Capítulo 15

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Inês fica em casa e Duarte apressa-se em ir ao encontro da irmã. Chegando lá, o ambiente que encontra é de desespero, angústia; tudo destruído, cheiros intensos de um fogo devastador. O fumo impõe-se entre os destroços e o ar poluído beija e entranha-se nas narinas dos presentes. A grande mansão, os belos jardins, os carros topo de gama, ardem, queimam, esvoaçam entre as chamas.

-Gabriela, o que se passou? - questiona, abraçando a irmã.

-Ainda não sabem como o fogo começou - faz uma pausa enquanto soluça de tanto chorar - Está tudo destruído, Duarte! E o pior é que a minha mãe está lá dentro...

-O quê?! - Duarte afasta a irmã, por impulso e faz uma pausa, olhando o horizonte, pensando em algo que não quis divulgar - Eles vão salvá-la, calma...

Horas se passaram desde que o fogo começou, até que se extinguiu. Bombeiros corriam de um lado para o outro, gritavam, a polícia afastava os vizinhos que se juntavam para ver, a família abraçava-se e choravam pela Sra. Albuquerque, que ainda estava lá em cima. Quando a resgataram, desmaiada devido ao fumo que inalara, Gabriela, acompanhada pelo pai, correm na sua direção, passando entre as autoridades, tentando alcança-la. Foi levada para o hospital, ainda inanimada e assim ficou por algumas horas. Para trás ficaram os bombeiros nos seus trabalhos e as cinzas. Tudo aquilo que tinham era agora cinza, meras e pesadas cinzas, entulho amontoado de cimento, madeira, metal...

Chegando ao hospital e, após serem liberadas as visitas, o primeiro a entrar no quarto foi o pai de Gabriela. Fica lá dentro uns 20 minutos, enquanto Duarte conforta a irmã. A jovem deita a cabeça no colo do gémeo e ele afaga-lhe os cabelos; ficam em silêncio até o pai sair do quarto. Nesse momento, Gabriela levanta-se e dirige-se para lá. Faz uma pequena paragem, trocando um olhar com o pai, e entra. A mãe estava de olhos fechados. Entra silenciosamente.

-Filha... - chama, fraca.

-Estou aqui mãe, não fales agora, descansa.

-Foi um homem que - tosse, interrompendo a frase e depois prossegue - foi um homem que fez isto.

-Mãe, tu estás confusa... Descansa, depois conversamos sobre tudo! - tenta calar a mãe.

-Gabriela, tem cuidado, tem muito cuidado! Alguém quer nos atingir, alguém está a tentar nos fazer mal. É um homem, não te esqueças.

Nesse momento ela calou. Os olhos arregalados a olham, sem pestanejar, a boca mantinha-se aberta. A máquina à qual estava ligada começou a apitar e Gabriela gritou por ajuda, por socorro. Rapidamente, um médico acompanhado por duas ou três enfermeiras, aparecem e pedem-lhe para sair. Toda a família veio ao seu encontro, a jovem está desesperada. Minutos depois saem os profissionais de saúde do quarto e o médico vem ao encontro dos familiares:

-A Sra. Albuquerque está estabelizada, mas dormirá toda a noite. As visitas estão proibídas. Vão para casa, descansem; ela ficará em observação e só amanhã, talvez pelas 15h, poderão vê-la.

-Casa... Está destruída - murmura Gabriela entre dentes.

-Obrigado Doutor, assim que haja novidades informe-nos, por favor. - pede o pai.

Vão até um hotel próximo, onde pernoitarão. Fazem o caminho calados, no carro de Duarte, que, tirando o de pai de Gabriela, foi o único que se salvou do fogo. Cada um era levado pelos pensamentos, por estradas diferentes, de formas distintas.

Na manhã seguinte

-Duarte, foi um homem...

-Estás a falar do quê?

-O fogo... - Gabriela parou, olhando-o e continuou - a minha mãe viu um homem.

-Viu?! Como assim? - Duarte levanta-se, incrédulo.

-Não sei... ela não explicou.

-Ela está confusa, Gabriela, é natural que ache que viu alguma coisa. O fogo deve ter sido provocado na cozinha ou algo do género.

Conversam no quarto da jovem, no apartamento do hotel. O pai bate à porta e entra de seguida.

-Foi fogo posto! A polícia disse que já anda a tentar descobrir o culpado.

Os irmãos olham-se em consequência ao que acabam de ouvir. Trocam algumas ideias, mas Gabriela não partilha com o pai o que a mãe lhe dissera, pois sabia que se o fizesse, este iria tentar com que a Sra. Albuquerque contasse o que sabia às autoridades e ela queria poupar a mãe a isso, pelo menos por enquanto. Saem para almoçar, no restaurante do hotel. Bacalhau com natas, refeição que nem sequer apreciam devidamente, com a pressa e o stresse.

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Inês arranja-se, pois eles já estão à sua espera lá fora. O nervosismo ainda não a tinha abandonado, afinal, depois de tanto tempo estes fantasmas voltaram! Está simples: apenas umas calças de licra pretas, uma camisola curta branca, de alças largas e um casaquinho. Chama Sofia e saem de casa. O pai, acompanhado pelos meninos e pela mulher, recebem-nas. Abraçam-se todos, beijam-se, e Inês morde os lábios tentando segurar as lágrimas. Entram no carro e dirigem-se ao restaurante, onde vão almoçar. Após o almoço e alguns momentos de conversa, vão visitar a tia Júlia, afinal é irmã do pai de Inês. Jantam em família e passam grande parte do serão juntos. A tia Júlia mostra-se feliz, forte. Sorri a toda a hora, abraça a família e deixa-se abraçar, as saudades são enormes.

-Inês, anda comigo. - chama o pai; a filha segue-o.

Miguel pergunta à filha como está, inquere sobre a escola e sobre Sofia, questiona sobre a saúde da tia e tenta saber como Dona Maria Beatriz tem andado.

-Bem, ela está bem. Ficou um pouco chateada comigo, por eu ter vindo sair contigo... mas de resto tudo bem.

-Olha Inês, eu sei que até hoje foi a tua mãe que cuidou de ti, todos estes anos te educou e sempre foi com ela que conviveste mais. Mas nem tudo é como parece... Toda a vida ouviste as ideias que a tua mãe tinha sobre mim, mas não ouviste a minha versão. Estás a crescer e um dia eu vou te contar tudo o que aconteceu e vais poder conhecer toda a história e tirar as tuas próprias conclusões sobre tudo. A tua tia Júlia viu muitas atitudes da tua mãe, a tua avó também presenciou isso. A tua mãe não é a vítima como ela diz ser, Inês. Mas um dia eu conto-te, um dia saberás.

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Oi, oi, oiii! O capítulo acabou com o mistério, não? :D

Será que a Sra. Albuquerque viu mesmo um homem? Quem será ele?? Será que tentará mais alguma coisa contra a família?
Digam-me os vosses palpites ;)

Agora já sabem quem são "eles" ahahah. O que acharam da conversa do pai? O que será que Inês não sabe sobre a mãe?

Obrigada por continuarem a ler "A Sombra do meu Destino", seus lindos!
Ah, não se esqueçam de votar, a Inês agradece kkk :D
Kiss ♡

(3000 visualizações OMG thanks)

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