Capítulo 08

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"Quem combate monstros deve cuidar para que não se torne um também. E se você olhar por muito tempo para um abismo, o abismo também olhará para dentro de você."

Friedrich Nietzsche


Quando a semente da dúvida é plantada numa mente perturbada como a de Cassian Thorn, ela não apenas cresce, mas se enraíza nas profundezas de sua alma, sufocando-o de dentro para fora. Enquanto a água quente deslizava por sua pele no banho, Cassian sentia o calor tentando aliviar seu corpo tenso, mas sua mente estava fria, congelada pelo veneno das palavras de Lucian. As mentiras que seu irmão despejara, habilmente disfarçadas de preocupação, envenenavam cada pensamento, como se fossem serpentes sussurrando em seus ouvidos.

A imagem de Selene, outrora perfeita, agora distorcia-se em sua cabeça, um retrato quebrado e agora sem utilidade. Será que ela realmente o amava? Ou estaria nos braços de outro, enquanto ele, como um tolo, acreditava em suas juras de lealdade? As dúvidas surgiam como fantasmas no vapor do banheiro, assombrando-o. Lucian havia insinuado, com a sutileza de uma víbora, que a traição estava à espreita. "Enquanto você está aqui, chorando por ela, outro pode estar ao lado dela, esperando o momento exato para se aproveitar de sua fraqueza." Essas palavras não apenas ecoavam; elas queimavam. Cassian apertou os olhos, tentando afastar os pensamentos, mas era tarde demais. O jogo de Lucian funcionava. Ele já via Selene com outros olhos, olhava suas lembranças com desconfiança. Cada risada dela, cada toque carinhoso, agora parecia carregado de intenção. E a incerteza, agora uma presença implacável, erguia-se sobre ele, fazendo-o questionar tudo, até mesmo a própria sanidade.

Cassian, ainda debaixo da água quente, começou a sentir o pânico queimar sob sua pele, uma inquietação que não cessava, por mais que a água escaldante tentasse purificá-lo. A dúvida, inicialmente sutil, agora crescia descontroladamente em sua mente como um tumor maligno. Lucian sabia exatamente onde tocar, em que ponto pressionar até que o incômodo se tornasse insuportável, e agora Cassian sentia-se preso nas teias da manipulação do irmão, incapaz de distinguir entre a realidade e o veneno que lhe foi sussurrado.

A imagem de Selene, sorrindo, o abraçando, estava manchada. "E se fosse mentira?", ele se perguntava incessantemente. Suas mãos tremiam sob o jato de água, tentando agarrar a solidez de algo que não existia. Será que Lucian estava certo? Será que, enquanto ele desmoronava ali, ela estava em outro lugar, nos braços de outro homem? O pensamento era insuportável, mas, quanto mais ele tentava afastá-lo, mais forte ele voltava, como ondas escuras afogando sua sanidade.

Ele saiu do banho, a água pingando de seu corpo em passos vacilantes, e parou diante do espelho. Por um instante, hesitou em olhar diretamente para seu reflexo. Quando finalmente o fez, não se reconheceu. A face no espelho era um borrão, distorcida pelo vapor e pela paranoia que o consumia. Era como se estivesse perdendo controle de si mesmo, seu rosto deformado pela ansiedade que tomava conta. Ele piscou várias vezes, tentando clarear a visão, mas o borrão continuava, um reflexo de sua mente fragmentada.

"Quem é você?" murmurou para si, encarando o reflexo que já não lhe pertencia. Sua respiração se acelerou. O medo de perder Selene, de ser traído, de ser enganado, estava deformando quem ele era. Ele levou as mãos ao rosto, esfregando-o com força, como se pudesse limpar a sensação de ser observado, de estar sendo julgado por algo que talvez nem fosse real. As palavras de Lucian, impregnadas de maldade, continuavam a ecoar: "Enquanto você está aqui, ela pode estar lá, se divertindo com outro..."

Cassian passou a mão pelos cabelos molhados, desesperado para encontrar uma resposta, uma saída daquele labirinto. Mas tudo o que conseguia era afundar mais fundo em seu próprio desespero. O medo corroía seus pensamentos, tornando-os afiados e letais. As dúvidas, as incertezas, tudo o que antes parecia sólido, agora se dissolvia, e ele não tinha mais controle sobre si mesmo. Afinal, quem era ele agora? Um homem traído? Um tolo? Ou apenas uma marionete nas mãos do próprio irmão, incapaz de enxergar a verdade por trás dos véus da manipulação?

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