Acordo me sentindo zonza. As luzes ofuscam minha visão, e eu pisco repetidamente, tentando me ajustar ao brilho.
“Você está bem?”
Minha cabeça vira automaticamente ao ouvir a voz desconhecida, e um lampejo de reconhecimento atravessa minha mente. Era o rapaz que havia se colocado na minha frente.
Ainda um pouco atordoada, tento me levantar, mas uma pontada de dor me faz recuar, soltando um gemido involuntário.
“Calma, você ainda está fraca. Eles te machucaram bastante”, ele diz, a voz firme, mas com um toque de suavidade.
Meus olhos o estudam com mais atenção agora. Seu rosto está marcado por cortes e hematomas, o que só reforça o que ele fez por mim. “Por que… por que você fez isso?” Minha voz sai mais rouca do que esperava.
Ele dá um pequeno sorriso, um tanto dolorido, e seus olhos encontram os meus, cheios de algo que eu não sei como descrever. “Porque alguém precisava fazer. Não podia deixar que isso acontecesse, nem com você, nem com ele.”
Eu fico em silêncio por um momento, as palavras dele pesando sobre mim. “Você se machucou por minha causa.”
Ele balança a cabeça lentamente. “Valeu a pena. O que você fez foi corajoso.”
Minha mente ainda está confusa, tentando processar tudo o que aconteceu, mas uma coisa é certa: aquele momento mudou algo dentro de mim.
Meus olhos percorrem o local pela primeira vez, percebendo que estou em um hospital comunitário.
"Obrigada." Minha voz sai baixa, e meus olhos encontram os dele por um instante, antes de eu desviar. Ainda é difícil para mim manter contato visual por muito tempo. "Eu me chamo Nádia."
"Leon," ele responde, com uma leve inclinação de cabeça.
Faço uma pausa, observando os curativos em seu corpo. "Está doendo muito?" pergunto, preocupada, mas tentando não parecer invasiva.
Ele dá um sorriso cansado, mas sincero. "Já passei por piores," diz, encolhendo os ombros suavemente. "Mas... você? Como está se sentindo?"
Eu respiro fundo, pensando na pergunta. "Ainda estou tentando entender tudo... Sinto como se tudo tivesse mudado de repente."
Ele balança a cabeça, compreensivo. "Mudou. Às vezes, momentos como esse são o que precisamos para ver as coisas de forma diferente."
Nossas conversas se entrelaçam em um silêncio confortável, enquanto o peso do que aconteceu parece lentamente se dissipar, mesmo que a realidade ainda esteja ali, à espreita.
"Você foi corajosa, sabe?" Leon diz, quebrando o silêncio. "Poucas pessoas teriam feito o que você fez."
Sinto um leve desconforto com o elogio, ainda não sabendo como processar o que aconteceu. "Não sei se foi coragem... Acho que só não consegui ficar parada."
Ele sorri, uma expressão de compreensão cruzando seu rosto. "Mesmo assim, foi algo importante."
Antes que eu pudesse responder, uma enfermeira entra na sala com uma prancheta nas mãos, o rosto calmo, mas determinado. "Como estão os dois sobreviventes da confusão de hoje?" ela pergunta, observando primeiro Leon, depois eu, com um olhar atento.
"Vivos," Leon responde com um sorriso irônico, recebendo um olhar de advertência da enfermeira.
Ela se aproxima de mim, verificando os curativos em meus braços e ombros. "Você teve muita sorte. Mais alguns minutos e poderia ter sido bem pior. Vamos precisar manter você em observação por mais um tempo, tudo bem?"
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Jogo de peões
AcakNádia vive uma vida invisível em meio à cidade, onde a desigualdade é tão comum que poucos a questionam. Trabalhando longas horas em um supermercado, ela testemunha diariamente a diferença entre os que podem comprar tudo e os que mal conseguem o nec...