O Último Adeus

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Dan, Liz e Daniel se sentaram em volta de uma pequena mesa na cabana, com um mapa desdobrado à sua frente. A notícia do abrigo deu a eles um sopro de esperança, mas ao mesmo tempo, a realidade da distância os atingiu com força. As coordenadas anunciadas pelo rádio indicavam um ponto a cerca de quatro dias de caminhada, uma jornada longa e repleta de incertezas. Seria uma aposta arriscada.

Dan, ainda com o semblante sério, passava o dedo sobre o mapa, traçando o caminho que precisariam seguir. A promessa de um lugar seguro parecia oferecer conforto, mas ele não conseguia evitar a sensação incômoda de que algo estava errado. Anos de treinamento o fizeram desconfiar de situações que pareciam boas demais para ser verdade, e essa era uma delas.

— Quatro dias, no mínimo, — Dan disse, finalmente quebrando o silêncio. — E vamos precisar ser rápidos. Não podemos correr o risco de sermos pegos no meio do caminho sem abrigo.

Daniel, observando o mapa de perto, assentiu. — Quatro dias é muito tempo... mas é melhor do que ficar aqui. Se ficarmos, seremos encurralados mais cedo ou mais tarde.

Liz, que permanecia em silêncio enquanto ouvia os dois discutirem, olhou para Dan com determinação. — Precisamos ir. Temos que tentar. Aqui não é mais seguro, Dan. Nós temos comida para nos manter por uns dias, e se conseguirmos chegar lá, pode ser a nossa única chance.

Dan suspirou profundamente. Ele sabia que eles estavam certos. Continuar na cabana, por mais segura que parecesse por um momento, não garantiria sua sobrevivência. Mais cedo ou mais tarde, seriam cercados novamente. E a verdade era que, se houvesse um abrigo, eles precisariam arriscar tudo para chegar lá.

— Eu sei, — ele respondeu, fechando o mapa. — Vamos seguir as coordenadas, mas com cuidado. Se houver qualquer sinal de perigo, a gente recua. Não podemos nos arriscar a chegar tão longe para acabar em uma armadilha.

Liz e Daniel concordaram com a cabeça, prontos para o que viesse pela frente. Mesmo com o medo e a incerteza que pairavam sobre eles, a promessa de segurança era algo difícil de ignorar.

— Certo, — Dan se levantou e começou a organizar o pouco que tinham. — Precisamos levar o mínimo possível, só o essencial. Água, comida e munição. Nada que nos atrase.

Enquanto Daniel se levantava para pegar o que precisavam, Liz olhou para Dan mais uma vez, notando a hesitação em seus olhos. — Está com um pé atrás, não é?

Dan assentiu lentamente, olhando para ela. — Não gosto de confiar em coisas que não conheço. Mas não temos escolha. Vamos seguir em frente. Se aquele lugar for realmente o que dizem, pode ser nossa salvação.

Liz sorriu levemente, com um misto de esperança e apreensão, antes de se juntar aos preparativos. Com os suprimentos organizados e os nervos à flor da pele, eles se preparavam para deixar a cabana, sabendo que os próximos dias seriam um desafio. O caminho era perigoso, e o que encontrariam ao final dele era uma incógnita.

— Vamos partir ao amanhecer, — Dan concluiu, enquanto guardava o mapa na mochila. O frio da madrugada começava a se intensificar, mas a promessa de um abrigo mais à frente aquecia suas mentes cansadas.

Com tudo pronto, eles sabiam que não havia mais volta.

Enquanto caminhavam pela floresta, os pés de Dan, Liz e Daniel afundavam no solo úmido, com galhos secos estalando sob suas botas. Eles estavam carregados com mochilas cheias de suprimentos, o suficiente para sobreviverem por alguns dias, mas ainda assim, o peso da jornada os deixava inquietos. O som distante dos mortos, às vezes, quebrava o silêncio sufocante da floresta, mas ali dentro, eles ainda se sentiam um pouco mais seguros do que na cidade.

Após horas de caminhada, eles finalmente chegaram ao topo de um penhasco que dava vista para a cidade. A visão era desoladora. Dan, com o olhar fixo no horizonte, puxou um binóculo que havia pego na cabana do senhor Gus e começou a observar com cuidado. O que antes era uma metrópole vibrante agora não passava de uma pilha de ruínas. A cidade estava em completo caos — prédios destruídos, ruas desertas e, por toda parte, mortos-vivos vagando sem rumo.

— Meu Deus... — Liz sussurrou ao lado de Daniel, com os olhos arregalados. — Tudo isso em apenas dois dias?

Dan não respondeu de imediato. Continuava observando, vendo o rastro de destruição e o terror que agora dominava cada esquina. Enquanto passava o binóculo pelas ruas, viu o que restava do hospital onde Angelica trabalhava. De lá, subia uma coluna fina de fumaça, e, ao redor, os mortos caminhavam como se não houvesse mais destino para eles, apenas uma eternidade sem propósito.

Então, algo o paralisou. Seus olhos congelaram em uma figura distante, saindo do hospital. Seu coração apertou no peito. Era Angelica.

O choque o fez soltar um leve suspiro, e ele baixou o binóculo por um momento, como se não quisesse acreditar no que havia acabado de ver. Mas, num impulso, voltou a olhar. Sim, era ela. Ou, pelo menos, o que restava dela. Seu corpo arrastado e os olhos sem vida a transformavam em algo muito distante da mulher carinhosa que ele conhecia. Dan sentiu um nó se formar em sua garganta.

— O que foi? — Daniel perguntou, notando a mudança na expressão de Dan.

Dan não respondeu imediatamente, apenas continuou observando sua irmã zumbi ao longe, vagando entre os outros mortos. Por um momento, o desejo de ir até lá, de dar a ela o descanso que merecia, tomou conta dele. Ele apertou o binóculo com força, sentindo uma raiva crescente e uma tristeza imensa. "Ela merece paz... merece não estar entre eles", pensou. Ele sabia o que tinha que ser feito.

Mas então, ele parou. Baixou o binóculo e fechou os olhos por um instante. Respirou fundo, tentando acalmar a dor que o consumia.

— O que você viu? — Liz perguntou, agora mais próxima, preocupada.

Dan abriu os olhos lentamente, com a expressão endurecida. — Nada... — ele respondeu, sem emoção. — Não é nada.

Liz franziu a testa, percebendo que algo o havia perturbado, mas não insistiu. Dan deu um último olhar para a cidade destruída e guardou o binóculo na mochila. Ele sabia, no fundo, que aquela criatura que viu não era mais sua irmã. Angelica estava em um lugar melhor, longe de todo esse horror. O que restava era apenas uma casca vazia, um monstro.

Ele virou-se para os outros, com a voz firme. — Vamos seguir em frente. Não há mais nada aqui para nós.

E assim, com o peso da despedida silenciosa em seu coração, Dan liderou o grupo para longe, afastando-se da visão da cidade e de tudo o que haviam perdido. Eles caminhavam para o desconhecido, em busca de um futuro incerto, mas com a certeza de que o que haviam deixado para trás era apenas um rastro de destruição e dor.

Ecos na Escuridão: A Jornada de SobreviventesOnde histórias criam vida. Descubra agora