Felipe

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POV FELIPE
Desde pequeno, aprendi a ser invisível. Meu pai nunca esteve por perto o suficiente para notar qualquer mudança em mim, e minha mãe... Bem, ela estava sempre ocupada demais tentando garantir que houvesse um futuro melhor.

Enquanto ela trabalhava de sol a sol, eu crescia sozinho, cercado por paredes que pareciam ficar cada vez mais estreitas. A ausência do meu pai era uma constante, mas sua sombra estava sempre ali, pairando sobre cada decisão que eu tomava.

Ele nunca disse isso com todas as palavras, mas a verdade era clara: eu nunca seria o suficiente.

Minha mãe se matava de trabalhar por mim, eu sabia disso. Todo aquele esforço, toda aquela dedicação... Ela dizia que fazia por mim, que eu teria oportunidades que ela nunca teve.

Mas, às vezes, eu me perguntava se ela sequer me conhecia de verdade. Será que ela sabia que, por trás das boas notas que eu trazia da escola, havia um garoto que se sentia perdido?

Que odiava o fato de que tudo parecia ser tão difícil para nós enquanto os outros tinham suas vidas fáceis?

Eu queria odiar meu pai por nos abandonar, mas, no fundo, eu sentia falta de alguém para me guiar, para me mostrar como ser um homem. E essa falta foi me corroendo.

Quando surgiu a oportunidade de fazer intercâmbio, foi como se uma luz tivesse aparecido no fim de um túnel que parecia não ter fim. Talvez, na Alemanha, eu pudesse ser alguém diferente. Alguém que não carregava o peso de um pai ausente e de uma mãe exausta.

Lá, eu poderia ser livre.

Mas a liberdade é uma ilusão.

Quando conheci S/N, pela primeira vez em anos, senti que havia encontrado um pedaço de mim que faltava. Ela era como eu: deslocada, tentando encontrar seu lugar em um país estranho.

Com ela, eu não precisava fingir. Ela me entendia, sabia o que era ser invisível. Ou pelo menos era o que eu achava.

A amizade com ela cresceu rápido, e antes que eu percebesse, me vi completamente envolvido por ela. Cada sorriso, cada conversa, era como um lembrete de que eu ainda podia ser alguém importante para alguém.

Ela se tornou minha âncora, a pessoa que eu mais confiava naquele país frio e distante. Mas, à medida que os meses passavam, algo dentro de mim mudou.

Eu queria mais. Precisava de mais. Não era suficiente ser apenas o amigo dela. Eu queria ser tudo.

Eu me lembro exatamente do dia em que tentei beijar ela. Cada segundo daquela tarde está gravado na minha mente como uma cicatriz que nunca vai sumir.

Ela estava tão linda, e havia algo em seus olhos que me fez acreditar que talvez ela sentisse o mesmo. Eu me aproximei, coloquei minha mão no rosto dela, e então... Nada. Ela recuou, e naquele momento, tudo desmoronou.

O chão pareceu desaparecer sob meus pés. A rejeição queimou como ácido na minha pele. Eu queria gritar, queria fazer ela entender que eu era a pessoa certa para ela, mas eu fiquei fora de controle.

Eu agarrei ela, eu forcei ela a tentar me beijar. Foi a pior decisão que eu tomei na minha vida inteira.

E então, eu decidi ligar os pontos.

FLASHBACK ON
Eu estava tentando manter a conversa leve, mas algo dentro de mim me dizia que eu precisava saber. Talvez fosse só curiosidade, ou talvez fosse algo mais. Eu perguntei casualmente, quase brincando, tentando não parecer interessado demais.

- Tá ficando com alguém?

Foi uma pergunta simples, mas a resposta dela... A resposta dela fez algo em mim se acender.

Meu Professor | Bill Kaulitz Onde histórias criam vida. Descubra agora