O Aniversário Vermelho

Feliz Aniversário II

Só com essas pistas já dá para presumir que trata-se de um assassino esperto e com motivações pessoais e até irracionais, não posso deixar de notar uma mancha de lama que formava uma pegada perto da janela, o assassino a deixou pois essa madrugada estava chovendo muito e a única forma de entrar por aqui pela janela é passando pelo quintal da casa.

Minha linha de raciocínio é cortada quando John e Miguel aparecem na porta, John estava acompanhado de mais quatro policiais para retirar o corpo dali e Miguel não queria entrar no quarto pois não queria ver seu filho morto novamente.

"Eae detetive, encontrou algo útil? Por favor, você tem que encontrar esse assassino desprezível" disse Miguel com um tom agressivo.

"Os rapazes vieram remover o corpo, precisa de mais tempo detetive?" Disse John enquanto segurava seu chapéu de policial.

"O assassino mede algo em torno de 1,65, da pra notar pelo tamanho da pegada que ele deixou perto da janela que mede algo em torno de 39, ele também é um escalador muito hábil pós conseguiu escalar na chuva e em pouco tempo para não ser visto por testemunhas, ele provavelmente possui treino militar julgando pela faca que usou e o corte que fez fora que acredito que a pegada tenha sido feita por uma bota militar, analisando o tempo que ele levou para subir sem ser visto então ele deve ter algo entre 25 a 30 anos"

"Fascinante!" Exclamou John com um tom de surpresa, "Então com isso dá pra iniciarmos as investigações procurando possíveis suspeitos em quartéis pela cidade, provavelmente o criminoso é um desordeiro"

Eu mandei eles retirarem o corpo e disse para John iniciar as buscas, logo fui conversar com Miguel.

"Segurando as pontas, né meu amigo? Eu já passei por coisa parecida a um tempo como você sabe, eu recomendo você ir distrair a cabeça e-"

Miguel me corta no meio da minha fala e diz

"Eu sei detetive mas... Eu preciso saber quem é esse cara, ele matou meu filho, não vou descansar até levá-lo à justiça!"

Uma coisa eu nunca pude negar, o senso de justiça de Miguel é incrível, qualquer um no lugar dele iria querer matar o assassino da pior forma possível, ele não, ele ainda mantém o seu lado justo, afinal é isso que separa os bons dos maus, nosso senso de ética e moralidade é a linha tênue que faz a divisão dos heróis e dos vilões, claro, nunca é tão simples como eu falo.

Enquanto estava fora do quarto, Miguel me contou seu depoimento.

"Ontem ele foi dormir às 8 da noite e nós fomos pra cama às 10, não ouvimos nada, nenhum grito, nenhum barulho de janela abrindo, nada... Hoje é o aniversário dele, iríamos levá-lo ao cinema e depois sair para comer pizza, tínhamos comprado até uma torta para acordar ele com os parabéns, nós entramos no quarto dele lá pelas 7:20 com a torta quando... Enfim, minha esposa derrubou a torta no chão e ligamos para a polícia em seguida, sabia que você iria aparecer logo em seguida."

Anotei tudo e ofereci a minha casa para ele e sua esposa passarem uns dias, ele aceitou e eu entreguei a chave para ele e fui até o meu carro enquanto que por uma piada sem graça do destino, gotas de chuva pesada começam a cair do céu, como se o clima já não estivesse desagradável o bastante, dirigi até meu escritório novamente e pude observar a cidade e a sua podridão, a fome, miséria, crimes e violência só vem aumentando a cada ano, o cheiro podre de fumaça e o barulho de brigas em cada canto dessa cidade só me faz pensar, será mesmo que existe uma mudança real?

Essa minha dúvida sempre some quando vejo pessoas iguais ao Miguel, um senso de justiça íntegro e uma moral quase inabalável sempre foi suas principais qualidades, é por gente igual a ele que eu faço o que eu faço.

Após minutos dirigindo eu finalmente chego em meu prédio no endereço 221B na rua Londres, enquanto subo as escadas eu posso escutar vizinhos no prédio ao lado discutindo e ao finalmente chegar em meu escritório eu sou surpreendido por algo que iria tirar meu sono por várias noites.