Um saco de batatas ou uma donzela

12 3 2
                                    


Sem muita cerimônia, ele se aproximou da primeira cama disponível e, sem sequer olhar, arremessou Livan de qualquer jeito, fazendo-o cair de forma desajeitada sobre o colchão. O impacto foi forte o suficiente para Livan soltar um gemido de dor misturado com surpresa.

"Ah, sério?!" Livan reclamou, tentando se ajeitar na cama. "Você ainda está me tratando como um saco de batatas e a Lílares como uma joia rara? Que favoritismo é esse?"

Obscuro, ignorando completamente os protestos de Livan, virou-se para colocar Lílares com uma delicadeza surpreendente na cama ao lado. Ele ajustou o travesseiro para ela e até verificou se estava tudo bem antes de dar um passo para trás, o rosto sempre inexpressivo.

Lílares, ainda surpresa com o cuidado de Obscuro, olhou para ele com um leve sorriso, meio divertida com a cena. "Bom, parece que alguém aqui sabe ser gentil."

Livan, deitado na outra cama, bufou, claramente descontente. "Ah, sim, porque eu definitivamente não mereço a mesma atenção. Vou lembrar disso na próxima luta!"

Obscuro sequer olhou para Livan, simplesmente se concentrando em verificar o estado de Lílares, ajudando-a a se ajeitar na cama e se certificando de que a mana dela estava estável. Seu silêncio diante das reclamações de Livan só fez aumentar a frustração do rapaz.

Lílares, achando tudo muito engraçado, não conseguiu evitar outra provocação. "Vai ver ele só gosta de salvar donzelas em perigo, Livan. Você, infelizmente, não se encaixa."

Livan revirou os olhos, ainda deitado de qualquer jeito. "Se eu fosse a donzela, estaria com azar. Porque o cavaleiro me largaria no meio da estrada."

Obscuro, finalmente, lançou um olhar rápido para Livan, mas apenas com o canto dos olhos, sem dar atenção real. Depois, voltou sua atenção para Lílares, sem dizer nada. Mesmo assim, o silêncio era quase uma resposta - ele não se importava com as queixas de Livan, o que só deixava o rapaz ainda mais irritado.

"Ótimo, vou me curar sozinho, então. Não preciso de um cavaleiro mal amado," Livan murmurou,embora houvesse um toque de humor em suas palavras, já acostumado à maneira fria de Obscuro.

Obscuro, ainda sério e focado, se aproximou de Lílares, preocupado com a forma como a luta tinha intensificado a energia de mana deles. Sem perder tempo, ele inclinou-se e colocou o ouvido perto do peito dela, tentando escutar seu coração e verificar se havia algo errado com a circulação de mana.

Lílares congelou por um segundo, sentindo o rosto esquentar levemente. Era uma atitude inesperada para alguém tão frio como ele. O toque era inesperadamente cuidadoso e a proximidade a fez segurar a respiração por um momento.

Livan, deitado na cama ao lado, não perdeu a chance de fazer outra piada. "Ah, claro, agora você vai fazer exames médicos nela enquanto eu tô morrendo aqui... literalmente!" Ele exagerou, fingindo um gemido dramático.

Obscuro nem se deu ao trabalho de se levantar ou de olhar para Livan. "Fica quieto, Livan. Já vou ver você."

Lílares soltou uma risada suave, a tensão momentaneamente desaparecendo. Ela olhou para Livan, que estava visivelmente frustrado, mas claramente só estava se divertindo. "Acho que você vai ter que esperar a sua vez, Livan," ela provocou, ainda rindo.

Livan revirou os olhos teatralmente. "Ótimo, mas se eu virar um fantasma antes de você terminar, senhor 'médico', eu vou te assombrar para sempre, Obscuro."

Obscuro finalmente levantou a cabeça, satisfeito com o que ouviu. "Seu coração está estável," disse ele para Lílares, completamente ignorando as falas de Livan. Em seguida, ele se virou lentamente em direção à outra cama, onde Livan estava.

"Agora, vamos ver o que você quebrou."

Kai entrou no quarto com sua energia de sempre, como se nada estivesse acontecendo. Com um sorriso travesso, ele correu e, sem pensar duas vezes, pulou diretamente na cama de Lílares, aterrissando ao lado dela com um impacto suave, como se estivesse pulando em um colchão de festa.

"Olha só quem tá aqui! Não se preocupe, estou aqui pra te ajudar a trocar de roupa Lílares!" disse Kai, rindo, já fazendo graça.

Lílares arregalou os olhos, surpresa, e tentou falar algo, mas o impacto do salto a deixou sem palavras por um segundo. Livan, da outra cama, começou a rir, claramente adorando a situação.

Obscuro, no entanto, parou o que estava fazendo e ficou olhando para Kai, impassível, mas com aquela seriedade que dava um certo calafrio. O ambiente ficou tenso por alguns segundos, até que Kai finalmente percebeu o olhar penetrante e sombrio de Obscuro. O sorriso de Kai murchou levemente.

"Ei, calma aí, Obscuro, era só uma brincadeira, tá tudo de boa..." tentou se justificar, mas a expressão de Obscuro não mudou.

Sem dizer uma palavra, Obscuro deu dois passos em direção a Kai, pegou-o pelo colarinho com uma mão e, com uma facilidade assustadora, o levantou da cama. Kai ainda tentou protestar, mas antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, Obscuro o lançou pela janela aberta, como se estivesse jogando algo completamente insignificante.

"AaaaAAaaAAAAhhh!" Kai gritou, desaparecendo pela janela enquanto Livan, que assistia a tudo, se contorcia de tanto rir, quase caindo da cama.

Lílares olhou para a janela com a boca aberta, surpresa, e depois para Obscuro, que simplesmente ajustou sua postura, como se nada tivesse acontecido.

"Ele vai cair bem, só estamos no 3° andar" disse Obscuro com tranquilidade, como se aquilo fosse a coisa mais comum do mundo.

Depois que Obscuro se certificou de que Kai não estava mais em seu campo de visão, ele virou-se para Livan, que estava tentando conter a risada. No entanto, a expressão de Obscuro logo se tornou séria novamente ao lembrar-se da condição de Livan.

Ele se aproximou da cama de Livan e avaliou suas feridas. "Você precisa de ajuda," disse Obscuro, a voz ainda grave. Com um movimento firme, ele começou a fazer o necessário para cuidar das feridas de Livan, usando a energia de mana que emanava dele.

Livan observou enquanto Obscuro se concentrava. "Ei, não precisa ser tão brusco, você não está tentando me descascar, certo?" ele provocou, mesmo enquanto a dor pulsava em seu peito. A ironia da situação não escapou a ele; era quase cômico como Obscuro tratava as coisas.

Obscuro o ignorou novamente, seu foco absoluto nas feridas. Ele colocou as mãos sobre o peito de Livan, a energia pulsando como uma luz suave. A mana de Obscuro parecia ter um efeito tranquilizante, e Livan logo sentiu a dor diminuir gradualmente enquanto a mana tratava as feridas.

"Você realmente se excedeu desta vez," Obscuro murmurou, mais para si mesmo do que para Livan, enquanto a mana envolvia a ferida como uma luz azulada, fechando lentamente os cortes e curando os machucados.

Livan, agora com uma expressão mais relaxada, não pôde deixar de sorrir. "Você sabe, para um tio, você tem um jeito interessante de cuidar das pessoas. É quase... adorável."

Obscuro não respondeu, mas a menor mudança em sua expressão sugeriu que ele estava ciente do comentário, embora tentasse ignorá-lo.

Lílares observava a cena, um sorriso se formando em seus lábios. "Olha só, Livan, você e o Obscuro, formando uma bela dupla. Agora você só precisa de uma capa."

"Uma capa? Você acha que isso me ajudaria a parecer mais badass?" Livan brincou, ainda aproveitando a energia da mana ao redor dele. "Porque eu sinto que estou mais pra vilão com esse tratamento VIP."

Obscuro finalmente terminou de tratar as feridas, recuando para verificar o que havia feito. "Pronto. Você deve se sentir melhor agora."

"Sim, obrigado, oh grande Obscuro," Livan respondeu, fazendo uma reverência exagerada na cama. "Quem diria que um dia eu seria tratado como um príncipe de batatas?"

Obscuro apenas balançou a cabeça, sem demonstrar qualquer emoção, mas havia uma leve satisfação em seu olhar. Ele finalmente permitiu a si mesmo um breve momento de leveza, sabendo que, por trás de toda a escuridão, havia um laço que se fortalecia entre eles.

Acreditando em algo que nunca aconteceu Onde histórias criam vida. Descubra agora