CAPÍTULO 1

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Pov Luiza

Porra, o bastão do teste está com dois risquinhos.

Estou a ponto de surtar. Como pude ser tão irresponsável? Como pude ser tão inconsequente? Merda, eu já tenho quase trinta anos.

— Lu? Está tudo bem?

— Já estou saindo, Bernardo, Eduarda está com você?

— Sim, saia daí e vamos brincar. — Seu tom malicioso não me passa despercebido, mas no momento, o que menos quero é “brincar”, já que pelo teste em minhas mãos eu já brinquei até demais.

Puta merda, eu sempre tive uma vida livre, nunca fui de me prender a algo ou alguém. Amo a minha família, mas na primeira oportunidade que tive, comprei um apartamento do outro lado da cidade para que eles não pudessem interferir na maneira como gosto de viver a minha vida. E ela é assim, pessoas vem e pessoas vão, e eu amo o quão livre eu continuo sendo, independentemente dos meus parceiros sexuais ou dos amigos que acumulei ao longo dos anos.

Resolvo sair e tirar o elefante cor de rosa da sala de uma vez por todas. Sou uma mulher independente, tenho meu trabalho na empresa da minha família, não vou falar que sou rica, mas posso afirmar que, devido a minha profissão, eu vivo tranquilamente bem, tanto financeira quanto profissionalmente, já que faço o que amo. Só nunca me achei como alguém maternal, tenho irmãs que são ótimas mães, mas nunca me vi como uma delas. E isso não é por não amar essas coisinhas pequenas, e, sim, por não me ver pronta para me doar cem por cento a alguém que não seja eu mesma.

Egoísta?

Talvez, mas é assim que eu enxergo a minha vida.

— Que cara é essa, Luiza? — Eduarda pergunta, vindo até mim. — Você está pálida, está se sentindo bem?

Eu respiro fundo e me deixo ser guiada até o sofá, onde eu me sento e afundo, olhando para as duas pessoas que têm feito parte da minha vida nos últimos meses.

— Bem, eu não sei, só sei que eu estou grávida.

As reações são diversas, Bernardo gargalha, Eduarda está séria.

— Nós não podemos, Luiza … estamos em um mochilão pelo mundo, nunca pensamos… isso não pode estar acontecendo…

— Quê? Você está acreditando nela, Eduarda? Esse filho não é meu, não pode ser meu.

O homem alto, com aparência desgrenhada — mas que o deixa ainda mais bonito — fala, enquanto seus olhos azuis me encaram. Desse ponto em diante eu sabia que estaria por conta própria, e que a decisão, do que fazer, caberia somente mim.

— Não quero e não preciso de nada vindo de vocês, só falei para que soubessem. Quando saírem, fechem a porta, quem está grávida sou eu, então quem vai dar um jeito nisso também será eu.

Sigo para o meu quarto e a primeira coisa que faço é montar uma mala, já com um plano sendo formado na minha mente, sou adulta e dona do meu nariz, e agora é a hora de tomar uma atitude, enquanto é tempo.

Decidir ir para os Estados Unidos, longe de todos que eu amo foi fácil. A decisão de continuar ou não com essa gravidez dependia somente de mim e eu precisava fazer isso longe das vistas daqueles que me amam. Meu irmão Gabriel mora lá, é médico, e tem facilidade de me conseguir o que eu quero. E ainda temos o adendo da minha família jamais saber sobre isso, não suportaria os julgamentos nos olhares deles.

A viagem foi péssima, eu, o tempo inteiro, enjoada e com mal estar. Tive sorte do Gabriel só ter percebido algo quando já estávamos prestes a pousar, eu não tinha condições emocionais de falar sobre isso naquele momento. Os sentimentos conflitantes, de ter uma parte de mim crescendo em meu ventre e a falta de vontade de ser mãe, estão duelando fortemente.

E eu mal sabia o que iria encontrar no meu primeiro dia em Nova Iorque.

Você merece ser amadaOnde histórias criam vida. Descubra agora