Caçada na Escuridão

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Dan se virou rapidamente, sinalizando para Liz esconder Samara atrás de uma prateleira no fundo do mercadinho. A tensão no ar era palpável, cada movimento deles calculado. Samara, com os olhos arregalados de medo, obedeceu em silêncio enquanto Liz a escondia.

Passos pesados ecoaram pelo chão sujo e empoeirado do mercadinho. Dan, Daniel e Liz se mantiveram firmes, preparados para o que viesse, mas sem querer parecer ameaçadores. Dois homens entraram pela porta da frente, suas botas desgastadas chutando a sujeira no chão enquanto olhavam ao redor. Um deles, de barba espessa e com uma expressão dura, sorriu ao ver o grupo.

"Olha só, parece que temos companhia," disse o homem barbudo, os olhos avaliando cada um deles. "Vocês devem ser novos por aqui."

Dan manteve-se impassível, seus sentidos aguçados. Ele sabia que esses homens não eram amigáveis, mesmo que suas palavras dissessem o contrário.

"Estamos só de passagem," respondeu Dan, sua voz calma, mas firme. "Precisávamos de mantimentos, mas já estamos de saída."

O segundo homem, mais jovem, usava um boné sujo e tinha uma cicatriz visível no rosto. Ele cruzou os braços, inclinando-se levemente para frente. "Por acaso, vocês não viram uma garotinha por aí, viram? Cerca de 11, 12 anos. Ela... se perdeu do nosso grupo."

Liz apertou os lábios, tentando disfarçar sua apreensão. Dan trocou um olhar rápido com Daniel, ambos sabendo que a situação poderia escalar a qualquer momento.

"Não vimos ninguém por aqui," mentiu Dan, controlando cada palavra. "A cidade parece abandonada. Não tem muito movimento, pelo que vimos."

O homem barbudo deu um sorriso que não chegou aos olhos. "É mesmo? Engraçado... achamos que ela poderia ter vindo pra cá. Mas se vocês não a viram... bem, talvez ela esteja em outro lugar."

Daniel manteve-se em silêncio, suas mãos discretamente próximas à arma que trazia presa ao cinto. Ele estava pronto para qualquer eventualidade, mas sabia que o momento ainda não era de ação. O jovem com o boné olhou ao redor, tentando observar algo fora do lugar.

"Bom, se vocês virem a garota, nos avisem. O pai dela está bastante preocupado. Não queremos que nada de ruim aconteça com ela." O homem barbudo fez uma pausa, os olhos fixos nos de Dan, avaliando-o. "Entendem o que quero dizer?"

Dan assentiu levemente, controlando a respiração. "Entendo."

Os dois homens se encararam por um instante que pareceu durar uma eternidade. O silêncio no mercadinho era opressivo, apenas o som da respiração deles preenchendo o ar. O homem com o boné deu um passo para trás, quebrando a tensão. "Acho que já incomodamos demais. Vamos procurar em outro lugar."

Com isso, os dois homens se viraram e saíram, mas não sem antes lançar um último olhar desconfiado para o grupo. Dan observou enquanto eles se afastavam, seus olhos ainda em alerta. O perigo não tinha passado completamente, mas pelo menos por enquanto, eles estavam a salvo.

Quando o som dos passos desapareceu, Liz soltou um suspiro de alívio. Dan olhou para o canto onde Samara estava escondida. Eles sabiam que a história dela era mais complicada do que parecia, e os homens que estavam atrás dela eram ainda mais perigosos do que aparentavam.

Daniel espiou pela fresta da porta, observando enquanto os dois homens desapareciam ao virar a esquina. Ele esperou alguns segundos antes de fechar a porta lentamente, fazendo o mínimo de barulho possível. Olhou para Dan e assentiu, confirmando que o perigo imediato havia passado, pelo menos por enquanto.

"Podem sair," disse Dan, se aproximando da prateleira onde Samara e Liz estavam escondidas. Liz se levantou primeiro, puxando a garota pela mão.

Samara estava visivelmente abalada, mas tentava manter a postura firme. Seu rosto estava pálido, e seus olhos arregalados ainda mostravam o medo que sentia daqueles homens. Dan se ajoelhou ao seu lado, tentando ser o mais gentil possível.

"Samara," começou ele, a voz calma mas firme, "precisamos entender o que está acontecendo com você e com esse grupo que te persegue. Você está segura aqui, mas precisamos saber mais. Pode nos contar sobre o seu pai e esses homens?"

Samara hesitou por um momento, respirando fundo, seus olhos se enchendo de lágrimas, mas ela as conteve. Depois de alguns segundos de silêncio, começou a falar.

"Meu pai... ele já era um homem ruim antes de tudo isso começar," disse ela, a voz trêmula, mas determinada. "No nosso bairro, as pessoas tinham medo dele. Ele controlava tudo, e alguns até respeitavam por medo. Ele tinha 'amigos' que faziam o que ele mandava. Mas... depois que tudo começou a desmoronar, ele viu a chance de se tornar algo ainda pior."

Dan franziu o cenho, ouvindo atentamente, enquanto Samara continuava.

"Quando a pandemia começou e o caos se espalhou, ele disse que era a oportunidade perfeita pra criar um novo mundo, um mundo onde ele estivesse no controle. Ele começou a saquear, roubar... até matar, se fosse necessário. Meu pai sempre teve essa ideia de que o mundo era um lugar quebrado, e que só pessoas como ele poderiam reconstruí-lo. E as pessoas que seguiam ele... também eram ruins. Eles acreditavam em tudo o que ele dizia, faziam tudo que ele mandava."

Samara fez uma pausa, enxugando os olhos rapidamente com o punho. Liz colocou a mão em seu ombro, tentando confortá-la.

"Eles me forçaram a ficar com eles," continuou Samara. "Mas eu sabia que o que eles estavam fazendo era errado. Eles mataram tantas pessoas... roubaram de gente que só queria sobreviver. Eu fugi quando tive a chance, mas... eles estão atrás de mim. Meu pai não vai me deixar escapar. Ele acha que pode me moldar, me fazer seguir os mesmos passos que ele."

Dan trocou um olhar preocupado com Daniel e Liz. As palavras de Samara confirmavam que o grupo que estava atrás dela era ainda mais perigoso do que imaginavam. Não eram apenas saqueadores comuns, mas homens que acreditavam estar criando um "novo mundo", liderados por alguém que tinha uma visão distorcida e cruel.

"Seu pai quer você de volta," disse Dan, escolhendo suas palavras com cuidado. "Mas agora você está com a gente. Vamos proteger você."

Samara apenas assentiu, agradecida, mas ainda assustada.

"Precisamos pensar em um plano," Daniel interveio, os olhos fixos em Dan. "Esses caras vão voltar. Talvez com mais homens. Não podemos ficar aqui."

Dan concordou. O perigo que Samara trazia não era algo que eles podiam ignorar. O grupo do pai dela estava claramente determinado a encontrá-la e não mediriam esforços para isso. Eles precisariam ser rápidos e estar sempre um passo à frente.

Samara olhou para Dan com um misto de medo e esperança. "Eu não quero voltar pra ele," disse ela, sua voz baixa mas firme.

"Não vai voltar," prometeu Dan. "Nós não vamos deixar."

Ecos na Escuridão: A Jornada de SobreviventesOnde histórias criam vida. Descubra agora