Capítulo 16

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As palavras do pai ecoavam na cabeça de Inês grande parte dos dias que se sucederam. O que será que ela não sabe sobre a mãe? "Tudo o que eu queria era que nos sentassemos os três e me contassem toda a verdade! Eu sei, eu iria sofrer, mas pelo menos eu saberia de tudo e as indirectas terminariam. Eu poderia escolher de qual dos lados devo ficar..." pensava ela, sempre como conclusão.

Hoje Duarte veio buscar Inês mais cedo do que o habitual. Nas mãos trazia uma rosa roxa. Ele nunca tinha trazido uma rosa naquela cor. Inês pega na rosa, observa-a, cheira-a, sente a textura do caule e, por fim, sorri.

-Obrigada! É linda, como te lembraste do lilás?

-Apeteceu-me variar... - Retribui o sorriso - Já te dei de quase todas as cores não é? Então resolvi surpreender-te! - Beija-lhe a testa.

Agora que a casa ardera, era necessário providenciar algo para que quando a Sra. Albuquerque regressasse tivesse o conforto que precisava para a recuperação. Assim sendo, alugaram uma casa enquanto construíam outra para morar. Gabriela tem andado ocupada a cuidar da mãe. Tal não era necessário, porque apesar do batalhão de empregados que trabalhavam para a família, o chefe da mesma optou por contratar uma enfermeira para ficar com a esposa 24 horas por dia - imagina-se a conta bancária da senhora de meia idade no final do mês. Apesar disso, Gabriela sentia-se na obrigação de ficar com a mãe. Talvez o medo que sentiu, quando ela ficou presa na casa em chamas, não tivesse ainda desaparecido e a filha quisesse aproveitar agora cada momento com a mãe. Já perdera os pais biológicos, os adotivos são a família que lhe resta e a única que conhecera, tal como Duarte. Assim sendo, a jovem pediu uns dias no centro veterinário onde trabalha, para ficar com a mãe. O pai, um dos maiores advogados do país, prometeu dar mais atenção à família agora, mas essa promessa foi cumprida apenas por meia dúzia de dias. Após isso dizia: "Hoje não posso mesmo jantar, depois compenso-vos"; "Este fim de semana tenho que trabalhar, o julgamento é na segunda"; "Adorava ficar com vocês mas tenho uma reunião importantíssima". E dessa forma, aos poucos e poucos, o Doutor Albuquerque voltou à rotina atarefada. Elas sempre o compreenderam, sabem que ele as ama mais do que qualquer coisa, mas a ausência dele afeta-as da mesma forma. Talvez por essa razão é que Gabriela sempre se sentiu mais ligada à mãe.

-Mãe... - Gabriela está sentada na cadeira do quarto da mãe, lendo um livro, quando esta acorda e chama pela filha; vai de encontro à Sra. Albuquerque.

-Precisamos conversar Gabriela...

A filha senta-se na cama da mãe:

-Claro! Que se passa?

-Foi um homem...

-Oh mãe, outra vez essa história? Pensei que isso já te tivesse passado...

-Eu sei o que estou a dizer! Foi um homem. - Faz uma pausa e olha para a janela do quarto - Eu estava cá em cima, lembro-me de ir à janela que tem vista para as trazeiras e estava um homem a sair pela porta dos fundos momentos antes de começar o incêndio.

-Tudo bem, admitamos essa possibilidade... quem seria? Um dos nossos empregados?

-Não! Eu teria reconhecido se fosse um dos nossos trabalhadores... e para além do mais, eles trabalham para nós há anos!

A filha nada respondeu, limitou-se a refletir sobre o assunto e em inúmeras perguntas para lhe colocar. Preferiu ficar calada, pensando ser paranóia da mãe que ainda não estava 100% recuperada. A mãe prossegue:

-Preciso que tenhas cuidado, não andes sozinha por aí!

Gabriela pegou na mão na mãe e beijou-a. "Calma, está tudo controlado." - Disse-lhe.

Assim se passou o dia, Gabriela preferiu ignorar o assunto, não valia a pena pensar mais sobre isso. A polícia está a fazer o que pode, não seria uma veterinária que descobriria o que se passou naquele dia. Quando Duarte chega a casa, por volta da hora de jantar, após uma tarde passada com Inês, no rio (tinham de aproveitar, no dia seguinte as aulas começariam) tenta convencer a irmã a dar uma volta:

-Vá lá, Gabriela, precisas sair. Estás trancada aqui em casa há dias, a tua mãe fica bem!

-O teu irmão tem razão! - A mãe descia as escadas, agarrada ao corrimão - Eu tenho uma enfermeira para cuidar de mim.

Os jovens correm até ela para a ajudar.

-Mãe, não devias sair da cama!

-E tu não devias estar presa em casa. Liga a uma amiga, vai dar uma volta!

Lá a conseguiram convencer, depois de insistirem muito. Após o jantar, a jovem arranja-se, despede-se, certifica-se de que a mãe fica bem e sai de casa. Entra na garagem, mete o carro a trabalhar e avança, com cautela. Antes que conseguisse ter todo o veículo fora dos muros da casa, alguém a faz parar. Um homem encapuçado para com a mota em frente ao automóvel, fazendo-a gritar. De seguida, abre a porta e arranca-a de lá de dentro à força, cobrindo-lhe a boca. Gabriela debate-se e tenta escapar, mas o bandido é mais forte e fá-la cair ao chão. Nesse momento, a jovem consegue chutar a perna do homem, ainda que fraca, o que o faz baixar a guarda e soltar um leve gemido. Aproveita para tentar escapar e grita como louca. Não demora até que os trabalhadores da casa se apercebam e corram ao encontro dela. Assustado, o homem agarra na moto e foge a toda a velocidade. Desta vez, foi por pouco.

Entrando em casa e após contar o episódio entre lágrimas, Duarte mostra sentir-se muito culpado, afinal foi ele quem deu a ideia do passeio.

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Ele estava na varanda, acabando de enrolar um cigarro, pega no isqueiro e uma nuvem de fumo solta-se pelo ar, misturando-se com o frio que se faz sentir nessa noite. Carlos fazia isso sempre, fosse a que horas fosse; na verdade ele deve fumar mais do que come (e não come pouco!). Dona Maria Beatriz, na mesa da sala, arranja as unhas e a televisão está ligada na novela "Mar Salgado" da SIC, para Sofia assistir. Irónico! Inês no quarto, como sempre. Realidade que muda quando a mãe recebe uma chamada e convoca a atenção das filhas. Fosse o que fosse que ela teria para lhes contar, não era bom. Tirando partido da expressão preocupada e dos olhos molhados que fazia, algo acontecera.

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Olá loves, como vai isso? ;)

Uma rosa roxa... ele resolveu surpreender :D
Gabriela quase foi raptada!! Será o mesmo homem de que a mãe falou?! E o Duarte sente-se tão culpado, pobrezinho...
Quem ligou para Dona Maria Beatriz e a fez ter aquela reação? O que será que lhe disseram?

Babeeees, o Duarte disse-me que vai distribuir rosas maravilhosas por todas as meninas que votarem/comentarem! Aberta a corrida!! ;)
Ahahah estou a brincar, mas se gostaram já sabem da ladainha de sempre ne? ☆

Obrigada por serem sempre as melhores leitoras do mundoXO-XO

A Sombra do meu DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora