Capítulo 06

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"Onde quer que eu encontrasse um ser vivo, ali encontrei a vontade de poder; e mesmo na vontade daqueles que servem, encontrei a vontade de ser mestre."

Friedrich Nietzsche


Ao tocar novamente a escuridão, é quase certo que escapar de um destino cruel se torna uma tarefa árdua. Selene Holloway, com toda a sua angústia, conhecia essa dura verdade. Cada vez que seus dedos percorriam os músculos daquele corpo, do corpo de Lucian, seu cunhado, sentia o gosto amargo de que o fim estava próximo. Mas a pergunta que pairava em sua mente era clara e cortante: quando tudo isso acabar, o que restará de mim? Talvez apenas a infame lembrança de que tudo havia falhado. A situação era uma equação difícil, que demandava cálculos precisos. Mas Selene nunca foi boa em matemática. Preferia disciplinas que envolviam o pensamento crítico, mesmo que isso também não a tivesse protegido da filosofia sombria de Lucian Thorn.

Ela não o amava. Seu coração pertencia inteiramente a Cassian Thorn, o irmão mais novo. Para Lucian, restou o fogo ardente, a faísca que se acendia quando sua pele tocava a dela. O prazer que Lucian extraía não era exatamente o que ele proporcionava a Selene, mas o que ele recebia dela. Cassian, por outro lado, era sempre gentil na cama, sussurrando promessas de um futuro incerto, oferecendo sonhos de maravilhas que talvez nunca se realizassem, uma utopia. Já Lucian, nunca se preocupou em ser sentimental. Ele a envolvia com ideias perigosas, sua língua quente e escura não distinguia mais prazer de submissão. Segurava-a pela cintura, prometendo foder-lhe sem piedade, e para ele, machucar psicologicamente não era tortura, mas uma espécie de dádiva. Enquanto sussurrava essas promessas sombrias, sua língua percorria o pescoço dela, enquanto suas mãos desenhavam cada contorno de seu corpo, fazendo-a gemer em resposta.

Selene se perguntava: estaria errada? Esse questionamento surgiu na segunda recaída, e em cada encontro subsequente, ela já não sabia se estava sendo guiada pelo coração ou pelo desejo manipulado. Lágrimas silenciosas corriam por seus olhos, mas elas não eram o único fluido que seu corpo liberava sempre que Lucian Thorn a tocava.

Lucian encontrava prazer em algo além da carne. Era um desejo profundo, uma chama que crescia desde a adolescência e só se intensificava com o tempo. Aos trinta e dois anos, ele mantinha um rosto jovem e um magnetismo irresistível. Suas roupas, sempre justas ao corpo, eram parte de uma estética cuidadosa. Ele era bonito, talvez até mais que Cassian. Enquanto Cassian representava o padrão, loiro e esculpido como uma estátua, Lucian era seu oposto: pele bronzeada, músculos marcados, uma voz poderosa e cabelos negros sempre arrumados em um topete clássico. A etiqueta estava gravada em seu comportamento. Ambos eram belos, mas Lucian possuía uma força visceral.

Imagine duas maçãs: uma verde e uma vermelha. Ambas são igualmente saborosas, com o mesmo formato, mas muitas vezes a vermelha é a preferida, por sua aparência. Assim eram Cassian e Lucian. Cassian era a escolha óbvia – educado, elegante, sedutor. Lucian, por outro lado, era sombrio, cruel, manipulador, um demônio envolto em uma aura angelical.

No início, Selene tentou se apegar a Cassian. Eles enfrentaram juntos os desafios, até que o irmão surgiu como uma ameaça ainda mais ardilosa. Lucian a pegou desprevenida, em um momento delicado de sua vida, e usou sua vulnerabilidade para dominá-la. Ele era sagaz, o tipo de homem que alternava entre ser um anjo e um demônio.

Após uma madrugada intensa, Selene escapou do quarto de Lucian, andando nas pontas dos pés, tentando, desesperadamente, manter a aparência de um casamento intacto, sem alimentar ainda mais o fogo que ameaçava devastar sua vida. Já vestida, desceu para o primeiro andar. A mansão era colossal, suas enormes janelas de vidro revelavam a floresta ao redor, a piscina coberta por uma camada de neblina suave que dançava ao ritmo das gotas de chuva que caíam do céu. O cenário era vazio e sinistro, ampliado pelo coro de corvos que sobrevoavam o local, como se soubessem que algo terrível estava prestes a acontecer. Selene apertou o robe de seda cinza contra o corpo, tentando se aquecer do frio intenso. Porém, ela não sabia se aquele frio era algo natural ou se nascia do medo que crescia dentro dela. O silêncio da mansão era absoluto, interrompido apenas pelo som perturbador das aves que pareciam antecipar o destino sombrio que a aguardava.

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