Capítulo 2

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"Querido Diário,

São 4 da manhã e eu aqui às voltas e voltas na cama sem conseguir dormir por dois minutos que seja. É impossível esquecer a conversa que tive com a minha mãe. Exaltei-me imenso, disse coisas que não devia ter dito e agora não sei o que fazer... Admito que quando falam sobre o meu pai eu fico alterada... Este assunto mexe comigo e o que mais me irrita é que saber que o amo e que essa é a causa de tantas discussões; se eu não o amasse ele não me perturbava desta forma tão devastadora.
Mas para ser sincera esta relação da minha mãe é algo que ainda me provoca mais ódio atualmente. Ver o estado em que a minha mãe fica depois de discutirem, ter que ficar no meio deles quando o meu padrasto bebe, para que ele não lhe bata mais e ao mesmo tempo ter que afastar a Sofia daquele cenário tão sombrio e devastador são coisas com as quais não consigo conviver com naturalidade. A minha mãe sempre nos ensinou tantos valores e agora age de forma totalmente oposta. Como é que alguém consegue estar ao lado de um homem que a maltrata, que a humilha, que a trai?! Como é que uma mãe é capaz de obrigar as filhas a viver num clima de violência deste género?! Sinto que ela nos deixa para segundo plano... Sim, eu sei que isto também é algo que não se diz, mas é o que sinto! Quando ela e o Carlos estão bem ela nem se preocupa em sair connosco ou ver um bom filme na nossa companhia, antes de dormir... Mas quando eles estão chateados exige-nos toda a atenção que não nos é retribuída nos restantes dias.

Vivo em angústia."

Após o desabafo com os cadernos, seguiram-se longos minutos até que Inês conseguiu adormecer. Sono esse que acaba mais rapidamente do que começa...

-Acabou Maria! És uma vergonha. Falas de mim, dizes que sou irresponsável, falso, mentiroso, mas quem mente às tuas filhas és tu! - Os gritos de Carlos ecoam na pequena casa acordando Inês e Sofia e alguns dos vizinhos que se juntam discretamente (e outros ainda descaradamente) nas janelas, assistindo a tudo.

Inês levanta-se imediatamente mantendo um olho fechado e outro aberto, num passo desconcertado e apressado até à cozinha. Abre a porta. Aproxima-se, continuando a ouvir os berros entre ambos. Antes que uma lágrima tivesse a liberdade de escorrer, mais uma sombra aparece na penumbra da cozinha. Rapidamente, Inês volta-se para a irmã e encaminha-a para o quarto, tentando tranquiliza-la e ordenando que não voltasse a levantar-se da cama.

-As tuas filhas sabem que ontem chegaste a casa bêbeda? Afinal tanta letra para que eu não beba e depois fazes o mesmo? É preciso ter lata!

-Eu posso beber as vezes que quiser, porque não tenho nenhum problema como tu! Trata-te antes de me apontares o dedo!

Nesse momento ouvem-se fortes pancadas, gritos, choro. Inês corre até à cozinha novamente e encontra a mãe estendida no chão, completamente despenteada, ensanguentada e desnorteada.

Inês entra em socorro da mãe, ajudando-a a levantar-se. Nesse momento Dona Maria Inês dirige-se a Carlos a passos largos e pesados cuspindo-lhe na face e empurrando a sua cabeça contra o móvel branco.

-Gostas? Queres mais? - Grita a mãe, entre lágrimas salgadas, enquanto Inês a agarra e a puxa para si.

Na escuridão do cómodo, o ar quente desce cada vez mais de forma sufocante sobre os presentes. É uma madrugada de Verão muito quente. A luz escaldante do candeeiro da despensa não cansa de baloiçar e falhar.

-As tuas filhas tem que saber quem és Maria! Conta à Inês onde foste ontem! 

Os gemidos, os gritos, as bofetadas, as provocações, os choros aumentam a cada segundo.

É agora, tem que ser. Estou farta desta situação. Não posso deixar que isto continue!! - pensa Inês.

E vendo o padrasto se aproximar da mãe a alta velocidade, Inês corre na sua oposição e grita apontando o dedo:

-Acabou!! Estou farta! Se vocês não se respeitem paciência, mas respeitem a mim, à Sofia, à vizinhança! - Volta-se para a mãe - Acabou esta discussão! Chega disto!

Dizendo isto a mãe é direcionada até o quarto. Após cuidarem dos ferimentos gerais, sem trocarem uma única palavra ou olhar, é Inês que quebra o silêncio enquanto se levanta, dizendo:

-Boa noite para ti também mãe.

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Olá mais uma vez! Como este é o início da história optei por publicar dois capítulos no mesmo dia para que não houvesse uma grande quebra e para dar continuidade ao 1° capítulo, que em qualquer livro é muito vago e até maçador ahah.

Gostaram? Digam-me tudo o que pensam nos comentários, é importante ;) E não se esqueçam da estrelinha!!

Terça feira publicarei o terceiro capítulo, estejam atentos (:


A Sombra do meu DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora