No sonho de Lílares, a paisagem ao redor se dissolveu em névoa até que, diante dela, surgiu uma grande sala de trono, iluminada por candelabros imponentes. No centro, duas crianças estavam brigando ferozmente. Elas eram idênticas, com feições angelicais, mas o contraste entre suas roupas e comportamentos era gritante.
A primeira menina, a mais bela e serena, usava um vestido vermelho profundo, que parecia refletir sua natureza tranquilamente. Mesmo em meio à disputa, seus movimentos eram graciosos e calculados, como se ela estivesse tentando manter a compostura, apesar da tensão. A outra criança, com um vestido azul extravagante, era o oposto: dramática, gesticulando exageradamente, sua expressão revelando um misto de raiva e frustração. Ambas lutavam por dois objetos que brilhavam sobre um pedestal: uma coroa dourada e um cálice adornado com pedras preciosas.
As palavras entre elas eram indistintas, mas o conflito era claro - as duas queriam a coroa e o cálice para si, e nenhuma parecia disposta a ceder. Lílares observava em silêncio, sentindo-se como uma espectadora em uma cena antiga, mas sem saber o que aquilo significava.
De repente, um homem alto e imponente entrou no salão. Sua presença era ameaçadora, e as crianças pararam de lutar imediatamente ao vê-lo. Seus olhos severos varreram a sala, e ele se dirigiu diretamente à menina de vestido vermelho. Sem qualquer explicação, ele a apontou e declarou em voz fria e autoritária: "Você é a culpada. Toda essa desordem é por sua causa."
A menina de vestido vermelho, surpresa e incrédula, tentou protestar. "Mas... eu não fiz nada! Foi ela quem começou!" Ela apontou para a irmã de azul, mas o homem nem sequer olhou para a outra criança.
"Silêncio!" ele ordenou, com uma dureza que fez a menina recuar. "Você será punida por sua desobediência e por causar discórdia."
Lílares sentiu uma onda de injustiça atravessar seu peito. Era óbvio que a menina de vestido vermelho não era a culpada, mas mesmo assim, ela foi acusada. A outra criança, a de vestido azul, sorriu de canto, como se soubesse que o favoritismo estava a seu favor.
Enquanto o homem se aproximava para aplicar a punição, a cena começou a se desfazer, e Lílares sentiu sua mente girar com perguntas. Quem eram aquelas crianças? O que representavam a coroa e o cálice? E por que a injustiça parecia ser tão central naquele sonho?
Enquanto a cena no sonho de Lílares começava a se dissolver, a menina de vestido azul parou de sorrir para a irmã e, de repente, voltou seus olhos diretamente para Lílares. Era como se ela soubesse da presença de Lílares o tempo todo, mesmo sendo apenas uma espectadora invisível. Seus olhos brilhavam com uma intensidade perturbadora, um misto de triunfo e algo mais sombrio.
"Eu estou voltando..." sussurrou a menina, com um sorriso malévolo que crescia lentamente em seu rosto. A voz dela ecoava na mente de Lílares, como se tivesse um peso além das palavras comuns, algo mais profundo, quase ameaçador.
O olhar da menina parecia penetrar na alma de Lílares, deixando um arrepio em sua espinha. A sensação de que aquilo não era apenas um sonho tomou conta dela - algo real, algo que ela ainda não entendia completamente, estava prestes a acontecer.
Lílares tentou dizer algo, mas as palavras ficaram presas em sua garganta. Antes que pudesse reagir, a menina de azul desapareceu junto com o resto da cena, deixando um vazio e uma inquietação persistente no ar. Quando a escuridão do sonho finalmente tomou conta, o sussurro da menina ainda ecoava na mente de Lílares: "Estou voltando..."
Ela acordou de sobressalto, o coração disparado e a sensação de perigo iminente pulsando em seu corpo. O que quer que esse sonho significasse, a ameaça parecia real, e Lílares sabia que o retorno da menina de vestido azul não seria algo bom.
Lílares se sentou bruscamente na cama, o coração batendo descompassado e o corpo coberto de suor frio. As imagens do sonho ainda estavam frescas em sua mente - a menina de vestido azul, o olhar cruel e o sussurro: "Eu estou voltando." Mas, à medida que sua respiração se acalmava, algo mais profundo começou a emergir de suas lembranças. Uma memória antiga, esquecida no tempo... ou talvez enterrada de propósito.
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Acreditando em algo que nunca aconteceu
De TodoEm um mundo onde dimensões se entrelaçam e a magia é uma realidade palpável, uma jovem menina carrega o peso de um legado sombrio. Após a morte trágica da princesa, ela entra em uma academia do império, onde se depara com pessoas de sua vida passad...