Capítulo 2

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POV. Enid

Eu não estava esperando por isso.

Sério, eu até sou boa em me adaptar às surpresas da vida, mas quando ela cruzou a porta da minha sala de aula, foi como se o universo tivesse decidido me pregar uma peça de muito bom gosto.

Ela entrou com aquele ar de mistério e morte iminente que, admito, me intrigava pra caramba.

Todos os olhos na sala se voltaram para ela, afinal, não é todo dia que se vê uma garota vestida de preto da cabeça aos pés, parecendo uma personagem saída direto de um filme gótico dos anos 80.

Mas eu, bem, eu estava lá de boca aberta, tentando processar que a garota que me deu um fora com um sarcasmo mortal no dia anterior agora estava na minha sala de química.

O professor não perdeu tempo. Ele bateu na mesa e disse com sua voz monótona:

— Esta é Wednesday Addams. Vamos dar as boas-vindas a ela. E, Wednesday, você pode se sentar… Ah, ali.

Ele apontou diretamente para a minha bancada onde havia um lugar vago.

E, claro, só podia ser comigo. Porque, no maravilhoso universo de Enid Sinclair, não existe coincidência sem uma dose de ironia do destino.

Wednesday me olhou por um segundo. Seus olhos negros pareciam julgar se eu era digna de sua presença, e com um suspiro quase imperceptível, ela caminhou lentamente até a bancada.

Confesso, eu estava boquiaberta, mas rapidamente recuperei a compostura.

Ela se sentou ao meu lado, sem me dar muita atenção. Eu, é claro, não ia deixar isso barato.

— Então, Addams né? — comecei, inclinando-me levemente para ela.

— Legal te ver por aqui — continuei sendo descaradamente ignorada.

Ela virou a cabeça na minha direção, os olhos semicerrados com uma expressão que misturava tédio e desprezo.

— Um infeliz acaso do destino.

Toquei meu queixo, fingindo ponderar.
— Ah, não precisa dessa marra toda, vai que é uma forma do universo dizer que podemos ser... Amigas?

Ela não respondeu de imediato, apenas focou seu olhar no caderno de química. Quando finalmente falou, foi com aquele tom frio e irônico que eu já começava a adorar. – Eu não faço amigos... E se fizesse, você estaria fora de cogitação.

Eu sorri – Tão doce... Addams.

Ela levantou os olhos, me encarando como se eu fosse algum tipo de experimento fracassado – Tão sem noção... Sinclair – disse ela lendo meu nome gravado no caderno.

Antes que eu pudesse responder, o professor começou a explicar o experimento do dia, algo sobre reagentes e neutralização que honestamente não prendeu minha atenção.

Eu estava muito ocupada rindo por dentro da nossa troca. Ela podia tentar ser toda sombria e distante, mas eu sabia que estava me divertindo tanto quanto eu.

Enquanto misturávamos os compostos na bancada, eu não consegui resistir.

— Sabe, Wed... Posso te chamar de Wed, né? Você devia tentar sorrir mais.

Ela me lançou um olhar mortal.

— Tá bom, já parei nervosinha.

Ela ficou em silêncio por alguns segundos, depois murmurou algo entre dentes, que soava muito como "desagradável" ou "insuportável".

A aula passou nesse jogo de empurra-empurra verbal. Toda vez que eu soltava uma piada ou uma cantada porque, sim, eu não sou de perder uma oportunidade, ela respondia com um sarcasmo afiado. E eu? Bem, eu me divertia como nunca.

Wednesday era uma fortaleza, mas eu estava determinada a pelo menos fazer uma rachadura naquela muralha sombria.

Quando o sinal tocou, liberando a turma para o intervalo, eu me levantei, me alongando preguiçosamente.

Wednesday começou a sair da sala sem sequer me lançar um olhar. Claro, eu não ia deixar ela escapar tão fácil.

Antes que ela chegasse à porta, estiquei o braço e segurei seu pulso levemente.

— Ei, vai sair assim? — perguntei, minha voz carregada de malícia.

Wednesday parou. Lentamente, ela virou a cabeça na minha direção, o olhar afiado como uma faca.

— Sim e se você não soltar meu pulso, vai perder essa mão.

Eu ri, soltando-a imediatamente.
— Relaxa, eu só estava te testando. Você é ainda mais difícil de conquistar do que imaginei.

Ela puxou o braço de volta e ajeitou a manga da blusa, com uma paciência irritantemente calma — Enid, se eu fosse um teste, você teria falhado miseravelmente. Agora, se me dá licença…

E, com isso, Wednesday saiu da sala, me deixando sozinha. Sozinha por uns dois segundos, pelo menos, porque logo Yoko e Bianca apareceram com aquele olhar que eu conhecia bem, o olhar que dizia:
"precisamos falar sobre isso AGORA".

— O que foi isso? — perguntou Yoko, os olhos brilhando de curiosidade.

— Sei lá... Tava tentando quebrar o gelo.

— Mais fácil derreter o Everest — disse Bianca, rindo — Mas sério, que garota estranha.

Eu dei de ombros, ainda sorrindo — Do jeito que eu gosto.

Yoko cruzou os braços, pensativa

— Eu ouvi dizer que ela é nova na cidade. Mora com os pais e a família toda é meio excêntrica.

— Excêntrica... Parece a palavra perfeita pra ela — respondi, piscando — Isso vai ser divertido.

Bianca riu, me cutucando de leve — Só toma cuidado, Enid. Essa garota tem cara de quem vira o jogo enquanto você ainda tá aprendendo a mexer as peças.

Eu ri, balançando a cabeça — Pode deixar. Eu sei me cuidar.

Elas balançaram a cabeça, rindo, e começamos a andar em direção ao refeitório. Mas, enquanto seguíamos, eu ainda sentia o fantasma do toque frio de Wednesday nas minhas mãos. E, por mais que tentasse disfarçar, a verdade era que eu estava completamente intrigada por aquela garota sombria e sarcástica.

Isso só estava começando.

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Bjooos ❤️

_Débzz

Skater Girl - WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora