Último dia com você

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Naquela noite, eu fiquei ao lado de Jimin, sem sair de perto. Cuidei dele como pude. Ele estava tão fraco, mas eu o acomodei na cama com cuidado, ajeitando as cobertas ao redor do seu corpo frágil. Ele parecia tão pequeno ali, quase se perdendo em meio aos lençóis.

Passei a mão por seus cabelos, cantando baixinho para ele, uma melodia que costumava tocar na minha infância. Talvez não fosse a canção perfeita, mas era a única que me veio à mente no momento. Jimin fechou os olhos, suspirando, como se aquela melodia lhe trouxesse algum conforto. Eu segurei sua mão, o acariciei, dei-lhe seus remédios e tentei de todas as formas que ele soubesse que não estava sozinho.

Quando a manhã seguinte chegou, ele não estava melhor. Na verdade, parecia mais cansado, os lábios ainda rachados, a pele pálida, mas... ainda assim, havia algo de mais leve nele. Talvez fosse o fato de estar ali comigo, ou talvez ele apenas estivesse tentando me poupar. 

Eu fiz questão de ficar com ele o tempo todo, deitado ao seu lado, dando carinho, falando baixinho sobre tudo e sobre nada. Cozinhei algo simples, apenas para que ele pudesse comer um pouco, e fiquei ali, segurando sua mão como se isso fosse mantê-lo comigo por mais tempo.

No dia seguinte, quando acordei, notei que ele estava diferente. Ele estava mais animado, embora ainda frágil, e sorriu para mim, com aquele sorriso doce que sempre me fazia desmoronar.

— H-hoje eu tô melhor... — ele disse, a voz ainda fraca, mas com uma alegria inesperada. Seus lábios ainda estavam rachados, mas ele parecia mais corado.

Saí para buscar o café da manhã, pensando que seria mais um dia tranquilo, em que cuidaríamos um do outro em silêncio, sem pressa para fazer nada. Mas quando voltei, com a bandeja nas mãos, encontrei Jimin vestido e de pé. 

Ele estava vestido de azul, com shorts leves, e o cabelo penteado pra frente, que o deixava adoravelmente fofo.

— Vamos tirar a foto? — ele perguntou, sorrindo daquele jeito que só ele conseguia.

Meu coração apertou. Eu sorri de volta, mas aquele sorriso foi se desfazendo enquanto colocava o café na mesa ao lado. 

— Jimin... você precisa descansar. — Falei com cautela, tentando manter a calma. — Podemos tirar a foto amanhã, quando você estiver melhor.

Ele balançou a cabeça suavemente, ainda com aquele sorriso triste nos lábios. Ele se aproximou de mim, segurou meu rosto com as mãos trêmulas e me olhou com uma ternura que quase me fez chorar ali mesmo.

— Não... — ele sussurrou. — A foto tem que ser hoje, Jungkookie... Hoje eu tô bonito.

A dor no meu peito aumentou. Como eu poderia negar? Ele sabia, assim como eu sabia, que não havia garantias para o "amanhã". Segurei o choro e apenas assenti. Não havia mais o que dizer.

Com cuidado, eu o coloquei nas minhas costas, carregando-o pelas ruas. Ele estava tão leve, como se sua presença ali fosse tão frágil quanto o vento que passava por nós. Caminhamos em silêncio até o banquinho de frente para o mar, o céu azul acima de nós, e por um instante, o mundo pareceu em paz. O azul do céu combinava com o azul da roupa dele, e tudo parecia se alinhar naquele cenário.

Jimin se sentou no banco, sorrindo para mim, esperando que eu capturasse aquele momento. Eu me posicionei atrás da lente, tentando manter as mãos firmes enquanto mirava no rosto dele. 

Ele olhou para mim, com aquele olhar doce e tranquilo, e no instante em que apertei o botão, o clique da câmera parecia ecoar no meu peito, deixando uma marca que eu sabia que nunca desapareceria.

Assim que baixei a câmera, meus olhos estavam cheios de lágrimas. Eu mal conseguia enxergar direito, mas consegui sorrir para ele. Ele sorriu de volta, como se soubesse exatamente o que estava acontecendo dentro de mim.

Depois da foto, Jimin pediu um sorvete, depois uma pizza de pepperoni, e por fim, ele quis soju. Eu hesitei, tentando dissuadi-lo da ideia de beber, mas o olhar insistente dele fez com que eu cedesse. Ele queria viver aquele momento à sua maneira, e quem era eu para negar?

Naquela noite, voltamos para casa. Estávamos deitados em sua cama, lado a lado, e o silêncio entre nós era confortável, mas carregado de sentimentos que nenhum de nós sabia como expressar.

— E-eu só vou piorar, Jungkookie... — Jimin disse baixinho, com a voz embargada. — E eu n-não quero que você veja isso. Meus p-pais estão a caminho, e tudo vai ficar bem.

Eu senti meu coração partir um pouco mais. Ele estava tentando me proteger até o fim, mas eu não queria ser protegido. Eu só queria ficar com ele.

— V-você tem que terminar seu trabalho, sabe? — ele continuou, a voz mais suave. — Você precisa fotografar t-tudo. E não só lugares... pessoas também. Elas merecem ser e-eternizadas. As pessoas vão embora, mas os lugares ficam.

Eu não consegui dizer nada. Apenas segurei a mão dele, beijei sua cabeça com ternura, tentando absorver cada segundo que nos restava juntos. Ele não sabia, e eu não teria coragem de contar, que eu também tinha um tempo contado. Que, assim como ele, meu prazo estava se esgotando.

Naquela noite, a última noite, eu segurei Jimin nos braços, sabendo que, quando o dia seguinte chegasse, ele não estaria mais ao meu lado. E, mesmo assim, eu ficaria ali, com ele, até o último segundo.


A ÚLTIMA FOTO DE PARK JIMIN - PJM + JJKOnde histórias criam vida. Descubra agora