Capítulo 20

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POV. Wednesday

A biblioteca estava vazia, do jeito que eu gostava. Silêncio absoluto, sem distrações, apenas a companhia dos livros.

Peguei o primeiro volume que encontrei, algo sobre criptografia antiga, mas meus olhos sequer conseguiam se concentrar nas palavras. Eu tentava forçar minha mente a focar, mas a lembrança de Enid invadia meus pensamentos sem piedade.

A tarde anterior... o toque dela, o calor dos seus lábios contra os meus... Eu não deveria estar pensando nisso. Não era lógico, não era seguro. Mas a verdade era simples: eu estava assustada.

Assustada com o que sentia por ela.

Cada provocação, cada sorriso malicioso de Enid me puxava mais fundo para algo que eu não sabia como controlar. E eu odeio perder o controle.

Mas, claro, justo quando meus pensamentos se tornavam um labirinto sem saída, o diabo em pessoa apareceu.

Enid estava parada na porta da biblioteca, aquele sorriso sacana no rosto, como se soubesse exatamente o que eu estava pensando.

— Sabia que estaria aqui. — Ela cruzou os braços, entrando com confiança no espaço.

Eu suspirei, já sentindo o incômodo crescer dentro de mim. Odiava o fato de que ela me conhecia bem demais. Fechei o livro com mais força do que o necessário e me virei para encará-la.

— Você é maluca? O que foi aquilo na mesa? — Minha voz saiu mais irritada do que eu planejava, mas eu estava mesmo irritada. Com ela. Comigo. Com tudo.

Enid, claro, não se intimidou nem por um segundo. Ela se aproximou, com aquele brilho nos olhos que dizia que estava se divertindo às minhas custas.

— Ah, não foi nada demais. Só queria te lembrar que estou aqui, caso você tenha esquecido.— Ela arqueou uma sobrancelha, o sorriso ainda presente.

— Esquecer? Como eu poderia esquecer com você agindo como uma completa... — Eu parei, incapaz de encontrar a palavra certa. Nada parecia suficiente para descrever o que eu estava sentindo. Mas antes que eu pudesse terminar, Enid se aproximou ainda mais, fechando a distância entre nós em passos calculados.

Ela me empurrou gentilmente contra uma das prateleiras, seus olhos fixos nos meus, e de repente a minha irritação foi substituída por outra coisa. Algo muito mais intenso.

— Sabe o que eu acho, Wednesday? — ela murmurou, sua voz baixa, mas carregada de malícia. — Você está complicando demais uma coisa bem simples.

— Simples? — perguntei, minha respiração ficando um pouco mais pesada à medida que ela se aproximava.

— Muito simples. — E então, antes que eu pudesse pensar em uma resposta, seus lábios estavam nos meus.

O beijo foi tudo, menos gentil. Foi apressado, faminto, cheio de uma tensão que vinha crescendo desde a tarde anterior.

Eu deveria ter empurrado ela de volta, resistido... mas, claro, não o fiz. Em vez disso, minhas mãos agarraram a cintura dela, puxando-a ainda mais para perto, como se isso pudesse de alguma forma acalmar o fogo que estava crescendo dentro de mim.

— Você... é... irritante. — murmurei entre um beijo e outro, minha voz entrecortada.

— E você... adora isso. — Enid riu contra meus lábios, sua mão subindo para segurar a minha nuca, me mantendo firmemente contra a prateleira.

Cada palavra, cada provocação só fazia o calor aumentar, e eu me odiava por estar gostando tanto disso. Mas eu não podia deixar que ela tivesse a última palavra. Não Enid.

— Ontem... não terminamos o trabalho. — Eu consegui dizer, mesmo com o coração batendo rápido demais no peito.

Enid se afastou apenas o suficiente para olhar nos meus olhos, um sorriso de canto surgindo em seus lábios.

— Quer fazer na sua casa ou na minha? — Ela perguntou, e o duplo sentido era impossível de ignorar.

Minha mão instintivamente subiu e bateu no braço dela, um gesto meio desesperado para não demonstrar que ela havia me pegado de surpresa.

— Idiota! — Eu resmunguei, tentando recuperar minha postura. — Na minha. Às 14h. — Completei, porque, de fato, nós ainda tínhamos que terminar o trabalho de verdade.

Enid riu, aquela risada leve e despreocupada que eu não deveria achar tão cativante. Eu me virei, pegando o livro que tinha caído no chão e ajeitando minha roupa como se nada tivesse acontecido, mesmo que eu sentisse o sangue correndo rápido demais em minhas veias.

— Até lá, Addams. — Ela murmurou, antes de se afastar.

Eu a observei sair da biblioteca, e só então percebi o quão ridiculamente quente estava naquele lugar. Suspirei fundo, tentando me acalmar, enquanto guardava o livro de volta na prateleira. Precisávamos sair dali antes que alguém as visse.

— Vamos logo, antes que alguém resolva aparecer. — Eu disse, me dirigindo para a porta.

Enid, claro, apenas sorriu, como se toda essa situação fosse a coisa mais divertida do mundo.

E talvez fosse para ela.

Mas eu sabia que aquilo só iria complicar ainda mais as coisas. E, de algum jeito, eu não me importava tanto com isso quanto deveria.

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Espero que tenham gostado ❤️

_Débzzz

Skater Girl - WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora