Taehyung permaneceu ajoelhado por longos minutos, seus lábios murmurando orações mecânicas, enquanto sua mente vagava para o rosto de Clara. Cada vez que seus olhos se fechavam, a lembrança dela ficava mais nítida, mais irresistível. O rosário entre seus dedos, normalmente uma fonte de consolo, parecia frio e distante, incapaz de aliviar o fogo que ardia em seu interior."O que eu estou fazendo?" Ele se perguntou, com um peso na voz. As palavras eram frágeis diante da força do que sentia. Mesmo sabendo que era errado, ele não conseguia afastar os pensamentos sobre Clara — a leveza de seu sorriso, o calor de sua pele próxima à dele no riacho. Taehyung estava preso entre dois mundos, o do espírito e o da carne, e os limites entre eles se desfaziam mais rapidamente do que ele podia controlar.
Ao levantar-se do banco de madeira, sentiu o peso da responsabilidade afundar em seus ombros novamente. As paredes da igreja, que antes o protegiam, agora pareciam aprisioná-lo. O silêncio do local, tão reconfortante antes, agora soava como uma condenação. Ele queria fugir, mas fugir para onde? Para Clara? Ela era o motivo do seu conflito, mas também parecia ser a única saída. Só de pensar nisso, uma onda de vergonha e desejo o invadiu, e ele apertou os punhos em frustração.
De repente, o som de passos ecoou pelo corredor vazio da igreja. Taehyung se virou bruscamente, seu coração acelerado, pensando que talvez fosse Clara. Mas, em vez disso, era o pároco mais velho da igreja, o Padre João, que entrou na sala com um sorriso cansado.
"Taehyung, está tudo bem?" O padre perguntou com suavidade, notando a tensão no rosto do jovem.
Taehyung endireitou a postura e forçou um sorriso. "Sim, Padre João, apenas... refletindo."
O padre mais velho assentiu com compreensão. "Reflexões são boas, mas lembre-se de não se afogar nelas. O silêncio da igreja pode amplificar nossos pensamentos, tanto os bons quanto os ruins."
"Sim, claro," Taehyung respondeu automaticamente, mas as palavras do padre só reforçaram o tumulto que estava sentindo. Quando o Padre João se afastou, deixando Taehyung novamente só, o jovem sentiu-se ainda mais inquieto. O que ele deveria fazer? Quanto mais ele tentava fugir desses sentimentos, mais intensos eles se tornavam.
Tomado por uma súbita onda de impulsividade, Taehyung decidiu que precisava de respostas — precisava confrontar Clara. Ele não sabia o que diria, nem como ela reagiria, mas precisava vê-la. Pegou seu casaco e saiu apressado da igreja, ignorando o vento frio que varria as ruas da cidade.
O caminho até a casa de Clara parecia mais longo do que de costume. Cada passo aumentava sua incerteza, mas também sua necessidade de colocar um fim naquele tormento interno. Ao chegar em frente à porta de sua casa, Taehyung hesitou, mas, antes que pudesse reconsiderar, bateu duas vezes na madeira.
Clara abriu a porta poucos segundos depois, seus olhos se arregalando levemente ao vê-lo ali, sem aviso. "Taehyung?" ela perguntou, surpresa. "O que está fazendo aqui?"
Taehyung olhou para ela, sentindo o coração bater forte no peito. "Eu... precisava falar com você," disse ele, a voz trêmula. As palavras pareciam presas na garganta, mas a necessidade de vê-la superava qualquer hesitação.
Clara o observou em silêncio por um momento, percebendo a tensão em seus ombros, e abriu a porta um pouco mais. "Entre."
Ele entrou, sentindo-se fora de lugar no ambiente acolhedor da casa de Clara, como se a santidade da igreja ainda o envolvesse, mas estivesse sendo desafiada por aquele espaço íntimo. A sensação de proximidade com Clara o deixava inquieto.
Clara sentou-se no sofá, e ele ficou de pé, como se não soubesse onde pertencia. "O que está acontecendo, Taehyung? Você parece... aflito."
Taehyung passou a mão pelos cabelos, frustrado, sem saber como expressar o que sentia sem parecer louco. "Eu não consigo... não consigo parar de pensar em você." As palavras saíram com dificuldade, mas uma vez ditas, não havia como voltar atrás. "Eu sei que não deveria. Eu sei que fiz votos. Mas toda vez que estou longe de você, parece que estou... dividido."
Clara olhou para ele com uma mistura de surpresa e tristeza. "Taehyung, eu nunca quis te colocar nessa posição. Eu... sinto muito."
"Não, não é sua culpa," ele rapidamente corrigiu, sentindo a necessidade de protegê-la de qualquer culpa. "Isso é comigo. É minha fraqueza, minha incapacidade de seguir o que prometi. Mas você... você é tudo o que eu tento ignorar e não consigo. E isso me destrói por dentro."
Clara se levantou, aproximando-se dele com cautela. "Taehyung, eu também sinto algo por você. E isso me assusta tanto quanto te assusta. Mas nós não podemos ignorar o que você escolheu, o caminho que você seguiu."
Taehyung abaixou a cabeça, seus olhos fixos no chão. Ele sabia que ela estava certa, mas isso não tornava a dor mais fácil de suportar. A presença dela, tão próxima, era como um ímã, e ele queria tanto quanto temia o que poderia acontecer a seguir.
Quando Clara estendeu a mão para tocar a dele, o gesto foi ao mesmo tempo suave e devastador. O toque enviou uma corrente de eletricidade pelo corpo de Taehyung, acendendo todos os desejos que ele tentava sufocar. "Clara..." ele murmurou, sem forças para se afastar.
O que aconteceu depois parecia inevitável. Taehyung puxou Clara para mais perto, o calor entre eles aumentando. Por um momento, ele esqueceu os votos, a culpa, tudo o que o mantinha preso. Seus lábios pairaram a milímetros dos dela, a tentação do beijo que ele havia imaginado tantas vezes prestes a se realizar.
Mas, no último instante, algo dentro de Taehyung gritou mais alto do que o desejo. Ele se afastou abruptamente, respirando com dificuldade, as mãos trêmulas. "Eu... não posso."
Clara olhou para ele, os olhos cheios de compreensão e uma tristeza silenciosa. Ela sabia que, apesar de tudo, eles estavam presos em mundos diferentes, separados por uma linha que, se cruzada, teria consequências devastadoras para ambos.
Taehyung deu um passo para trás, lutando para recuperar o controle sobre si mesmo. "Eu preciso ir," ele disse com a voz fraca. E, sem esperar por uma resposta, ele saiu da casa de Clara, deixando para trás uma mistura de alívio e arrependimento.
Do lado de fora, sob o céu estrelado, Taehyung olhou para o horizonte e soube que, de alguma forma, essa batalha interna estava longe de terminar. O que ele sentia por Clara era forte demais para ser ignorado, e a culpa que o seguia era uma sombra constante.
Ele sabia que não poderia continuar assim. Mas também sabia que Clara, de uma forma ou de outra, já havia se tornado parte dele.
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Entre a fé e o desejo
Romancetaehyung, um jovem padre coreano recém-ordenado chega a uma cidade vibrante no Brasil. Escondendo um lado mais rebelde, ele possui inúmero segredos que simbolizam suas experiências e sentimentos profundos. Sua vida muda ao conhecer Clara, uma artist...