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Pov Bia:

As aulas finalmente tinham acabado, e eu estava na saída do colégio, esperando o meu pai vir buscar a mim e Sofia. Ela, como sempre, estava rodeada por um grupo de amigos, rindo e conversando alto, o que parecia ser o normal para ela. Eu, por outro lado, preferia o silêncio da leitura enquanto esperava, mas hoje eu estava distraída demais para me concentrar.

Hoje não era um dia qualquer. Aquele momento com Michael ainda estava fresco na minha mente. A forma como ele tinha parado de me chamar de "gêmea" e usado meu nome real... "Bia". Algo tão simples, mas que me fez sentir diferente. Como se, por um segundo, eu tivesse saído da sombra da Sofia, e ele tivesse me visto de verdade. Talvez fosse exagero meu pensar assim, mas não conseguia evitar o nervosismo que esse pequeno gesto tinha provocado em mim.

A escola estava se esvaziando aos poucos, os alunos indo embora em grupos, rindo e conversando. Eu observei enquanto alguns dos meus colegas iam em direção aos pais ou seguiam caminhando pelas ruas, cheios de vida e confiança. Minha mochila estava no chão ao meu lado, e A Canção de Aquiles repousava no meu colo, mas eu nem tentava mais ler. Minha mente estava a mil.

Sofia se despediu de suas amigas com um sorriso e um pequeno aceno o de mão, caminhando em minha direção. Ela parecia sempre tão à vontade, como se o mundo fosse uma peça onde ela era a estrela. E, de certa forma, era mesmo. A faixa de cabelo que Sofia usava era muito parecida com aquelas faixas que a Blair Waldorf usava em Gossip Girl. A faixa que ela usava hoje brilhava sob a luz do sol, e eu me perguntei como ela conseguia estar sempre tão impecável.

— Oi, maninha! — Ela disse, jogando a mochila no ombro com um ar de leveza. — O que foi? Está com essa cara pensativa de novo.

— Nada. — Respondi, dando de ombros. — Só estou esperando o papai.

Ela revirou os olhos e riu. 

— Como sempre, né? — Ela se sentou ao meu lado, mexendo no celular. — Ah, as meninas me chamaram pra sair mais tarde. Talvez eu vá.

Eu apenas assenti, enquanto via o carro do nosso pai dobrar a esquina. Ele sempre foi pontual, o que era algo que eu gostava. Gostava de ter essa rotina certa, de saber que, no final do dia, ele estaria ali, mesmo que fosse apenas para nos levar para casa.

Quando ele parou o carro em frente ao portão, eu rapidamente peguei minha mochila e o livro, caminhando em direção ao carro. Sofia demorou um pouco mais, como sempre, mandando algumas mensagens antes de finalmente me seguir.

— Oi, meninas! — Meu pai nos cumprimentou com seu habitual sorriso caloroso. — Como foi o dia hoje?

Sofia foi a primeira a responder, falando animadamente sobre o treino de vôlei e os ensaios da banda marcial. Eu fiquei em silêncio, como sempre, olhando pela janela. Eu não sabia por onde começar para falar sobre o que tinha acontecido com Michael, ou se eu deveria falar sobre isso. Ainda era algo tão novo para mim, e eu não sabia como colocar em palavras.

— E você, Bia? — Meu pai perguntou, me tirando dos meus devaneios. — Como foi o seu dia?

Pensei por um segundo. Poderia falar sobre a aula de história, sobre a mitologia grega que tanto amava, mas... tudo parecia pequeno perto do que realmente estava me incomodando. Não podia simplesmente contar a ele sobre Michael, sobre a confusão que isso estava causando dentro de mim.

— Foi... normal. — Respondi, tentando soar tranquila. — Nada de muito especial.

Meu pai assentiu com um sorriso, ligando o rádio e deixando uma música qualquer preencher o silêncio entre nós. Enquanto ele dirigia pelas ruas da cidade, o som da voz de Sofia, misturado à música no rádio, parecia ao mesmo tempo distante e próximo demais. Eu sabia que estava diferente hoje, e sabia o motivo. Michael Ferreira tinha falado comigo de um jeito diferente, e isso estava mudando algo dentro de mim.

Quando chegamos em casa, desci do carro com uma estranha sensação de alívio e expectativa. Eu sabia que precisava fazer algo com o que estava sentindo, mas não sabia o quê. Talvez fosse só o começo de algo novo, algo que eu não podia controlar, mas que já estava me envolvendo de maneira profunda.

Sofia subiu para o quarto dela, ainda mandando mensagens para suas amigas, enquanto eu fiquei alguns segundos na porta de casa, olhando o céu começando a mudar de cor com o pôr do sol. Peguei meu livro e suspirei. Talvez não fosse hoje que eu conseguiria colocar em palavras o que estava sentindo, mas sabia que isso era apenas o começo de uma história muito maior.

Meu PercussionistaOnde histórias criam vida. Descubra agora