Clara.
Fui até o banheiro no fundo da quadra, tinham pessoas falando ali, olhei para o lado e eram dois homens, entrei no banheiro e me olhei no espelho e ele apareceu atrás de mim.
— Eu não sabia que você participava desses eventos. — Voltei a lavar a mão.
— Não participo, fui obrigada. — Terminei e sequei a mão com o papel e joguei ele no lixo, me virei pra ele que se aproximou e sorriu. — Você tinha que estar descansando.
— Eu tava, ai me avisaram que você estava aqui. — Bruno passou a mão no meu rosto e encostou nossos lábios. — Você leva jeito, to impressionado.
— Você acha? — Perguntei sorrindo e ouvi a porta abrir e foi tudo rápido, olhei e era minha mãe, bati no braço machucado dele. — Nossa, você tem que tomar cuidado, olha essa ferida.
— Porra, ta maluca? — Ele falou e eu virei o braço dele.
— Olha mãe, esse ponto parece ter sido feito recentemente, vai inflamar se ele ficar andando assim, não acha? — Minha mãe olhou pra gente sem entender nada.
— Qual foi? Do nada? — Ele falou sem entender.
— É bom fazer um curativo, se tiver algo por aqui posso fazer. — Mamãe falou e me afastei dele dando passos para trás.
— Vou ver se encontro alguma farmácia por aqui. — Sorri e sai do banheiro, os dois ficaram me olhando e respirei aliviada quando sai do banheiro.
Fui andando desviando das pessoas, vi um grupo de crianças dançando em um canto e fui até elas, fiquei observando eles dançarem e fui até a caixa de som, coloquei um funk leve e sem palavrões, então comecei a dançar com as crianças.
Ensinei alguns passos a elas e depois as deixei se divertindo, minha mãe já tinha voltado do banheiro e estava conversando com o Bruno, olhei para ele e ele me olhou, ficamos nos encarando até ele sorrir pra mim e eu retribui.
Quando percebi que já estava ficando escuro, os brinquedos já tinham sido levados e as barracas de comida também, minha mãe se aproximou de mim, e eu estava com as crianças que ainda não foram embora, prometi a eles que voltaria de novo com todas as coisas e brincadeiras de novo.
— Vamos, meu amor? — Minha mãe disse e eu me levantei.
— A gente podia fazer isso sempre né. — Falei e ela me abraçou. — Olha pra eles, mãe a gente pode tentar mudar a história de pelo menos metade dessas crianças.
— Você sabe que isso não depende de mim, e sim do seu pai. — Ela sorriu e começamos a andar pro carro. — Mas é linda a sua iniciativa, meu amor.
— Vou falar com ele. — Fomos para o carro e depois para casa, chegamos e meu pai ainda não tinha chegado.
Fui para o quarto, tomei banho e coloquei a roupa pra dormir, desci pra sala de jantar e me sentei com minha mãe, a mesa ja estava posta, começamos a jantar e não demorou muito meu pai chegou, ele se sentou com a gente e minha mãe foi contando tudo o que aconteceu, como foi e me mantive em silêncio.
— O que achou Clara? — Ele perguntou e voltei meu olhar pra ele.
— Gostei, acho que podíamos fazer isso sempre pra eles, as crianças precisam disso. — Ele limpou a boca e sorriu. — Pai, eu posso dar aula de dança pra eles, a dança pode tirar eles da favela, do tráfico.
— Não, Clara, a gente não pode. — Olhei pra minha mãe sem entender e ela abaixou o olhar, então voltei a olhar para ele. — Eles precisam estar ali, eu preciso de pessoas como eles, pobres e sem futuro, qualquer bala que eu der, eles vão aceitar e ainda votar em mim, então não posso tentar ensinar eles a ter uma vida boa.
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Princesa no Alemão
RomanceEla se vê presa entre dois mundos opostos: a vida certinha da Zona Sul e o caos apaixonante do Alemão.