Beija Flor

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Oi, eu sou Jeon Jungkook, tenho 25 anos e uma doença terminal sem cura.

Se eu estou arrasado? Não, pelo contrário. Estou em paz. Enquanto muitos vivem suas vidas sem saber quando o fim chegará, eu sei exatamente quando o meu está marcado. E, de certa forma, isso é libertador. Cada segundo que eu respiro agora é um presente, uma oportunidade para fazer o que sempre quis: ver o mundo, com meus olhos e, principalmente, através da lente da minha câmera.

A verdade é que, em cada foto que tiro, estou guardando um pedaço da vida que vou perder. Cada click é uma despedida silenciosa.

Eu costumava sonhar com um futuro diferente. Sonhava com uma casa no campo, envelhecendo ao lado de alguém que eu amasse, nossos cabelos grisalhos, nossas mãos entrelaçadas. Mas o tempo foi cruel e não vai me dar essa chance. Eu não vou viver o suficiente para um grande amor... Mas isso não significa que não posso me apaixonar. Em cada cidade que visito, me apaixono de novo. Breves, intensos momentos que acabam antes que a dor de uma despedida possa surgir. Talvez seja egoísmo, ou talvez seja a única maneira de me sentir vivo.

Agora, estou a caminho da minha penúltima parada. Santorini. Minha linha de chegada está próxima. Passei por Roma, Berlim, Paris... Em cada uma dessas cidades, deixei um pedaço de mim, uma lembrança, um amor efêmero. Sofia, Roberto, Juan... Eles seguirão suas vidas. Eu? Eu sigo para o próximo destino, sabendo que não tenho muito mais para deixar.

— Por que você nunca fotografa pessoas? — A voz de Mingkuy me tirou dos meus pensamentos. Ele sempre faz essa pergunta. Sempre.

— Pessoas distraem a essência da foto — repeti, como sempre faço.

— Ah, pare com isso! Olha pra mim, hyung. Sou o que falta nas suas fotos. — Ele sorriu, se enfiando na frente da minha lente, como uma criança tentando chamar atenção.

Revirei os olhos, deixando a câmera pendurada no meu pescoço. Mingkuy é meu irmão mais novo. Ele me acompanha nessa jornada porque não suportaria me ver indo sozinho. Ele chorou mais do que eu quando soube do meu diagnóstico. Faz sentido, afinal, eu vou embora sem sentir nada. Ele é quem vai ficar aqui, com o peso de tudo.

Chegamos ao nosso hotel em Santorini, com suas paredes brancas e tetos azuis. O lugar era lindo, mas havia algo mais, algo que me fazia sentir que essa cidade guardava algo especial para mim... Ou talvez eu estivesse apenas buscando um significado em tudo.

Após nos acomodarmos, saímos para explorar. Gostamos de experimentar as bebidas locais, sempre brincamos de eleger qual país tem a melhor cerveja. Mingkuy, claro, acha tudo ótimo. Para ele, qualquer coisa é motivo de celebração. Para mim... Eu aprendi a valorizar o que é raro, o que é único.

No bar, ele já estava no terceiro chopp quando decidi me levantar. Aquele ambiente fechado me sufocava.

— Vou lá fora pegar um ar fresco — murmurei, me levantando.

— Vai perder as melhores, hyung! — ele gritou, levantando a caneca com um sorriso embriagado.

Eu sorri de leve e saí. O ar fresco da noite grega me envolveu. Eu usava uma camisa branca de botões, estampada com flores azuis, e uma bermuda leve. As ruas de pedras brilhavam sob a fraca iluminação dos postes, e o som suave das ondas batendo ao longe parecia acompanhar meus passos.

Com a câmera no pescoço, caminhei sem destino. A cada passo, fotografava pedaços de uma vida que nunca seria minha. As ruas, as casas, um pequeno gato em uma árvore. A câmera capturava tudo, exceto pessoas. Eu não fotografava pessoas, porque seus rostos me lembravam o que eu perderia. O que eu nunca teria.

Até que algo incomum chamou minha atenção.

Um beija-flor.

Era raro, muito raro, ver um beija-flor à noite. Instintivamente, levantei a câmera, ajustando a lente para capturar o momento. Segui o pássaro com o olhar, encantado com sua graça. Ele voou até pousar delicadamente sobre uma rosa vermelha. Mas a rosa não estava sozinha.

Ela estava nas mãos de alguém.

Mãos pequenas, de dedos curtos e delicados, seguravam a flor com uma gentileza quase poética. Senti meu coração apertar. Minha respiração ficou presa por um segundo, enquanto eu levantava a lente, subindo devagar até encontrar o rosto.

E que rosto.

A pele dele era pálida como a neve, o nariz arrebitado, os olhos profundos,e os lábios... Carnudos, perfeitos, convidativos. Ele tinha uma beleza devastadora, um ar sensual que contrastava com a suavidade de suas bochechas. Era o tipo de pessoa que faz o mundo parar ao seu redor.

Eu mal percebi que estava tirando fotos. Clique após clique, capturando cada detalhe daquele homem desconhecido. A distração no seu olhar, o jeito como ele segurava a flor, a curva dos seus lábios. E, então, ele olhou diretamente para mim.

Meu coração disparou.

Eu capturei aquele olhar antes mesmo de pensar, e por um segundo, a distância entre nós pareceu evaporar. Algo intenso passou entre nós, como se o destino já tivesse planejado aquele momento muito antes de eu chegar aqui.

Abaixei a câmera lentamente, ainda sem desviar o olhar. Ele também não desviou. Havia algo ali, algo que eu não conseguia definir, mas que fez meu peito doer de uma forma que não tinha nada a ver com a minha doença.

— Hyung! — A voz alta de Mingkuy quebrou o silêncio. Ele veio cambaleando pela rua, claramente alterado. — Vamos! Já tá tarde, e você vai perder o próximo bar! — Ele me puxou pelos ombros.

Eu deixei que ele me levasse, mas meus olhos continuaram presos no homem do banco. Ele continuava ali, me observando, e mesmo quando a distância entre nós aumentou, o nossa troca de olhares parecia inquebrável.

E então, virei a esquina.

A ÚLTIMA FOTO DE PARK JIMIN - PJM + JJKOnde histórias criam vida. Descubra agora