Renascidos na Morte

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Dan ficou ao lado da cama de Angélica, paralisado, olhando para o corpo sem vida de sua irmã. Liz permanecia ao seu lado, sem saber o que dizer, o silêncio entre eles era pesado, carregado de tristeza. O caos continuava do lado de fora, mas, naquele quarto, tudo parecia distante. A dor da perda envolvia Dan, e ele mal conseguia processar a ideia de que Angélica, sua irmã, seu último elo com a vida antes do apocalipse, se fora para sempre.

Liz, também abalada, colocou a mão no ombro de Dan, mas antes que qualquer palavra pudesse ser dita, um som perturbador ecoou pelo quarto. Um grunhido baixo e gutural, vindo de Angélica.

Dan imediatamente olhou para o corpo de sua irmã, que estava imóvel até então. Seus olhos se arregalaram quando viu um movimento sutil em seus dedos, depois suas mãos começaram a se mexer de forma errática. Lentamente, o corpo de Angélica se levantou da cama, seus movimentos desajeitados e antinaturais, como se não houvesse controle sobre eles. Quando finalmente levantou a cabeça, os olhos de Angélica estavam completamente brancos, vazios, sem vida.

— Angélica? — Liz murmurou, a voz fraca e cheia de descrença.

Antes que pudessem reagir, Angélica soltou um grunhido mais alto, um som animalesco que fazia cada nervo de Dan vibrar de alerta. Ela avançou na direção deles com uma velocidade assustadora. Liz, completamente em choque, mal teve tempo de se mover. Angélica, ou o que restava dela, estava diferente. Seu rosto estava contorcido em um misto de raiva e fome, os dentes à mostra, as mãos estendidas, prontas para atacar.

— Liz! Saia daí! — Dan gritou, seu instinto de sobrevivência ativado no último segundo.

Liz estava congelada, incapaz de processar o que estava acontecendo. Dan agiu rápido, agarrando Angélica pelos braços antes que ela pudesse alcançar Liz. A força que ela demonstrava era assustadora, muito maior do que qualquer coisa que Dan já tinha experimentado dela. Ele tentou segurá-la, mas os gritos e os grunhidos que ela emitia o desorientavam, e cada vez que ele tentava contê-la, Angélica se debatia com mais violência, como uma fera faminta.

— Angelica, sou eu! — Dan tentava falar, mesmo sabendo que aquelas palavras não alcançariam mais sua irmã.

Os olhos brancos de Angélica não mostravam reconhecimento. Ela não era mais a irmã carinhosa que ele conhecia; era uma criatura dominada pelo instinto primitivo de atacar, de devorar. Dan continuou segurando-a com toda sua força, mas sentia a pressão dela aumentando, as unhas dela rasgando sua pele enquanto ela tentava a todo custo alcançar seu pescoço com os dentes.

Liz finalmente recuou, mas ainda incapaz de agir. O terror em seu rosto mostrava que, mesmo como enfermeira, ela não estava preparada para algo assim.

— Liz, preciso de ajuda aqui! — Dan gritou, lutando para afastar Angélica que tentava mordê-lo com uma ferocidade insana.

Mas Liz estava paralisada pelo horror. Dan sabia que ela não estava entendendo o que estava acontecendo – nem ele conseguia compreender totalmente. A própria irmã, que ele havia carregado até o hospital para salvar, agora era um monstro que tentava matá-lo. A dor emocional era avassaladora, mas ele não tinha tempo para se entregar a ela. Era uma questão de sobrevivência.

Com um movimento brusco, Angélica conseguiu soltar um dos braços do controle de Dan e avançou com mais força, a boca aberta, emitindo sons grotescos. Ele conseguiu empurrá-la com o ombro, fazendo-a cair contra a parede, mas ela voltou com ainda mais velocidade.

— Não... não pode ser... — Liz murmurou, recuando para a porta, os olhos cheios de lágrimas e terror.

Dan, com os braços doloridos e o coração acelerado, finalmente empurrou Angélica para longe, lançando-a contra a cama. Ele sabia que não podia continuar assim por muito tempo. Angélica se levantava de novo, com os olhos vazios focados apenas em um objetivo: matar.

Ecos na Escuridão: A Jornada de SobreviventesOnde histórias criam vida. Descubra agora