Capítulo 17

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Foi um choque. As lágrimas demoraram a cair, a cabeça não queria acreditar no que tinha acontecido, os ouvidos recusavam a informação. Não estavam preparadas para isso, não podia ser verdade, ainda não era tempo disso. Porquê agora, porquê depois de tanto sofrimento? Porquê que isso lhe acontecera? Eram imensas perguntas para respostas inaceitáveis. A verdade é que ela se foi. Era uma noite incrivelmente bonita, com a lua cheia, branca, a brilhar no céu limpo e estrelado e um ar bastante fresco; ela havia fechado os olhos pela última vez. Todos acreditam-se, ou querem acreditar, que a alegria de reencontrar o irmão e os sobrinhos mais novos lhe deu a última vitória que precisava, lhe deu forças, não para continuar a lutar, mas para se entregar à morte que a chamava. A Tia Júlia sempre dissera que não ía morrer sem antes ver toda a família reunida e alegre. Cumpriu. Na noite em que todos estavam juntos lá em casa, ela mostrou-se forte, cheia de vida, emocionada. A verdade é que tudo isso lhe levou o último suspiro, o último fôlego de vida. Passou os três dias seguintes, após o convívio familiar, sorridente e melancólica, sempre junto dos filhos e do marido. Ao deitar-se nessa noite, despediu-se de todos com um beijo e um abraço e declarou o amor que sentia por cada um, uma última vez. Cerca de uma hora depois, o Tio Artur encontra-a sem vida, deitada na cama, o sorriso no rosto inanimado. Agora tentam lidar com o choque e o sofrimento de perder a tia que mais gostavam.

Mal dormem nessa noite, o silêncio reina em toda a casa, algumas vezes, choros abafados pelos cobertores, soam pesadamente. Na manhã seguinte, ao acordarem das poucas horas de sono, o ambiente enche-se de trevas e dor.

-Parabéns, Sofia - felicita a mãe, ainda que num tom seco e fraco (apesar de não partilharem laços de sangue, Dona Maria Beatriz gostava imenso da Tia Júlia) - estás uma mulher!

-Obrigada - não força o sorriso; nem se lembrara de que hoje completa 13 anos.

A mãe ainda tentou convencer as filhas a irem todos passear, para tentar deixar os problemas um pouco de parte e festejar, ainda que de forma mais simples, o aniversário de Sofia. Elas não quiseram, não eram capazes disso. Inês apenas enviou uma mensagem a Duarte, contando-lhe o que sucedera e ele apressa-se em ir ao seu encontro. Passam todo o dia, quase sem falar; a sua presença é o mais importante. A mãe apenas entrega o presente de aniversário (um jogo para a playstation, comprado numa loja de usados, e um tapete para o quarto). Inês seguiu-lhe o exemplo, entregando à irmã um casaco que comprou nos saldos de Agosto. O pai passou por lá, depois do jantar, para dar um beijo nas filhas e ofereceu 50€ a Sofia, depois disso, voltou para casa.

Enquanto tudo aquilo se passava na humilde e fria casa de Inês, Gabriela arrastava-se pela sua. Desde a tentativa de rapto que não voltara a sair. Justifica isso, dizendo que está a cuidar da mãe, mas todos sabem que não é verdade. Em ambas as famílias, as coisas não estão fáceis. Duarte decide ajudar a irmã. No dia seguinte, convida-a para irem lanchar fora, e quando a gémea recusa, ele praticamente obriga-a. Assim, tenta diminuir a culpa que tem carregado desde o ataque.

Já Miguel, antecipa o seu regresso a França, devido a todos os acontecimentos. Dois dias após o enterro, faz as malas para partir.
À porta da casa das filhas, na despedida, tudo é intenso. As memórias de cada um, correm nas mentes. Eram cerca de 20hr, do horário de Verão, o que significa que as luzes amareladas da rua sem saída já estavam ligadas. Apesar disso, o céu ainda estava, ainda que escassamente, iluminado. Um encontro temporário entre o sol (que se preparava para dormir, terminando uma jornada) e a lua (que acordava, trazendo consigo uma noite que prometia ser melancólica). Eram abraços trocados, molhados pelas lágrimas da saudade que já apertava. O som do choro das crianças, unia-se ao dos adultos, como numa melodia dramática e desesperante, e envolviam todo aquele lugar tenso que escurecia a cada minuto.

Uns dias depois, bem cedo, um dos empregados da família Albuquerque, traz o correio para dentro. Entre a correspondência, uma carta sem selo e sem remetente é deixada para a mãe de Gabriela. O mistério da carta despertou a atenção de todos.

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Olá a todos! Demorou mas está aqui o capítulo, desculpem a demora, mas já sabem que devido às aulas é mais complicado.

A Tia Júlia faleceu... :c e a Sofia a fazer anos logo a seguir, coitada dela!
Acharam que o Duarte fez bem em levar a irmã a sair de casa?
E o pai de Inês voltou mais cedo para França... deve estar a ser muito difícil para todos.
E aquela carta?? De quem será? E o que dirá?

Digam-me o que acham e não se esqueçam da estrelinha! ☆☆
Obrigada por continuarem a acompanhar a história, são os melhores! ♡

A Sombra do meu DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora