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Pov Bia:

Depois do jantar, me tranquei no meu quarto. A casa estava em silêncio, exceto pelo som distante da TV na sala, onde meu pai assistia ao noticiário. Sofia provavelmente estava no quarto dela, postando mais uma daquelas fotos perfeitas que sempre conseguiam centenas de curtidas.

Eu, por outro lado, encarei o teto por alguns minutos antes de pegar meu livro, A Canção de Aquiles. Eu amava essa história, mas hoje não conseguia me concentrar. Algo sobre o dia me deixava inquieta. Talvez fosse o jeito como o Michael me chamou de Bia hoje. Ele já tinha feito isso antes? Acho que não. Até então, eu era sempre a "gêmea da Sofia", como se meu nome fosse irrelevante. Mas hoje foi diferente.

Eu sentia algo estranho, como se, de repente, as coisas ao meu redor começassem a se transformar, e eu não sabia se estava pronta para isso. Virei uma página, mas nem estava realmente lendo. Minha mente voltava para o momento no ginásio, o jeito como Michael olhou para mim, como ele finalmente me chamou pelo nome certo. Algo tão pequeno, mas que me fez sentir... notada.

Suspirei, fechando o livro e me sentando na cama. Desde o sexto ano, eu tinha me acostumado a ser invisível, a ser a garota que ficava no canto, lendo enquanto o mundo ao redor de mim seguia em frente. E, na maior parte do tempo, eu estava bem com isso. Eu tinha meus livros, minhas músicas, e isso me bastava. Mas agora, por algum motivo, eu me sentia diferente. Como se, pela primeira vez, eu quisesse ser vista de verdade.

Peguei o celular e olhei para as mensagens, mas nenhuma delas prendia minha atenção. Eu sabia que estava exagerando — o Michael é popular, ele é legal com todo mundo, ele estava apenas sendo educado. Certo?

Então, por que eu não conseguia tirar isso da cabeça?

Levantei-me da cama e fui até a janela. O céu já estava escuro, e a luz da rua iluminava a calçada vazia lá fora. A brisa da noite entrava pelo vidro entreaberto, e eu fechei os olhos por um momento, tentando acalmar a confusão de pensamentos na minha mente.

Talvez fosse o fato de que, pela primeira vez, eu me perguntei como seria ser alguém diferente. Como seria ser vista não apenas como a irmã da Sofia, mas como Bia. Não como a garota que ficava calada na aula, mas como alguém com uma voz. Alguém que talvez, só talvez, importasse.

Meu pai bateu na porta levemente, interrompendo meus pensamentos.

— Bia? Está tudo bem? — ele perguntou.

— Tá sim, pai — respondi, tentando esconder qualquer traço de inquietação na voz.

— Bom, vou desligar a TV. Boa noite. — Ele deu um pequeno sorriso antes de se afastar.

Depois que a casa ficou completamente em silêncio, voltei a me deitar na cama. O som da noite lá fora agora era a única coisa que eu ouvia. Fechei os olhos, tentando deixar a mente descansar. Mas a lembrança daquele momento, quando Michael me olhou nos olhos e me chamou pelo nome, continuava ali, me assombrando.

Talvez amanhã fosse diferente. Talvez amanhã eu deixasse de lado essas preocupações. Ou talvez... talvez amanhã eu começasse a me permitir ser vista.

Meu PercussionistaOnde histórias criam vida. Descubra agora