Neil

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A casa é horrível sem Kevin ou Andrew nela. Sem ninguém nela além de Neil, sua mãe distante e seu pai aterrorizante. Neil tenta voltar a assombrá-la, atravessando paredes para evitar ser visto, deixando tudo que toca exatamente onde estava, mas não funciona. Foi um calo que o deixou fazer isso, uma barreira de pele morta de mais de quinze anos entre ele e o mundo, mas agora se foi. Tudo está sensível novamente. Talvez mais do que sensível. Ele tem se mantido na água e funcionou, funcionou por muito tempo, mas ultimamente - ultimamente ele não consegue se livrar da sensação de que sua pele se abriu em algum lugar, cheirando a água, chamando os predadores para mais perto.

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— Sinceramente, não acredito que você escolheu esse filme — Andrew diz.

— Estava em uma lista —, diz Neil. — A internet disse que era engraçado.

— A internet diz que a Terra é plana —, Andrew aponta. — A internet diz que Elvis Presley está vivo e bem e ensinando vôlei de praia em Key West.

— Não percebi que esse filme estava no centro de uma elaborada teoria da conspiração.

— Você verá —, Andrew avisa sombriamente.

— Existem mensagens subliminares? O Casamento do Meu Melhor Amigo vai me convencer a cometer assassinato em massa?

— Você precisa ser convencido para isso?

— Provavelmente não. Depende. — Neil considera.

— Ele vai tentar te convencer a assistir mais filmes de Cameron Diaz. Você tem seus fones de ouvido?

— Sim.

— Vou colocar para nós.

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— Você vê isso? — Nathan exige, sacudindo um livro de amostras na frente do rosto de Neil. As bordas batem contra seu nariz, fazendo-o ter que espirrar.

— Sim, senhor — diz Neil.

— Você sabe o que isso significa?

— Sim, senhor — diz Neil.

— Bem, então me diga. — Nathan joga as amostras na mesa ao lado dele e cruza os braços, uma sobrancelha erguida friamente.

— A festa é importante — diz Neil. — Não vou envergonhar você.

— Você já fez sua escolha? — ele pergunta.

— Ainda não — Neil diz calmamente.

— Não deveria ser sua. Não consigo imaginar por que concordei com isso. Você provavelmente vai escolher um dos homens, não é?

Neil fica quieto, mas abaixa um pouco a cabeça em sinal de reconhecimento.

— Ouvi dizer que Minyard e Day estavam entrando e saindo do seu quarto. Talvez você possa ser um pouco útil para um deles.

Neil se abaixa um pouco mais.

— Estou falando com você — Nathan retruca. — E o pirralho Moriyama?

— Não — Neil diz, balançando a cabeça. — Senhor.

O desgosto de Nathan é palpável, indisfarçável. Ele escorre de sua voz quando ele diz:

— Não era assim que eu queria me livrar de você. Você deveria agradecer à sua mãe por sair daqui sozinha. Talvez.

Isso não requer uma resposta. Neil assente, mantém os olhos fixos nos sapatos do pai.

O Solteiro de BaltimoreOnde histórias criam vida. Descubra agora