Capítulo 02

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"Quando a razão falha, o diabo ajuda."

 Fyodor Dostoevsky


Já era noite. Selene Holloway estava sentada à beira da cama, os olhos fixos no nada enquanto o peso da culpa a sufocava. Seus cabelos negros ainda úmidos escorriam pelos ombros, contrastando com a pele nua e fria. As pernas estavam estendidas, os pés tocando o chão, mas sua mente vagava longe. Cada pensamento era uma punição, uma batalha silenciosa entre o que ela deveria ser e o que estava se tornando. Ela suspirou, os lábios pressionados numa linha fina de hesitação. Sabia que, brevemente, Cassian entraria pela porta, exausto do trabalho, buscando nela o conforto de sempre — conforto que, ironicamente, agora era uma ilusão. E com ele, toda a pressão, toda a falsa normalidade de um relacionamento que havia se quebrado em pedaços invisíveis, mas que ainda pendiam por um fio.

Ela fechou os olhos, tentando silenciar a mente que a maltratava. Lucian. Seu nome ecoava como um veneno doce. Era como se a presença dele, mesmo ausente, estivesse ali, impregnando o quarto com lembranças que ela queria, mas ao mesmo tempo temia. O toque dele em sua pele ainda estava fresco em sua memória, o calor inegável que havia corrido por suas veias, o desejo incontrolável que a fizera ceder mais uma vez. Mas agora, o arrependimento a consumia.

"Por que eu faço isso?" murmurou para si mesma, mas a resposta era clara. Lucian oferecia algo que Cassian nunca poderia — um perigo que a seduzia, uma paixão crua e brutal que a fazia sentir viva de uma maneira que o noivo, apesar de todo o amor, não conseguia mais provocar. O som de uma chave na fechadura trouxe Selene de volta à realidade. Seu coração acelerou. A porta se abriu e Cassian entrou, um sorriso cansado no rosto, alheio à tempestade que rugia dentro dela.

— Oi, amor — ele disse, caminhando até ela e inclinando-se para um beijo.

Selene sorriu de volta, mas o sorriso não alcançou seus olhos. Ela beijou Cassian de volta, sentindo o gosto familiar, mas algo dentro dela gritava por liberdade. Por algo que ela sabia que não deveria querer, mas que desejava mesmo assim.

Cassian não percebeu o distanciamento, ou talvez preferisse ignorar. Ele a abraçou, como fazia todas as noites, trazendo consigo a segurança de um futuro planejado, estável. Mas Selene sabia que aquele abraço, por mais caloroso, não poderia apagar as marcas que Lucian havia deixado. O conflito entre amor e desejo, entre lealdade e traição, era uma batalha que ela sabia que não terminaria tão cedo. E em algum lugar, no fundo de sua mente, Selene já se perguntava quando seria a próxima vez que seus caminhos cruzariam novamente com os de Lucian, sabendo que, por mais que lutasse contra, a tentação sempre a faria ceder.

Cassian era, sem dúvida, um homem de tirar o fôlego. Sua beleza era marcada por traços esculpidos com perfeição. Os cabelos loiros caíam suavemente sobre sua testa, e a tatuagem que se estendia pelas costas musculosas dava-lhe um ar de mistério que contrastava com sua natureza gentil. Seus olhos, de um tom profundo e cativante, sempre expressavam uma compreensão silenciosa, quase como se enxergassem além das palavras, tentando capturar os pensamentos que Selene não dizia. Ele era carinhoso, atencioso, o tipo de homem que sempre se preocupava em garantir o bem-estar da noiva, fazendo o possível para compreender suas angústias, mesmo quando ela não as explicava por completo.

Por mais que seu físico fosse impressionante e sua presença cativante, era sua doçura que o destacava. Cassian era aquele que, mesmo após um longo dia de trabalho, sempre fazia questão de abraçar Selene com ternura, ouvir sobre seu dia, e tentar, de alguma forma, aliviar qualquer peso que ela carregasse. Ele acreditava na força do amor que compartilhavam e não tinha dúvidas de que estavam construindo um futuro sólido juntos. No entanto, Cassian não sabia da tempestade que assolava a mente de Selene. A confiança que tinha nela era inabalável. Para ele, o amor era suficiente para superar qualquer obstáculo, qualquer dúvida. Ele a amava profundamente e estava disposto a enfrentar qualquer coisa para manter a felicidade que acreditava ter encontrado ao seu lado. Mas havia algo que ele não podia ver — a sombra de Lucian que pairava sobre seu relacionamento.

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