A Decisão Final

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Os dias após o encontro com Clara se tornaram um turbilhão de emoções. Cada oração que Taehyung tentava recitar parecia mais vazia, as palavras desvanecendo antes mesmo de deixar seus lábios. A batina, que antes o fazia sentir pertencente a algo maior, agora parecia sufocá-lo, como se estivesse preso em uma vida que não lhe pertencia mais.

Naquela manhã, ao olhar-se no espelho mais uma vez, ele soube que a decisão já estava tomada dentro de si. As dúvidas, os conflitos... tudo parecia desnecessário diante da verdade que se revelava com clareza: ele não podia mais ser o homem que a igreja esperava que fosse. Não depois de Clara, não depois de redescobrir partes de si que ele havia enterrado.

Lentamente, começou a retirar o colarinho clerical, o tecido rígido que o identificava como padre. Os dedos deslizaram pelo tecido negro da batina, sentindo pela última vez a textura familiar. Quando desabotoou a última peça, ele se sentiu mais leve, como se cada camada de roupa que deixava o seu corpo fosse também uma camada de dúvida que se dissipava.

Taehyung sabia que não poderia voltar a ser o mesmo, mas também sabia que isso não o assustava mais. Havia algo de libertador naquela escolha. Ao se olhar no espelho, seu reflexo parecia diferente, mais intenso, mais verdadeiro.

Ele olhou para as tatuagens que já cobriam seus braços e peito — marcas de um passado que ele nunca poderia apagar, e que agora sentia que precisavam ser expandidas. Ele saiu do pequeno quarto da igreja com determinação. Era hora de abraçar o que ele sempre foi, sem medo de julgamento.

No estúdio de tatuagem, o som da máquina zumbia como música aos seus ouvidos. Taehyung observava o artista enquanto este deslizava a agulha sobre sua pele, expandindo os traços que já o marcavam. Linhas pretas e curvas ousadas cobriam suas costas agora, formando imagens que refletiam sua nova liberdade. A dor da agulha era quase um alívio para ele, um lembrete físico de que ele estava tomando as rédeas de sua própria vida.

Depois de horas no estúdio, ele saiu de lá não apenas com novas tatuagens, mas com um novo visual. Taehyung passou por uma loja de roupas que combinavam com a nova versão de si mesmo. Jeans rasgados, botas de couro pesadas e uma jaqueta preta, com detalhes em prata, que caía perfeitamente sobre seus ombros. O cabelo, antes arrumado de forma discreta, agora caía em um corte bagunçado, as pontas um pouco mais longas e despojadas, com um toque de rebeldia.

Aquela nova imagem refletia o que ele havia se tornado: alguém que não temia mais as próprias paixões.

Caminhando pelas ruas da cidade, ele sentia os olhares das pessoas sobre ele, e isso o fazia sorrir. Pela primeira vez em muito tempo, Taehyung não estava preocupado com o que os outros pensariam. Ele havia escolhido o seu caminho, e esse caminho o levava a Clara.

Quando finalmente chegou à casa dela, o sol já estava se pondo. O céu tingido de laranja e vermelho refletia o turbilhão que ainda pulsava dentro de si, mas de uma forma diferente agora. A intensidade que sentia não era mais de culpa ou repressão; era pura expectativa.

Clara abriu a porta e o encarou, surpresa. O homem à sua frente era uma versão de Taehyung que ela nunca tinha visto antes. A jaqueta de couro, o cabelo desarrumado, as tatuagens que pareciam mais nítidas e ousadas... Ele não era mais o padre que conhecera, mas o mesmo homem que sempre despertou algo profundo nela.

— Taehyung... — sua voz saiu baixa, cheia de surpresa.

Ele sorriu, aquele sorriso confiante que nunca havia mostrado antes.

— Clara, eu fiz a minha escolha. — Sua voz estava firme, sem hesitação. — Eu não sou mais um padre.

Ela deu um passo para trás, ainda tentando processar o que estava acontecendo.

— Você desistiu da igreja?

Taehyung se aproximou, pegando sua mão suavemente.

— Eu desisti de uma vida que nunca foi realmente minha. Eu não posso mais lutar contra o que sinto, contra quem eu sou. E o que eu sinto por você, Clara... eu não posso mais negar isso.

O coração de Clara disparou, e ela sentiu suas pernas fraquejarem com a intensidade do olhar dele. Taehyung, esse novo Taehyung, estava diferente de tudo o que ela imaginava. Aquele homem intenso, com o olhar ardente e um toque firme, era irresistível.

— Eu quero estar com você, Clara. Do jeito que eu sou agora, sem máscaras, sem barreiras. Eu quero viver essa vida ao seu lado — ele sussurrou, a voz baixa e rouca de desejo.

Clara olhou para ele, sentindo a mesma atração poderosa que sempre esteve lá, mas agora sem a barreira dos votos religiosos. Ela sabia que aquela nova versão de Taehyung era intensa, mas também era real. E no fundo, era o homem que ela sempre quis.

Ela sorriu, entrelaçando seus dedos nos dele.

— Eu também não quero mais lutar contra isso, Taehyung. Eu quero você... exatamente assim.

Agora, Taehyung estava livre de suas amarras. O bad boy que sempre esteve escondido por trás do padre finalmente emergiu, e com Clara ao seu lado, ele estava pronto para viver a vida de maneira intensa e verdadeira.

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