Meu Percussionista

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Pov Michael:

Acordei com o alarme tocando, ainda sonolento por causa da conversa com o Daniel na noite anterior. A gente tinha combinado de jogar basquete depois da aula, e eu estava ansioso para me distrair um pouco. Por mais que eu gostasse do ensaio da banda, a rotina estava me deixando esgotado.

Desci as escadas e encontrei meu irmão Tiago na cozinha, já com um caderno de desenho aberto na mesa e o café da manhã pela metade.

— Bom dia, preguiçoso — ele brincou, sem levantar os olhos do esboço.

— Bom dia mano. — respondi, pegando um pedaço de pão. — Você já tá desenhando a essa hora?

Ele deu de ombros, com aquele meio sorriso.

— Inspiração não escolhe horário.

Dei uma olhada no que ele estava desenhando. Parecia ser um retrato de uma cena do jogo do Atlético Goianiense, mas com o estilo característico dele, algo meio surrealista. Sempre admirei o jeito como ele enxergava o mundo, transformando coisas comuns em arte.

— Tá ficando legal — comentei. — Mas hoje é dia de basquete, lembra?

— Sei. Boa sorte com isso — ele riu. — Vai perder pro Daniel de novo?

Revirei os olhos, mas não respondi. Não ia dar o gostinho de ele estar certo, mesmo que Daniel realmente fosse melhor que eu no basquete.

Peguei minha mochila, pronto para sair, mas antes que pudesse abrir a porta, minha mãe entrou na cozinha, já falando sobre o dia dela e pedindo pra gente se comportar na escola. Eu estava acostumado com a rotina, e, pra ser sincero, eu gostava daquela normalidade. Depois de mais uma rodada de instruções, fui para a escola, onde o Daniel já me esperava no portão.

— E aí, cara! Preparado pro jogo mais tarde? — ele perguntou, com um sorriso convencido.

— Vou destruir você na quadra hoje — respondi, batendo no ombro dele.

— Quero só ver — ele riu, e entramos na escola juntos.

A manhã passou num piscar de olhos. As aulas foram normais, e o ensaio da banda foi intenso, como sempre. Bati o bumbo dos tenor drums com força, tentando acompanhar o ritmo frenético do maestro, mas minha mente estava um pouco dispersa. Talvez fossem as mensagens que troquei com a Bia ontem à noite, ou talvez fosse só a ansiedade pelo jogo com o Daniel mais tarde.

Quando o ensaio finalmente acabou, me despedi do pessoal da banda e fui encontrar Daniel na quadra de basquete. Ele já estava lá, quicando a bola e provocando, como sempre.

— Demorou, hein? Eu já tava quase desistindo.

— Vai se preparando pra derrota — retruquei, tirando a camisa do uniforme da banda e ficando com uma camiseta mais leve por baixo.

O jogo foi acirrado. Daniel era bom, mas eu também tinha meus truques. Por um tempo, o placar ficou bem empatado, mas no final, como sempre, ele levou a melhor. Depois de mais algumas rodadas de provocações, nos sentamos no banco, cansados, mas rindo.

— Sabe que eu vou te ganhar um dia, né? — disse, tomando um gole de água.

— Vai sonhando — Daniel respondeu, ainda sem fôlego. — Mas falando sério, cê tá bem? Parece meio distraído.

Parei por um segundo, pensando. Não sabia bem o que responder. Tinha muita coisa na minha cabeça ultimamente — a pressão da banda, os sentimentos confusos em relação à Bia, as expectativas que os outros tinham de mim.

— Só tô com muita coisa pra pensar — disse, evitando entrar em detalhes.

Daniel não pressionou. Ele era aquele tipo de amigo que sabia quando não era hora de fazer perguntas. Em vez disso, apenas mudou de assunto.

— Beleza, só não vai deixar isso atrapalhar o jogo, hein? Semana que vem tem mais.

Rimos juntos, e depois de mais algumas conversas jogadas fora, voltamos pra casa. Quando cheguei, Tiago já estava no quarto, debruçado sobre outro desenho. Ele levantou os olhos rapidamente quando passei pelo corredor, mas não disse nada. Eu entrei no meu quarto e me joguei na cama, exausto, mas com a mente ainda cheia de pensamentos.

Meus pensamentos se voltaram para Bia, eu não consegui deixar de sorrir quando pensava nela. Talvez fosse só mais um dia comum, mas, de algum jeito, tudo estava preste a mudar.