A praça onde Ester e Kate estavam parecia um cenário tirado de um pesadelo, envolta por uma atmosfera sombria e pesada. À primeira vista, era um lugar comum, mas, sob a luz fraca da lua, ela se tornava um reflexo de tudo que ambas sentiam: vazio, desolação, e uma tristeza latente.
O gramado, que outrora poderia ter sido verde e vibrante, agora estava gasto, com manchas de terra seca e folhas mortas espalhadas por todo lado. Os bancos de madeira, envelhecidos pelo tempo e pela chuva, rangiam ao toque do vento frio que soprava através das árvores. Algumas lâmpadas do poste piscavam de forma errática, projetando sombras dançantes e irregulares no chão de pedra da praça, onde as folhas secas pareciam ecoar sussurros de lamentos antigos.
No centro da praça, uma velha fonte de pedra não funcionava mais. A água que deveria brotar de seu centro estava estagnada, criando um pequeno lago sombrio, com um reflexo turvo que distorcia tudo ao seu redor. Musgo crescia ao redor da base da fonte, e algumas flores, que em outro tempo poderiam ter sido coloridas e vivas, murchavam ao seu redor, como se fossem incapazes de florescer naquele ambiente melancólico.
As árvores ao redor eram grandes, com galhos retorcidos e folhas secas que caiam lentamente, como se o tempo ali passasse mais devagar. O ar estava pesado, carregando o cheiro de terra úmida e flores murchas, misturado com uma sensação de abandono e nostalgia. Não havia som de pássaros, apenas o farfalhar das folhas secas sendo movidas pelo vento, e o ocasional som distante de passos solitários ecoando nas calçadas vazias ao redor da praça.
Ali, naquela praça que parecia congelada no tempo, Ester e Kate se sentaram em um dos bancos, o silêncio entre elas preenchido pela opressiva escuridão e o eco de memórias dolorosas. A cada palavra que falavam, o ambiente parecia absorver ainda mais o peso de suas emoções, transformando a praça em um testemunho silencioso do fim de algo que nunca poderia ser reparado.
Ester - Naquela noite, parecia que tudo estava chegando ao fim. Mas, às vezes, o que parece ser o final é só o começo de uma escuridão que ninguém viu chegar. Todos sabem como terminou... mas ninguém sabe como realmente começou.
O silêncio entre as duas era cortante. Kate, amiga de Lucy, olhava para Ester com um misto de desconfiança e tristeza. A verdade que Ester escondia parecia ser mais profunda do que ela deixava transparecer. O vento frio daquela noite agitava as folhas ao redor, e o peso do que estava para ser dito tornava o ar mais pesado.
Kate - Você se arrepende? - a pergunta saiu quase como um sussurro, como se tivesse medo da resposta.
Ester olhou para o chão, como se estivesse perdida em um labirinto de lembranças dolorosas. Seu olhar, antes firme, agora vacilava.
Ester - Acho que não. Eu... não tinha motivos para me importar com ela. Eu tentei... eu juro que tentei... mas acabou assim. Acabou desse jeito. - sua voz, embora fria, tremia nas palavras finais, revelando uma vulnerabilidade que tentava esconder.
Kate a olhou com os olhos cheios de lágrimas, não de tristeza apenas, mas de frustração. Ela respirou fundo, contendo a dor que sentia por sua amiga, mas sem poder conter o que precisava dizer.
Kate - Eu entendo sua raiva pela Lucy. Eu vi o quanto vocês duas se machucaram, mas... se você tivesse dado mais uma chance... ela teria feito qualquer coisa para te fazer feliz. Ela estava disposta a tudo por você... Você não consegue ver isso?
Ester franziu a testa, sua expressão endurecendo novamente.
Ester - Mas não era a primeira vez, Kate. Não era a primeira vez que ela me deixava à beira da loucura. Eu não podia... - ela parou, tentando organizar seus pensamentos, mas a dor da culpa começava a se infiltrar em seu coração, lentamente, como veneno.