Ester estava deitada em sua cama, encolhida sob o cobertor. O quarto, mergulhado em sombras, parecia mais vazio do que nunca. As paredes, antes preenchidas com fotos e memórias, agora pareciam sufocantes. O som irritante do despertador ecoou pelo quarto silencioso, interrompendo o pouco de paz que ainda restava.
Ester (murmurando enquanto se vira na cama, com os olhos pesados):
- Droga... eu sempre esqueço de desligar essa porcaria...Ela esticou o braço com esforço, os dedos tremendo de cansaço, e silenciou o alarme com um toque brusco. Cada movimento parecia mais difícil do que o anterior. A porta abriu-se lentamente, e a figura de sua mãe entrou, sem bater.
Ester (com um suspiro pesado e olhos semicerrados):
- Quantas vezes eu já pedi pra bater na porta antes de entrar?Mãe de Ester (com um olhar cansado, mas determinado):
- E quantas vezes eu já te disse pra não ficar acordada até tão tarde?O silêncio entre as duas pareceu durar uma eternidade. Ester virou o rosto para a janela, observando o céu cinzento e sem vida lá fora.
Ester (com a voz baixa, quase sem emoção):
- Eu tenho 17 anos, mãe. Você não precisa mais me dizer o que fazer. Eu sei cuidar da minha vida... sozinha.A mãe suspirou, sem tentar discutir mais. Havia algo em Ester que parecia inalcançável, algo que ela não conseguia mais entender.
Mãe de Ester (em um tom mais suave, quase um sussurro):
- Eu só me preocupo com você, querida.Ester ficou em silêncio. Ela sabia que sua mãe estava preocupada, mas as palavras pareciam vazias, incapazes de preencher o vazio que sentia dentro de si.
Mãe de Ester (tentando quebrar o silêncio):
- O que você estava vendo no celular ontem à noite?Ester hesitou por um instante, sua mente vagueando por lembranças desconexas.
Ester (desinteressada, sem desviar o olhar da janela):
- Só umas publicações num grupo do Facebook.Mãe de Ester (com um leve tom de curiosidade):
- Que tipo de grupo?Ester (resposta curta, quase automática):
- De jogos. Aquele jogo que eu estava jogando ontem.Mãe de Ester (tentando parecer compreensiva, mas falhando em esconder sua confusão):
- Aquele jogo que te fez chorar? Nunca entendi isso... chorar por causa de um jogo...Ester apertou os olhos, como se aquelas palavras a incomodassem profundamente, mas ela não queria discutir. Ela não tinha forças para isso.
Ester (fria, cortante):
- Você nunca entenderia...Ela levantou-se da cama com movimentos lentos, como se o peso do mundo estivesse em seus ombros. Sua mãe a observava, querendo ajudar, mas sem saber como.
Mãe de Ester (num tom de voz cansado, quase derrotado):
- Vá se arrumar. E não esqueça de acordar seu irmão para levá-lo ao ponto de ônibus.Ester (sem se virar, a voz embargada):
- Por que eu sempre tenho que fazer isso? Ele pode ir sozinho.Mãe de Ester (com um tom mais firme, mas sem muita convicção):
- Ele só tem 7 anos. Não é seguro ele ir sozinho.Ester (sussurrando para si mesma):
- Nada é seguro.20 minutos depois
O silêncio da casa era quase sufocante. O céu lá fora permanecia cinza, sem dar sinais de vida. Ester desceu as escadas com passos pesados, acompanhada por seu irmão, que, apesar de jovem, parecia capturar parte daquela melancolia no ar.