Capítulo 11

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Este capítulo é dedicado ao meu namorado e à minha irmã que acompanharam esta história desde o início e sempre me apoiaram. Obrigada! :D

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Eram bruscos barulhos secos vindos do interior da casa. Bancadas fortes em algo semelhante a madeira. De vez em quando ouvia-se vidros partirem. Vozes eram caladas. De repente, o barulho acaba. Enorme silêncio apoderou-se do local. Profundo e tenso silêncio que calava até o cantar de grilos, ruídos de morcegos e restantes bichos noturnos. Duarte já tinha seguido caminho e Inês estava bloqueada, em pé, à porta de casa. Estagnada, sem pestanejar. De repente, apercebe-se da sua intensa respiração, temendo-a, por momentos, julgando ser qualquer outro ruído ameaçador. Ao fim de intermináveis segundos abre o portão e caminha na direção da porta principal da casa. O candeeiro de rua falhava constantemente e de repente desligou-se de vez, a lâmpada fundiu enchendo o local de intensa escuridão. A única luz acesa era agora a do seu telemóvel, que estava apontada para o chão. Pé ante pé, passos pequenos e leves, sorrateiros. Tão sorrateiros que Inês era capaz de ouvir o bater do seu coração no seu peito. Silenciosamente agarra nas chaves que estavam na bolsa de fora da carteira e coloca-as na fechadura. Roda-a, de forma a abrir a porta e empurra-a uns centímetros para dentro, de maneira a conseguir entrar. Fecha-a em seguida, expressando no seu rosto esforços para fazer pouco barulho. Basta-lhe dar dois passos e estreitar para o fundo do corredor para ver a mãe sentada no chão a chorar, cobrindo o rosto com as mãos. Outra discussão. Outra briga. Outra agressão. Espreita para a sala, enquanto caminha em encontro da mãe. Toda a divisão está agora virada do avesso... Cadeiras partidas, vidros espalhados por todo o lado, terra dos vasos de flores por todo o chão. Sem grandes perguntas, Inês agarra Dona Maria Beatriz, levantando-a e conduzindo-a até ao seu quarto. Deita-a na cama, cobre-a. Olhando-a uma última vez de relance, apaga a luz e diz:

-Espero que aprendas, desta vez. Boa noite, mãe.

Entra no quarto onde fica longos minutos sentada na cama, sem reação. A única luz era proveniente do candeeiro de mesa. Levanta-se, vai até ao armário, retira de lá o pijama e veste-o. Atira a roupa para o chão do quarto conforme a vai tirando, e deita-se na cama. Tentando não pensar mais no assunto, adormece.

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Acorda. Lava a cara, faz as suas necessidades matinais e dirige-se até à cozinha. A mãe e o Carlos estão a discutir, a insultarem-se, a cuspir um no outro, a empurrarem-se. A luz está apagada e a divisão está iluminada apenas por meia dúzia de velas espelhadas. Sofia está lá!! A miúda está a chorar, a implorar que parem, a tentar separá-los, até que...

-Nããããããão!!!!!!!!! - grita Inês correndo ao encontro da irmã. A confusão acaba, todos olham para Sofia.

Carlos empurrou a criança que apenas tentava proteger a mãe, agarrando-lhe o braço e implorando-lhe que parasse. Ao cair, Sofia bate com a cabeça na esquina da mesa em mármore, e todo o chão se vai enchendo de escuro sangue inocente. Todo aquele aparatoso sangue espalhado assemelha-se a um lençol de água, cobrindo toda a zona, permitindo que se vejam os reflexos de todos os rostos arrepiados e incrédulos através dele. Talvez não tenha sido intenção de Carlos, mas aconteceu!! E agora, uma pura e indefesa criança estava estendida no chão lavada no próprio sangue. Inês ao seu lado chora, grita, implora ajuda. Envolvendo a irmã nos seus braços, balançando-a fortemente, com uma esperança, quase morta, de que os olhos, já arrefecidos e congelados, da menina, se enchessem de vida e se abrissem.

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Acorda de repente, transpirada e assustada, amedrontada e aterrorizada. Foi um sonho, um pesadelo!

-Nada é verdade, não aconteceu nada, - pensa alto - mas podia ter acontecido! - reflete no seu íntimo, como se fosse a sua consciência a alerta-la.

Ainda ofegante e confusa com todo aquele sonho, Inês levanta-se e vai até o quarto de Sofia. Ela sabia que a irmã estava bem, mas algo nela lhe pedia para confirmar isso. O peso daquele pesadelo estava a apertar-lhe o cerébro, fazendo-lhe doer a cabeça brutalmente. Entra no quarto da irmã, o canteeiro cor-de-rosa, em cima da mesinha de cabeceira, estava ainda aceso, passava já das 5h30 da manhã. Sofia voltou a adormecer enquanto lia banda desenhada. Retira o livro de entre os seus bracinhos, aconchega a menina nos lençóis, beija-lhe a testa e apaga a luz. Decide ficar no quarto por mais alguns minutos, sentada no chão aos pés da cama da criança, zelando pela segurança dela, talvez. Mas parece que a tranquilidade ia durar pouco... aqueles dois voltaram a discutir. Inês assegura-se que a irmã continua a dormir e vai lentamente ao encontro deles. Colocou-se no corredor onde tinha vista para a varanda, onde eles estavam. Sentou-se no chão ouvindo a conversa. Gritos e mais gritos, acusações, insultos. As sombras de ambos na parede demonstravam a violência da discussão. Carlos encostava a cara à de Dona Maria Beatriz, apontando-lhe o dedo ou segurando o braço dela com força. Inês continuava no chão com os joelhos perto do queixo agarrando-os com os braços, até que... Carlos força Dona Maria Beatriz, pressionando os seus braços e inclinando a mãe das jovens na varanda. Nesse momento Inês ergue a cabeça e espreita de forma a vê-los. Levanta-se apressada, entra na sala bruscamente, batendo os pés até a varanda e grita:

-O que se passa aqui?? Vocês são ridículos! Tu - aponta para Carlos - és um fraco, um coitado que pensa ter força, mas que só bate em seres inferiores! Nunca te vi a bater num homem!! E tu - aponta para a mãe - és doente, uma triste que não consegue perceber que o homem que amas não presta! E isso não é amor!! Pára mãe, aprende a valorizar-te! Parece que gostas de sofrer. Acabou o barulho, que já são horas.

Vira costas, batendo as portas à sua passagem.

-Amanhã sais daqui! Vais te embora -Inês ouve a mãe dizer a Carlos enquanto se dirige ao quarto.

Daí a pouco tempo, Dona Maria Beatriz entra no quarto da filha e entrega-lhe todas as chaves de casa, carro e mota que estavam na mesa da entrada e diz:

-Guarda isto.

Dizendo isto, a discussão prolongou-se durante mais um par de minutos e cessou. Acabou. O resto da noite foi passada em silêncio, dentro de casa. Inês lá continuou trancada no quarto até que decide sair. Veste um fato de treino cinzento e um casaco verde tropa, calça umas Adidas, mais concretamente umas Super Star e sai de casa. Eram agora quase 7hrs da manhã, já o sol havia acordado. Caminha por entre a neblina e o ar fresco da madrugada. Deixa-se levar pelas ruas desertas e desocupadas da cidade. De vez em quando, muito raramente, passa um carro ou dois, em velocidade reduzida. Não há pessoas a passar a pé e tão pouco janelas abertas. Tudo estava agora estagnado, repousado na calada madrugada. A esta hora já os bichinhos diurnos começavam a acordar. Tudo era paz, ou guerra silenciosa, tranquilidade ou lutas adormecidas. Seja como for, aquele ambiente agrada Inês, que pode assim se envolver em momentos que mais ninguém pode atrapalhar.

Caminha durante cerca de hora e meia e senta-se numa esplanada à beira da praia. Aquela brisa e aquele cheiro a mar fazem Inês relaxar e sentir-se mais livre dos problemas. Bebe um compal de frutos silvestres e deixa a sua alma ser exposta no seu diário, tudo parecia estar a melhorar no seu íntimo. Mas nesse momento a silhueta de alguém conhecido desenha-se no horizonte. Caminhando pela areia, junto ao mar, onde as ombras quebram levemente, deixando os pés serem molhados pela água gélida da manhã, lá estava ele. Mas não estava só! Trazia como sua companhia uma rapariga com cerca de 20 anos, alta, morena e, apesar da distância, parecia muito bonita.

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Olá! O que acharam deste capítulo? Parece que estas discussões nunca acabam... quando tudo parecia estar a melhorar, Carlos volta a mostrar a sua verdadeira faceta!

E o que acharam deste sonho de Inês? Acham que é fruto apenas da sua vasta imaginação ou será um sinal?? Não se esqueçam de dizer o que acham nos comentários :D

E de quem será esta silhueta que passeia pela praia tão cedo acompanhada de uma jovem mulher?

Já votaste neste capítulo? Não?? Então se gostaste vota agora ;) ☆☆
E mais uma vez, obrigada por serem tão bons leitores ahah

Faço anos hojeeeee ♡

A Sombra do meu DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora