Capítulo 07

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"O inferno são os outros."

Jean-Paul Sartre


 O ser humano é, por natureza, um enigma duplo. Ele manipula com a mesma facilidade com que se deixa manipular, flutuando entre o papel de marionete e o de mestre das cordas. Não há beleza na sinceridade de suas intenções, nem pureza nos gestos que ele chama de afeto. O prazer, para esse ser tão desconcertante, não é apenas o objetivo, mas a desculpa para a degeneração e a queda. E ninguém entende isso tão bem quanto Lucian Thorn. Para ele, a manipulação é uma arte que exige sutileza, uma dança cruel onde as máscaras caem, e o prazer não reside apenas no controle, mas na queda do outro.

Lucian, nascido sob a sombra de um nome poderoso, foi forjado no fogo da tragédia e na perversidade do desejo. Desde cedo, aprendeu que a dor é uma moeda, uma ferramenta que, nas mãos certas, pode comprar qualquer alma. Quando o corpo do pai foi engolido pela estrada, e sua mãe Evangeline se perdeu nos braços do vício, Lucian viu o mundo se despedaçar — mas ele não chorou. Ele aprendeu. Descobriu, naquele momento, que o caos pode ser moldado, que a desordem pode ser seu playground. O hedonismo que abraçou não é o simples prazer dos sentidos; é o domínio completo sobre o destino dos outros, como um Deus menor que brinca com suas criações.

Selene, por outro lado, é a vítima do próprio idealismo. Não há nada mais trágico, nem mais patético, do que alguém que acredita no poder redentor do amor. Ela o confunde com uma salvação, algo divino, quando, na verdade, o amor é a prisão dourada que a cega. Em Lucian, ela não enxerga o carrasco, mas o amante incompreendido. Selene não apenas ama; ela se sacrifica, como se o sofrimento fosse a própria virtude. E como muitas almas que se deleitam em sua própria tragédia, ela se entrega a ele de corpo e alma, acreditando que o prazer, ou talvez a dor, que sente ao lado de Lucian é a verdadeira essência da vida. Ela é manipulada porque escolheu sê-lo. Acredita que sua submissão é um ato de devoção, quando, na verdade, é o último suspiro de sua identidade.

Cassian, o mais jovem, observa tudo de fora, com uma inocência que, no final, também será sua ruína. Ele é o tipo de homem que acredita no bem, mesmo quando o mal o cerca como um manto sufocante. A cada gesto de bondade, a cada tentativa de salvar Selene ou de alcançar Lucian, ele se afunda mais profundamente no abismo. Ele é tão manipulável quanto qualquer um deles, talvez mais, pois não vê o mundo pelo que ele é, mas pelo que ele gostaria que fosse. Cassian, em sua luta para salvar o que resta de sua família, é a verdadeira tragédia. Sua bondade, ao contrário do que pensam os tolos, não o redime. Ela o condena.

A sociedade que os cerca é apenas uma plateia apática, aplaudindo as mentiras que contam a si mesmos enquanto abraçam seus próprios vícios. Não há heróis aqui. Nem mártires. Apenas seres humanos, cujos desejos e fraquezas os arrastam para o fundo do poço. Lucian, Selene e Cassian são o reflexo de todos nós, jogados em um espetáculo decadente, onde o hedonismo não é uma escolha, mas uma inevitabilidade. O que os faz odiados não são suas ações — qualquer um pode ser cruel ou egoísta. O que os torna detestáveis é o fato de que, no fundo, eles sabem o que são, sabem o que querem, e mesmo assim continuam.

Cassian Thorn sempre foi uma marionete nas mãos do irmão, movido pelas cordas invisíveis de uma submissão que ele mesmo nunca soube identificar. Era como uma criança que volta à casa da mãe, depois de ser negado por ela, buscando consolo onde só encontra o eco de suas próprias frustrações. A casa de Lucian sempre teve esse poder sobre ele, uma espécie de refúgio tóxico, onde o desespero de Cassian se dissolvia na frieza calculada de seu irmão mais velho. Ele chegava ali como um cão perdido, implorando por um afago, mesmo sabendo que o dono não lhe daria mais do que o necessário para mantê-lo cativo.

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