(3 anos atrás...)
Ester olhava preocupada para Lucy, percebendo uma inquietação incomum em sua amiga.
- Você está estranha, o que aconteceu?
Lucy, com um olhar distante e uma voz quase trêmula, respondeu:
- Não sei... eu só estou cansada.
- Eu percebi, tenha um bom descanso então - Ester tentou tranquilizá-la, mas havia algo no tom de Lucy que não parecia certo.
Lucy hesitou por um momento, o silêncio se arrastando entre elas, antes de soltar um suspiro pesado.
- Na verdade, estou com medo.
- Medo do quê? - Ester perguntou, sua expressão curiosa agora se tornando mais séria.
Lucy abaixou a cabeça, suas mãos tremendo ligeiramente.
- Medo de te perder, medo de um dia ficar longe de você. Dói demais pensar que nossa amizade... possa acabar em um piscar de olhos. Mas nem tudo acontece como a gente planeja, às vezes as coisas saem do controle, entende? E eu tenho medo que isso aconteça porque eu não quero ficar sozinha.
O coração de Ester apertou por um breve segundo, mas ela forçou um sorriso reconfortante.
- Eu entendo, mas não se preocupe.
Lucy levantou o olhar, fixando seus olhos nos de Ester com uma intensidade que quase a assustava.
- Por que não se preocupar com isso?
- Porque isso nunca vai acontecer, a gente sempre vai se falar todos os dias.
Lucy, desesperada por segurança, insistiu:
- Você promete?
- Eu prometo.
(De volta ao presente, o flashback ainda pesava na mente de Ester, mas o sentimento de culpa não a atingia mais como antes. Lucy, que antes havia sido uma figura tão importante em sua vida, agora era apenas uma lembrança distante, uma sombra de um tempo que já não a prendia. A promessa feita naquela época tinha perdido seu valor. Para Ester, Lucy representava um capítulo fechado, um eco de emoções que não tinham mais impacto. O que antes era dor e peso, agora era apenas vazio, sem significado.)
Ester despertou lentamente, os sentidos embaralhados enquanto a escuridão do ambiente envolvia sua visão. A dor em seu corpo a lembrava da batida do carro, e logo ela percebeu o peso nas mãos e nos tornozelos. Estava amarrada. O ar do quarto era pesado e frio, cheirando a mofo e cimento úmido.
A luz fraca que vinha de uma pequena janela no alto da parede mal iluminava o espaço, mas era o suficiente para que Ester visse Lea ao seu lado, também amarrada. O silêncio do lugar era perturbador, cortado apenas pelo som distante de passos e o leve zumbido de eletricidade, criando uma sensação de isolamento e perigo iminente.
Lea estava consciente, seus olhos buscando os de Ester, mas havia uma tensão palpável no ar, um misto de desespero silencioso e a urgência de escapar. O calor do medo começou a subir pelo corpo de Ester, misturado à adrenalina. Ela tentou se mover, mas as cordas cortavam seus pulsos, impossibilitando qualquer movimento brusco. Cada detalhe do quarto era vago, mas transmitia a frieza de um lugar esquecido, longe de qualquer esperança imediata de resgate.
O silêncio entre elas era pesado, um contraste ao caos que havia se desenrolado minutos antes, Ester olhou em volta, tentando decifrar o ambiente desconhecido enquanto o desconforto crescia.
- Onde a gente está? - perguntou, sua voz baixa, quase um sussurro no silêncio sufocante.
Lea, ainda se esforçando para entender a situação, respondeu: