenchiam o espaço. Agora, apenas algumas molduras restavam, como vestígios do que foi.

Camila suspirou, seus dedos brincando nervosamente com a manga da blusa. Ela sabia que aquela frase não se referia apenas à casa. - Sim... eu mudei algumas coisas - respondeu, a voz suave, quase como se não quisesse que as palavras saíssem. Ela desviou o olhar de Rosamaria, fixando-o no chão, como se estivesse buscando algo para segurar. - Eu também mudei, acho.

Rosamaria sentiu um aperto no peito. As palavras de Camila ecoaram de maneira profunda. Ela sabia que as mudanças iam muito além da decoração da casa. - Todos nós mudamos, não é? - disse em um sussurro, quase como se estivesse falando para si mesma.

Camila deu um leve sorriso, mas não era um sorriso alegre. Era um sorriso cheio de saudade, de coisas que ficaram para trás. - É... o tempo faz isso. Ele passa, e a gente vai se adaptando. Às vezes, nem percebe como as coisas mudam até olhar para trás.

Amor em jogo - Rosamaria Onde histórias criam vida. Descubra agora