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Pov Bia:

Meus dedos tremiam ligeiramente enquanto arrumava meus cadernos sobre a mesa. Michael Ferreira. Meu par para o trabalho sobre mitologia grega. O nome dele ecoava na minha mente como uma canção que eu nunca conseguia esquecer. Era uma mistura de euforia e medo — medo de dizer algo estúpido, ou pior, de não dizer nada.

Ele se virou para mim com um sorriso fácil que, para ele, parecia natural. Para mim, parecia o brilho de um sol no meio de uma tempestade.

— Parece que a gente vai ser dupla, gêmea. — Ele disse, e, mesmo com a confusão interna em que eu estava, não pude deixar de sorrir.

Eu odiava quando ele me chamava de "gêmea", mas adorava a forma como ele falava comigo. Era uma contradição que me deixava nervosa e animada ao mesmo tempo.

— É... parece que sim. — murmurei, tentando soar casual, mesmo que por dentro meu coração estivesse correndo uma maratona.

— Você manja de mitologia? — Ele perguntou, com as sobrancelhas erguidas em uma expressão curiosa, enquanto girava sua caneta entre os dedos. A forma como ele parecia genuinamente interessado me pegou de surpresa.

— Bastante, na verdade. — A confiança veio do nada, surpreendendo até a mim mesma. — Eu adoro mitologia grega.

Ele sorriu, e de alguma forma isso fez todo o nervosismo diminuir, como se a barreira invisível entre "a nerd invisível" e "o garoto popular" tivesse se quebrado só um pouquinho.

— Bom, então você vai carregar esse trabalho nas costas. — Ele brincou, e riu de leve, mas algo no jeito dele me fez acreditar que ele não era tão despreocupado quanto aparentava. — Eu nem sei por onde começar.

Essa era minha chance de impressioná-lo, mas, ao mesmo tempo, a ideia de ser "a nerd que resolve tudo" me incomodava. Eu queria mais do que ser apenas a garota inteligente.

— Podemos dividir o trabalho. — Sugeri, tentando manter minha voz firme. — Eu posso te ajudar a entender as coisas.

— Fechado. — Ele respondeu, com um brilho no olhar que eu nunca tinha visto antes. — Que tal a gente começar agora? Depois da aula?

Meu coração quase parou. A ideia de passar tempo a sós com Michael me assustava tanto quanto me animava. Mas eu não podia deixar isso transparecer.

— Claro! — Respondi, talvez um pouco rápido demais, mas ele pareceu não perceber. — A biblioteca parece um bom lugar?

— Perfeito.

As últimas palavras da aula se misturaram em segundo plano enquanto eu tentava me concentrar. A professora Marcela explicava mais sobre o trabalho, mas minha mente estava a mil. Eu estava prestes a estudar mitologia grega — um dos meus assuntos favoritos — com Michael Ferreira, o garoto que me chamava de "gêmea" e que provavelmente não sabia meu nome.

Quando o sinal tocou, eu demorei um pouco mais para arrumar minhas coisas, esperando que Michael se levantasse primeiro. Ele fez isso, jogando a mochila sobre um dos ombros, e virou para mim, sorrindo.

— Vamos?

Eu respirei fundo, levantando da cadeira, e o segui para fora da sala.

Enquanto caminhávamos juntos pelos corredores, a estranha combinação de nervosismo e antecipação crescia dentro de mim. Eu sabia que aquilo era o mais próximo que já havia chegado dele. Era uma oportunidade de fazer com que ele me enxergasse de verdade, para além do rótulo de "a irmã nerd da popular". Mas o que isso realmente significava, eu ainda não sabia.

Caminhamos lado a lado em silêncio por alguns minutos até chegarmos à biblioteca. Era um dos meus lugares favoritos no colégio, mas, de repente, parecia o cenário de um filme — só que eu estava mais perdida do que a protagonista.

Michael puxou uma cadeira e se sentou em uma das mesas mais ao fundo, onde o barulho do colégio não nos alcançava.

— Então, por onde a gente começa? — Ele perguntou, se inclinando na cadeira com uma expressão de quem realmente queria entender.

Eu sorri, puxando meus livros e cadernos da mochila.

— Que tal começarmos com os deuses principais? Zeus, Poseidon, Hades... — Apontei para os nomes nos meus apontamentos.

Michael fez uma careta leve e brincou:

— O básico. Legal, assim eu não pareço tão perdido.

Eu ri, me sentindo um pouco mais à vontade, enquanto explicava sobre cada um dos deuses e suas histórias. Aos poucos, o tempo passou, e a conversa entre nós fluía mais fácil do que eu imaginava. Talvez porque, no fundo, eu sabia que, apesar da diferença entre nossos mundos, havia algo ali, algo que nenhum de nós parecia saber como lidar.

Naquele momento, enquanto eu falava sobre mitologia, eu não era apenas "a gêmea nerd". E ele não era só "o garoto popular". Nós éramos apenas dois adolescentes tentando entender o mundo... e, quem sabe, um ao outro.

Meu PercussionistaOnde histórias criam vida. Descubra agora