EXTRA

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— Luiza! — grito assim que chego em casa, deixando as coisas do escritório e meu celular em cima da mesa de entrada. Caminho pelo andar de baixo, indo até a cozinha e não a encontro. — Amor, onde você está?

— Aqui... — Escuto um suspiro vindo do quarto dos bebês, assim que termino de subir as escadas.

Porra, o que está acontecendo? Meus pelos se arrepiam, lembrando do sequestro do Gabriel dois meses atrás e da quase tentativa de ataque que tivemos mês passado. Saco minha arma e vou de encontro ao som que escutei, quando abro a porta e a encontro no canto abaixada com a mão na barriga e uma expressão de dor.

— Porra, Luiza, o que foi? — guardo minha arma no momento em que noto que estamos sozinhas.

— Acho que vou ter os bebês!

— Agora? Mas ainda não está no tempo! Cadê os papéis? Já ligou para o médico?

— Valentina? — ela grita mais forte, e eu a encaro, me aproximando e a tocando, assim finalmente me acalmo e deixo que ela me guie. — Preciso que pegue as malas dos bebês e a minha, eles vão nascer... — um choramingo de dor... e eu sinto ela esmagar minha mão entre a dela. — Não vai dar tempo de chegar ao hospital.

— Amor, vem, nós precisamos ir.

A amparo em meus braços e a ajudo caminhar até às escadas, quando descemos, e eu consigo ver a porta de entrada, um sentimento de alívio me toma e eu só recito o mantra de que estamos perto. Ο caminho para o hospital foi o mais longo da minha vida, Luiza não parava de se contorcer e gritar, eu não sabia se ia rápido ou se ia devagar, mas quando finalmente chegamos, a equipe médica já veio nos receber e o alívio de que tudo daria certo me atingiu novamente.

Daqui para frente eu fui apenas uma espectadora do show de força e coragem que Luiza teve. Quando chegamos já era tarde para o parto cesárea, pois um dos bebês já estava quase nascendo, foi só o tempo de chegarmos e ela trocar de roupa para ser encaminhada para a sala de parto. Quando eu escutei o primeiro choro foi como se meu mundo parasse por alguns segundos e só existíssemos eu e o pacotinho cor de rosa que a enfermeira colocava em meus braços, quando o segundo pacotinho rosa veio para o meu colo, eu não resisti e chorei, tamanha a emoção que foi ter as duas em meus braços. A enfermeira me ajudou a mostrar para a mãe, que estava emocionada ao ver os filhos pela primeira vez. Foi aqui, ao lado da Luiza, vendo seu sorriso cheio de lágrimas, que eu me senti pela primeira vez mãe dos bebês e parte de algo gigantesco que nossa família se tornava...

— Eu te amo, Luiza, e eu irei proteger vocês com a minha vida.

Aqui eu estava despida de toda a armadura que meu pai e o conselho me fez criar, aqui não estava a Valentina durona, filha de um mafioso. Aqui eu estava como mulher e mãe, posso dizer que os meses ao lado da Luiza foram tudo, menos monótonos, ela é a chama de fogo e felicidade que faltava na minha vida e foi através dela que construímos não só nosso lar como um lugar acolhedor para os gêmeos chamarem de casa.

Tudo se tornou melhor quando conheci Luiza e mesmo com tudo o que aconteceu, eu sei que com o passar do tempo as coisas só tendem a melhorar. Eu, por agora, só quero tempo para curtir a minha família em paz, ao lado do amor da minha vida.

Nós tivemos que lutar para estarmos juntas, mas, mais do que isso, Luiza me deu forças para enfrentar o conselho e não apenas assumir meu lugar de herdeira de direito como para mostrar a eles que não é por quem eu amo ou deixo de amar que serei menos do que eles acham que eu sou. Luiza me ensinou que mesmo que o mundo diga que ser lésbica é errado, os errados são eles por pensarem dessa forma. Amor é amor independente de com quem seja, e nós merecemos respeito, nossa família merece respeito.

Fim... ou talvez o começo?

Você merece ser amadaOnde histórias criam vida. Descubra agora