CAPÍTULO 8

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Pov Valentina

Quando acordo, estou nua e sozinha na cama, Luiza tem me deixado louca em todas as vezes em que me faz acordar sem tê-la por perto. Alguns dias se passaram desde o passeio no parque e a noite que fez com que Luiza finalmente entendesse que eu não estaria indo embora como todos os parceiros e parceiras, que ela já teve, fizeram. Porra, eu sou filha de um mafioso russo, e se tem algo que eu aprendi com o bastardo do meu pai, é que se nós temos algo que vale mais do que nossos dólares no banco, isso é a nossa palavra ou temos palavra ou não temos nada.

Aprendi com a convivência, que Luiza é alguém encantadora, mas que, ao mesmo tempo, me deixa louca. Ela me deixa ter seu corpo todas as noites, seja em seu apartamento ou no meu, mas fora isso eu não tenho acesso a mais nada, ou pelo menos é isso o que eu penso. Não me deixa acompanhá-la até a clínica onde será feito o aborto, nas consultas psicológicas que a clínica disponibiliza, e Gabriel, sendo o irmão fiel que é, não me fala absolutamente nada. Sei que eu não posso me prender a isso, mas até roupa de bebê na internet eu tenho visto para comprar, tenho falado com ela sobre a criança, tenho tentado ser a amiga que me dispus a ser, mas é difícil quando o que eu tenho é apenas seus gemidos em meio aos lençóis.

— Porra! — Me levanto e vou até a cortina, abrindo só um pouco para conseguir ver se já é dia, o sol ainda está entre as nuvens, o que indica que nem seis horas da manhã ainda é, e ela já foi embora. — Mulher difícil! — Me dirijo ao banheiro, quando escuto meu celular tocar em algum canto do quarto, o encontro no bolso da calça que eu usava na noite anterior. — Valentina!

Ligação on

G: Preciso de ajuda! — viro o visor para saber quem está falando e vejo o nome do Gabriel na tela.

V: O que foi?

G: Luiza chegou há duas horas em casa reclamando de cólicas, dei um remédio para ela e melhorou um pouco, mas fui agora até seu quarto ver como ela está, e ela está sangrando e pedindo por você.

V: Chego aí em pouco tempo.

G: Não, não vou esperar aqui, só liguei pra te avisar, mas eu estou levando ela pro hospital.

V: Encontro você lá!

Desligo o aparelho e, mesmo precisando urgentemente de um banho, me recuso a demorar mais que o necessário. Pego uma roupa limpa no closet, calço meus coturnos e ligo para os seguranças.

Ligação on

V: Eu estou descendo!

Segurança: Aonde vamos?

V: Para o hospital onde o Gabriel trabalha, Luiza não está bem.

Segurança: Entendido.

Ligação off

O caminho até o hospital é feito em silêncio, o homem de confiança do meu pai e meu segurança, desde que eu fui colocada como braço direito dele, me olha pelo espelho retrovisor como se tivesse algo a falar.

— Fala Diego, consigo ver a fumaça saindo da sua cabeça.

— Você se importa mesmo com essa moça, não é?

— Muito, até mais do que eu gostaria de admitir, por quê?

— Você precisa contar ao seu pai, Valentina, o risco que ela corre, andando por aí sozinha, é algo com o qual você não vai querer lidar.

Respiro fundo e me afundo no banco do carro, ele está certo, no entanto, é difícil. Meu pai é alguém com a cabeça velha demais para entender alguns assuntos, e um deles é o aborto, quando não há abuso e etc. Ele está sofrendo muito, agora que descobriu sobre o Igor, pois a mãe dele havia dito que tinha abortado ele para o manter longe. Sei que uma história não tem nada a ver com a outra, mas são marcas que o velho está tendo que lutar agora e, se eu abrir a boca para falar, ele vai saber qual é a minha vontade, ele vai sentir. Por que ao contrário do que muitos pensam, Marcos sempre foi um bom pai, duro, às vezes, mas um bom pai.

Você merece ser amadaOnde histórias criam vida. Descubra agora