Capítulo 4

398 97 23
                                    

-Não! Vocês não fizeram isso... Não tinham o direito de mexer nas minhas coisas - Inês exalta-se tirando o telemóvel das mãos de Carol, já imaginando o que a amiga tinha feito.

-Calma Inês qual é o mal? Ele está interessado em ti e tu não o achas assim tão indiferente quanto tentas mostrar.

Inês sai da casa da amiga voltando à sua residência. Está um domingo realmente febril como há tempos não se vivia. Para além da tremenda dor de cabeça com que Inês acordou, o comportamento das amigas deixou-a realmente irritada e de mau humor; já para não falar que Inês odeia perder os treinos de dança contemporânea.

Chegando a casa, a jovem depara-se com um cenário já habitual : Carlos estendido no sofá como um cão velho e sarnento. A mãe estava a limpar com a ajuda de Sofia. A tia Júlia havia trazido a menina após o almoço. Inês não demora em se juntar a elas nas limpezas.

Pouco tempo depois, Dona Maria Beatriz chama Inês em privado:

-Precisamos conversar, vamos até o meu quarto.

Seguem caminho em silêncio. São 17:30 da tarde e o calor insiste em incomodar.

-A tua tia Júlia e a Sofia divertiram-se muito a noite passada. A Sofia adorou brincar com os primos.

A tia Júlia é irmã do pai de Inês. Por incrível que pareça, a tia Júlia é a única pessoa da família paterna de Inês, com que Dona Maria Beatriz mantém uma boa relação. Aliás, é a única pessoa, além de seu marido e filhos, que mantém contacto permanente com as jovens. Todos os outros parecem tê-las esquecido. No último aniversário de Inês nem mesmo os avós paternos, tios ou até mesmo o pai fizeram um mísero telefonema desejando os parabéns.

-Imagino, a Sofia adora os gémeos! - responde Inês.

-Pois é. - após uns momentos de pausa a mãe prossegue - quando ela trouxe a tua irmã tomou um café comigo e estivemos à conversa...

-Pronto mãe isso é normal... Não me chamaste aqui para me contar a conversa que tiveste com a tia. Ou foi para isso ? - olha-a de uma forma um tanto preocupada.

-A tua tia está com uns problemas...

-Mãe diz-me o que se passa de uma vez! Estás a deixar-me realmente nervosa...

-Calma Inês não é nada que não tenha cura. - suspira e continua - A tua tia está com cancro da mama... Mas tem calma, hoje em dia já há cura para estes problemas e ela é...

Inês não permite que a mãe acabe de falar e sai disparada do quarto. Tranca-se na sua privacidade onde se deixa cair sobre a cama. Fica cerca de 15 minutos olhando o vácuo. Quieta, imóvel. Admira as duas moscas que voam mesmo em cima de si, relembra a roupa que deixara na cadeira da secretária como sempre, analisa o tapete que colocou na janela para limpar o quarto e que ainda não colocara no chão. Depois chorou. Chorou com todo o seu coração, com toda a sua alma, com todas as suas forças. A tia Júlia desde sempre que foi das pessoas mais importantes para ela.

-Ela já passou por tanto... - chora enquanto recorda todos os anos de sofrimento e tratamento para conseguir engravidar... - e ela conseguiu! Depois de tantos anos ela conseguiu ter filhos! 2 filhos lindos, um milagre! Porque que tem que passar por mais isto também?!

Após cerca de 1 hora trancada no seu quarto, ora a chorar, ora apenas reflectindo, a jovem levanta-se. Abre a gaveta e tira uns calções de treino cinzentos e uma blusa branca. Calça os sapatos de corrida e sai de casa ao som do seu mp3. Quando está deprimida ou triste ela gosta de correr, dançar... Qualquer tipo de exercício que a faça "esquecer" o problema, ela recebe da melhor forma. Mas o seu grande refúgio é a praia ou os campos tranquilos onde ela possa escrever no seu diário, expondo todas as suas angustias e medos.

Inês corre até a praia onde se permite descansar olhando o céu, o mar a rebentar na areia, as crianças com as suas famílias felizes. Alguém senta-se a seu lado:

-Olá ruivinha.

Era Duarte e pelo vestuário que trazia, ele estava a fazer o mesmo que ela.

-Olá. Não estou num bom dia portanto se me dás licença...

-Calma... O que quer que seja podes desabafar. Ou pelo menos dizer-me o teu nome, ficaria feliz por isso. -sorri; como é lindo o seu sorriso. - afinal já tenho o teu número e não sei o teu nome.

-Falando nisso, eu nem te conheço! Nem sequer queria o teu número, nem perguntei o teu nome. E antes que penses que te respondi a alguma mensagem, não te enganes!! Foram as malucas das minhas amigas. - Inês fala de forma agressiva como se estivesse a descarregar toda a raiva que existia dentro dela, num inocente - portanto acho que fui bastante clara.

-Não tem problema. Não me respondeste a uma mensagem mas estás a falar comigo agora. - sempre a olhando e sorrindo - acho que fiquei a ganhar então.

Ela olha-o de forma irritada.

-Tudo bem, não falo mais. - diz Duarte cruzando as pernas - Se não queres falar então ficamos aqui os dois a ver a praia.

Ficaram assim por longos minutos. De repente Inês levanta-se e prepara-se para começar a correr quando Duarte a segue. Correm lado a lado por toda a costa da praia, sobem e descem ruas, sempre em silêncio. Por vezes o silêncio é a solução, traz tranquilidade e reflexão; outras vezes o silêncio é perturbador, incessante, sufoca. E este silêncio tinha um misto de ambos. Inês cada vez se sentia mais perdida quase sempre com o pensamento na tia Júlia. Nos intervalos desses pensamentos, a jovem pensava no que acabara de acontecer, no rapaz alto, lindo e em ótima forma que estava a correr com ela e que parecia bastante interessado nela.

Chegando a casa de Inês param e ela informa-o que chegara ao seu destino. Ele acente, sorrindo e Inês retribuindo essa simpatia diz:

-Chamo-me Inês, boa noite.

Dizendo isso, entra em casa.

***********************************

Pobre Inês... Com tantos problemas em casa tinha ainda que passar por mais isto. Uma das pessoas mais importantes para ela está entre a vida e a morte. Será que sobreviverá?

E Duarte parece ser um rapaz que além de qualidades físicas indiscutíveis, tem ainda um bom coração. Será que ele ajudará Inês nesta fase de sua vida?

Não percam os próximos capítulos e não se esqueçam de votar e dar a vossa opinião beijinhos s2


A Sombra do meu DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora