Capítulo 9 - A Queda do Silêncio (Vol 1)

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Ester, Lea e Kate se encontraram em uma praça deserta ao cair da tarde. O ar estava pesado com uma tensão silenciosa, e as sombras das árvores alongavam-se no chão, projetando formas distorcidas que pareciam refletir a atmosfera entre elas. O céu, tingido de laranja e roxo, acrescentava um toque de melancolia ao ambiente.

Ester manteve-se afastada, os braços cruzados, e a expressão indecifrável em seu rosto contrastava com a inquietação visível de Kate, que parecia lutar internamente para processar a presença de Ester ali. A distância física entre elas refletia a distância emocional, com Lea tentando, silenciosamente, preencher aquele espaço vazio com uma presença calma.

O silêncio entre elas era quase palpável. Lea, tentando quebrar a rigidez do momento, mantinha-se atenta, observando cada movimento, mas sem forçar qualquer aproximação. Ela sabia que qualquer palavra naquele instante poderia desencadear emoções que talvez nenhuma delas estivesse pronta para enfrentar. Kate, por sua vez, oscilava entre a frustração e a dor, seus olhos traindo uma expectativa não correspondida. Era como se estivesse aguardando por algo - uma explicação, um gesto de reconciliação - que Ester, no entanto, nunca demonstraria.

Ester, por outro lado, parecia alheia a qualquer possível reconciliação. Seus olhos, sombrios e distantes, miravam o horizonte, como se tudo ao redor não passasse de um eco do passado. Não havia ressentimento, apenas uma aceitação fria e indiferente. O peso que antes carregava em relação a Lucy e Kate agora não existia mais, e o que restava era apenas uma firmeza gelada, uma ausência de sentimentos por aquilo que um dia pareceu ser tão importante.

A praça, com seu vazio e silêncio, parecia ser o palco perfeito para aquele encerramento. O vento leve balançava as folhas das árvores, mas nenhuma delas se movia, como se estivessem presas em suas próprias emoções. Kate respirava com dificuldade, tentando manter a compostura, mas a verdade estava clara em seus olhos: a Ester que ela conhecia não estava mais ali. Ester, por sua vez, estava firme em sua resolução, sua mente já longe de tudo aquilo.

A conversa que havia começado com tensões não resolvidas foi interrompida de forma brusca. Lea, com sua atenção sempre aguçada, percebeu o movimento suspeito ao redor da praça. Havia algo errado.

- Por onde começamos? - perguntou Lea, tentando trazer foco à conversa antes que algo maior surgisse.

Ester lançou um olhar impassível para Kate. O desconforto no ar estava claro, mas ela preferia lidar com tudo de forma rápida e sem rodeios.

- Kate, seja rápida e direta - respondeu Ester, sem paciência para rodeios emocionais.

Kate respirou fundo, claramente lutando para encontrar as palavras certas. Ela sabia que o que estava prestes a dizer não mudaria o que aconteceu, mas ainda sentia a necessidade de esclarecer as coisas.

- Eu só quero dizer que eu não queria que ficasse do jeito que ficou - começou Kate, seus olhos buscando algum resquício de empatia em Ester, que permanecia fria. - Eu fui atrás de você porque prometi a Lucy que tentaria ficar ao seu lado, mas você não me deu escolha e acabou que foi diferente de como ela queria que fosse.

Ester franziu o cenho, sua voz baixa, quase desprovida de emoção.

- Você queria ficar comigo por causa da Lucy? Tudo bem, mas se eu deixei claro que eu não queria você por perto, por que continua insistindo?

Kate hesitou, sentindo a verdade da pergunta cortar fundo. Mas ela não podia simplesmente deixar aquilo sem uma resposta.

- Mas eu acabei me apegando a você também - disse Kate, sua voz agora mais suave, quase em um murmúrio. - Você é incrível até saber que alguém se importa muito com você... Por isso eu entendo a Lucy, que fez de tudo que foi possível pra ficar com você, mas, infelizmente, isso não aconteceu.

Ester desviou o olhar, suspirando de leve, como se estivesse alheia ao peso emocional das palavras de Kate.

- Não te culpo por isso, mas sabe, é confuso às vezes - admitiu Ester. - E eu realmente não gosto de pessoas que são grudentas demais, sabe...

Kate estava prestes a responder, quando Lea interrompeu, seus olhos fixos em algo à distância.

- Kate e Ester, acho que temos companhia!

A tensão na praça subiu rapidamente. Kate olhou ao redor, notando um grupo de homens se aproximando, o que claramente não era coincidência.

- Esses caras não deixam a gente em paz. Lea, você está com sua arma? - perguntou Kate, já se preparando para o pior.

- Eu sempre ando com ela - respondeu Lea com firmeza, seus olhos já avaliando as opções de fuga.

- Que bom, porque vamos ter que proteger a Ester - disse Kate, agora mais determinada.

Ester olhou para o grupo que se aproximava, seu corpo tenso.

- São muitos, como vamos acabar com eles?

Lea manteve a calma, embora soubesse da seriedade da situação.

- Realmente são muitos, vamos ter que pegar o carro e despistá-los.

Sem perder mais tempo, as três correram em direção ao carro estacionado nas proximidades. O som dos passos apressados ecoava pela praça, enquanto os homens atrás delas aumentavam o ritmo. Quando entraram no carro, a perseguição começou, o motor rugindo enquanto Lea acelerava pelas ruas, deixando para trás o silêncio tenso da praça, agora substituído pela adrenalina de uma fuga iminente.

A situação se intensificou rapidamente. Ester assumiu o volante com firmeza enquanto Lea e Kate, posicionadas nos bancos de trás, trocavam tiros freneticamente com os carros inimigos que as perseguiam. O som ensurdecedor dos disparos e o rugido dos motores preenchia o ar, criando uma atmosfera de caos absoluto. Ester tentava manter o controle do carro enquanto os veículos inimigos se aproximavam cada vez mais.

As balas zumbiam ao redor, atingindo o asfalto e as laterais do carro, enquanto Lea e Kate revidavam o fogo, suas expressões tensas e focadas. O carro tremia a cada curva brusca que Ester fazia na tentativa desesperada de despistá-los. A tensão era palpável, e o suor escorria pelo rosto de Ester, que tentava controlar a direção enquanto sentia o peso da situação.

- Estão se aproximando! - gritou Kate, sua voz quase sendo abafada pelos tiros.

- Continuem atirando! - Lea respondeu, seu tom implacável, tentando manter o foco nos inimigos.

Mas, em meio à ação frenética, um tiro acertou a lateral do carro com força, fazendo com que Ester perdesse o controle. O veículo derrapou violentamente, os pneus guinchando contra o asfalto enquanto ela lutava para recuperar a estabilidade. O carro rodou em um ângulo perigoso, saindo da estrada e batendo com força em uma barreira lateral. O impacto foi brutal, lançando todos para frente, mas, por sorte, ninguém se feriu gravemente.

Ainda atordoadas pelo choque da batida, Ester, Lea e Kate tentaram se recompor. Mas antes que pudessem reagir, os carros inimigos já haviam cercado o veículo destroçado. Os homens saíram dos carros, armas em mãos, prontos para acabar com qualquer tentativa de fuga.

Antes que pudessem reagir, um dos homens se aproximou rapidamente e golpeou Ester na cabeça, fazendo com que ela desmaiasse instantaneamente. Lea e Kate, ainda zonzas da batida, não tiveram tempo de reagir antes de serem subjugadas de forma semelhante.

A escuridão tomou conta delas, enquanto seus corpos inconscientes eram carregados para dentro de um dos veículos inimigos. Sem saber para onde estavam sendo levadas, o destino agora estava nas mãos daqueles que as capturaram.

Raizes Da DivergençiaOnde histórias criam vida. Descubra agora