14

2 3 0
                                    

Pov Michael:

O som das baquetas batendo no tambor ecoava pelo ginásio enquanto Michael entrava no ritmo com a banda marcial. Ele gostava da energia do grupo, de como o som dos instrumentos se misturava em um conjunto harmônico. Havia algo de especial em fazer parte daquilo. O som dos tenor drums reverberava pelo espaço, preenchendo o ambiente, e Michael podia sentir cada batida em seu corpo. Era libertador.

— Isso aí, gente, mantenham o ritmo! — gritou o líder da banda, gesticulando com entusiasmo.

Michael focou no padrão que estava tocando, seus braços se movendo no compasso certo. Ele sabia que todo mundo estava prestando atenção, e ele adorava aquela pressão. Era a parte mais divertida do ensaio. Mesmo que algumas pessoas não admitissem, todos queriam ser os melhores, e ele não era diferente.

Daniel, que estava mais à frente tocando trompete, olhou para Michael e levantou as sobrancelhas, um sorriso travesso nos lábios. Michael retribuiu com um aceno sutil, já sabendo o que viria a seguir. O amigo adorava inventar piadinhas durante os ensaios.

Quando o som finalmente diminuiu e a música chegou ao fim, a banda parou para um breve descanso. Michael tirou os fones protetores, limpando o suor da testa. Daniel foi até ele, carregando o trompete com uma expressão casual.

— E aí, tá pronto pra destruir no basquete depois? — perguntou Daniel, dando um leve empurrão no ombro de Michael.

— Sempre, cara — respondeu Michael, ajeitando a camisa da banda marcial que estava um pouco apertada. — Você não cansa de perder pra mim, né?

— Tô só esquentando, meu amigo. Hoje é o dia que você vai cair.

Michael riu, sabendo que Daniel gostava de falar mais do que realmente fazer no jogo. Ele e Daniel jogavam basquete juntos desde que se lembrava, e as provocações já faziam parte da rotina. Por mais que Daniel fosse bom com o trompete, no basquete ele ainda tinha muito o que aprender.

— Vamos ver se você aguenta — Michael respondeu, pegando uma garrafa d'água e tomando um longo gole.

O ensaio logo voltou a acontecer, e a banda retomou suas posições. O som das baquetas e dos instrumentos tomou conta do ginásio mais uma vez, mas os pensamentos de Michael estavam longe dali. Ele estava ansioso pelo jogo de basquete, claro, mas também não conseguia parar de pensar na biblioteca.

Era estranho, na verdade. Trabalhar com a Bia naquele projeto de mitologia tinha sido diferente do que ele esperava. Ela era inteligente, conhecia muitos detalhes e parecia realmente gostar do assunto. E, para alguém que costumava evitar conversar com as pessoas, ela parecia estar se abrindo aos poucos.

Quando a música terminou novamente e o ensaio foi oficialmente encerrado, Michael pegou sua mochila e se despediu dos colegas. Ele estava suado, cansado, mas a ideia de jogar basquete com Daniel ainda o deixava animado.

— Bora, cara! — Daniel gritou do outro lado do ginásio. — Partiu quadra!

Michael riu, se apressando para alcançar o amigo.

Eles deixaram a escola e caminharam até a quadra de basquete do bairro. Estava começando a escurecer, mas a iluminação das quadras sempre permitia que eles jogassem até tarde, quando as aulas terminavam. O som das bolas quicando no chão, os gritos de outros garotos jogando ao redor e o cheiro de asfalto aquecido pelo sol que ainda pairava no ar.

O jogo começou rápido, com ambos se movendo com agilidade. Daniel sempre tentava provocar, driblando de forma extravagante, enquanto Michael mantinha o foco, buscando o momento certo para atacar. Não demorou muito para Michael roubar a bola e fazer uma cesta.

— Tá vendo? — disse ele, girando nos calcanhares. — Eu te avisei.

— Foi só sorte — respondeu Daniel, ofegante, mas sorrindo.

O jogo continuou por um tempo, com risos e provocações de ambos os lados, até que resolveram parar para descansar. Sentados à beira da quadra, com as garrafas d'água nas mãos, eles ficaram em silêncio por um momento, apenas aproveitando a brisa fresca.

— Ei, você tá falando bastante com a gêmea da Sofia ultimamente — comentou Daniel, de repente, com um sorriso malicioso.

Michael revirou os olhos. 

— O nome dela é Bia.

— Sim, claro, Bia — repetiu Daniel, zombando. — Então, como tá indo esse trabalho de mitologia? Ouvi dizer que vocês tão passando um tempinho juntos.

— Só estamos trabalhando no projeto, cara — respondeu Michael, dando de ombros, mas sentindo uma pontada de desconforto. Ele não queria que Daniel começasse a criar teorias sobre ele e Bia.

— Sei... — disse Daniel, claramente não acreditando. — Mas eu vi vocês na biblioteca. Não parecia só um trabalho.

Michael balançou a cabeça, tentando não deixar aquilo o incomodar. Mas, na verdade, Daniel não estava totalmente errado. Ele estava passando mais tempo com Bia, e isso o fazia pensar. Não que ele estivesse interessado nela, pelo menos não do jeito que Daniel estava insinuando. Mas havia algo... diferente. Era bom conversar com ela, e ele sentia que estava conhecendo um lado dela que ninguém mais via.

— Tá, tanto faz — disse Daniel, levantando-se e pegando a bola de basquete novamente. — Só não esquece que amanhã tem mais ensaio. E não deixa a gêmea te distrair.

Michael riu, levantando-se também. — Relaxa, cara. Eu dou conta de tudo.

Enquanto eles voltavam a jogar, Michael sentiu que, de alguma forma, sua vida estava mudando. Não sabia bem como ou por quê, mas a presença de Bia em sua vida estava começando a fazer uma diferença que ele ainda não conseguia explicar.

Meu PercussionistaOnde histórias criam vida. Descubra agora