Capítulo 48

99 14 1
                                    

Camila Cabello P.O.V

Na manhã seguinte, deixo Lorenzo dormindo em minha cama e me arrumo para o trabalho. Embora ainda esteja abalada com o que aconteceu ontem à noite, fui totalmente sincera com ele. Não o culpo por perder a cabeça. Na verdade, uma parte rancorosa de mim está feliz que Rob tenha levado um soco na cara. Ele merece depois do que fez comigo. Mentir sob juramento, dar um testemunho que permitiu que o caso contra Aaron fosse encerrado… que tipo de pessoa faz algo tão cruel?

Mas sei que Lorenzo está chateado com o que fez e sei que vou ter que trabalhar
duro para fazê-lo ver que não é o monstro que pensa que é.
Mas também não posso faltar ao trabalho, então a Operação Recuperar a
Confiança vai ter que esperar.
Quando estou vestida e pronta para sair, sento na beira da cama e toco seu
rosto. “Tenho que ir trabalhar”, sussurro.
“Mmmlev mmcêee…?”
Deduzo que está se oferecendo para me levar, e um sorriso curva os cantos da
minha boca. “Tô com o carro de Tracy hoje. Dorme mais um pouquinho, se
quiser. Volto lá pelas cinco.”
“Tá.” Suas pálpebras tremem, e, um segundo depois, está dormindo de novo.
Preparo uma xícara de café instantâneo na cozinha e tomo em um gole, para
fazer meu cérebro ainda enevoado pegar no tranco. Meu olhar se desloca para a
porta escancarada do quarto de Ally. A cama feita me preocupa, mas é apenas por um momento, pois quando olho meu celular, encontro uma mensagem dela de ontem, avisando que passaria a noite na república de Sean.
Meu turno na lanchonete é caótico desde o início. As pessoas chegam para o
café da manhã em bandos, e leva umas boas duas horas até que o período de
maior movimento finalmente se dissipe. Quando a lanchonete esvazia, nem sequer tenho tempo de respirar, pois Della me pede para reorganizar os mantimentos embaixo da bancada antes da correria do almoço. Passo a hora seguinte de joelhos, movendo pilhas de guardanapos e pacotes de açúcar de uma prateleira para outra e trocando as canecas de café por copos de vidro.
Quando me levanto, levo um susto ao encontrar um homem sentado na
banqueta à minha frente.
É o pai de Lorenzo.

“Sr. Jauregui”
, ranjo de surpresa. “Oi.”
“Oi, Camila.” Sua voz é fria como o ar de inverno fora da lanchonete.
“Precisamos conversar.”

Precisamos?
Merda. Por que tenho um pressentimento de que sei exatamente sobre o que ele quer falar?

“Estou trabalhando”, respondo, de um jeito estranho.
“Posso esperar.”
Merda vezes merda. São dez horas, e não saio daqui até as cinco. Será que ele vai
mesmo sentar e esperar por sete horas? Porque de jeito nenhum vou conseguir
completar meu turno com ele aqui me olhando o tempo todo.
“Vou ver se posso fazer uma pausa”
, digo às pressas.
Ele assente. “Não vai demorar muito, garanto. Só preciso de alguns minutos do seu tempo.”
Não sei se é uma promessa ou uma ameaça.

Engolindo em seco, passo no escritório para falar com Della, que me libera por
cinco minutos, quando digo que o pai do meu namorado tem algo urgente para
discutir comigo.
No momento em que o sr. Jauregui e eu saímos, descubro a resposta para a
minha dúvida promessa versus ameaça — porque sua linguagem corporal indica ameaça séria.

“Aposto que você está muito satisfeita consigo mesma.”
Franzo a testa. “Do que você tá falando?”
Ele enfia as mãos nos bolsos de seu sobretudo preto, e parece tanto com Lorenzo que chega a ser desconcertante. Mas não soa como Lorenzo, porque a voz do meu namorado não é assim dura, e definitivamente seus olhos não transmitem tanta hostilidade.

“Estive com um monte de mulheres, Camila.” O sr. Jauregui ri, mas sem um
pingo de humor ou de cordialidade. “Você acha que não sei o quanto o ego de uma mulher dispara quando dois homens brigam por sua causa?”

É isso que acha que aconteceu na noite passada? Que Lorenzo e Rob estavam num duelo pelo meu amor? Deus do céu.

“Não foi por isso que eles brigaram”
, argumento, numa voz fraca. Seus lábios se abrem num sorriso de escárnio. “Ah, não? Então a briga não teve nada a ver com você?” Quando não respondo, ele ri de novo. “Imaginei.”

Não gosto do jeito como está me olhando, a crueldade tão evidente. E queria
não ter esquecido minhas luvas lá dentro, porque minhas mãos parecem dois blocos de gelo.
Enfio-as nos bolsos e fito seus olhos. “O que você quer?”
“Quero que você pare de distrair meu filho”, responde, rispidamente. “Você
entende que ele levou uma suspensão de um jogo por conta dessa palhaçada? Por
sua causa, Camila. Porque em vez de se concentrar em ganhar, está babando por você feito um cachorrinho e se envolvendo em brigas em seu nome.”
Minha garganta se fecha. “Não é verdade.”

Ele dá um passo na minha direção, e fico realmente assustada por um
momento. Mas, em seguida, me recrimino por isso, pois, convenhamos, ele não vai me machucar em público. Com a janela da lanchonete bem atrás de mim e à vista de qualquer um.

“Vejo a forma como Lorenzo olha para você e não gosto disso. E certamente não gosto que você tenha dividido a atenção dele. Por isso decidi que você não vai
mais sair com meu filho.”
Não posso conter uma risada de descrença. “Com todo o respeito, senhor, mas isso não é uma decisão sua.”
“Você tem razão. Vai ser uma decisão sua.”
Meu estômago revira. “Como assim?”
“Significa que você vai terminar com o meu filho.”
Fico boquiaberta. “Hum… não. Desculpa, mas não.”
“Imaginei que você ia dizer isso. Tudo bem. Estou confiante de que posso
mudar sua opinião.” Os olhos frios e cinzentos perfuram minha cara. “Você se importa com Lorenzo?”
“Claro que sim.” Minha voz falha. “Amo seu filho.”

A confissão produz um brilho de aborrecimento em seus olhos. Ele estuda o meu rosto e, em seguida, faz um som de escárnio. “Acredito que esteja dizendo a verdade.” Dá de ombros com desdém. “Mas isso só significa que você quer que ele seja feliz, não é, Camila? Você quer que ele seja bem-sucedido.”
Não sei aonde quer chegar exatamente, mas já o odeio por isso.
“Você quer saber por que ele está sendo bem-sucedido agora? O que o permite
ser vitorioso?” O sr. Jauregui sorri. “É por minha causa. Por causa da minha
assinatura nos cheques que pagam a matrícula na Briar. Ele estuda por minha causa. Compra os livros didáticos e paga sua bebida por minha causa. O carro? O seguro? Quem você acha que paga isso tudo? E os equipamentos? O garoto nem sequer tem um trabalho. Como você acha que ele vive? Por minha causa.”

Sinto náuseas. Porque agora sei aonde ele quer chegar com isso.

“Sou muito generoso em permitir esses luxos, porque sei que seus objetivos se
alinham com os meus. Sei o que ele quer alcançar e sei que é capaz disso.” Sua
mandíbula se enrijece. “Mas nós chegamos a um pequeno impasse, não foi?”

O sr. Jauregui me lança um olhar feroz, e, sim, eu sou o pequeno impasse.

“Então o que vai acontecer é o seguinte.” Seu tom é falsamente gentil. Lorenzo
tem razão: esse homem é um monstro. “Você vai terminar com meu filho. Não
vai mais vê-lo, não vai manter a amizade com ele. Será uma ruptura sem
absolutamente nenhum contato posterior. Entendeu?”
“Ou o quê?”, sussurro, porque preciso ouvi-lo dizer isso.
“Ou corto o dinheiro dele.” Dá de ombros. “Adeus matrícula, livros, carros e comida. É isso que você quer, Camila?”

Meu cérebro dispara, repassando depressa minhas opções. Não vou deixar um idiota me chantagear para terminar com Lorenzo, não quando obviamente temos outras soluções disponíveis.
Mas acho que subestimei Mike Jauregui, porque, além de babaca, aparentemente, ele é capaz de ler pensamento.

“Está pensando o que vai acontecer se disser ‘não’?” , adivinha. “Tá tentando
encontrar um jeito de continuar com Lorenzo sem que ele perca tudo pelo que trabalhou tanto?” Ele ri. “Bom, vamos ver, vamos ver… ele pode concorrer a uma bolsa.”

Amaldiçoo-o em silêncio por levantar a ideia que tinha acabado de me ocorrer.

“Mas espera, ele não cumpre os requisitos básicos.” Jauregui parece estar mesmo se divertindo. “Quando a renda da sua família é tão substancial quanto a nossa, as universidades não dão ajuda de custo, Camila. Acredite em mim, Lorenzo já tentou. A Briar recusou na hora.”
Merda.

“Um empréstimo bancário?”
, sugere. “Acho que é difícil conseguir isso quando não se tem crédito no mercado nem renda fixa.”
Meu cérebro luta para acompanhar. Mas Lorenzo tem que ter crédito. Algum tipo
de renda. Ele me disse que trabalha durante o verão.
Mas o sr. Jauregui é o próprio franco-atirador, exterminando todas as
possibilidades que me vêm à cabeça.

“Ele é pago em dinheiro pelo trabalho na empresa de construção. Que pena, não
é? Nenhum registro de renda; sem crédito; não se qualifica como necessitado o suficiente para justificar uma bolsa.” Ele faz um barulhinho de desaprovação com a língua, e minha vontade é quebrar-lhe a cara. “Então, onde isso nos deixa? Ah, certo, a outra opção que você está pensando. Meu filho vai encontrar um emprego e pagar por sua própria educação e despesas.”
É, essa ideia também me ocorreu.
“Sabe quanto custa uma faculdade da Ivy League? Acha que ele é capaz de pagar
a mensalidade trabalhando meio período?” O pai de Lorenzo balança a cabeça.
“Não, ele vai ter que trabalhar em tempo integral para isso. E pode até ser capaz de frequentar a universidade, mas vai ter que largar o hóquei, não vai? E quão feliz ele será se fizer isso?” Seu sorriso me arrepia até os ossos. “Ou vamos supor que ele seja capaz de conciliar tudo — trabalho em tempo integral, faculdade, hóquei… não vai haver muito tempo para você, vai, Camila?”
É exatamente o que ele quer.

Sinto ânsias de vômito. Sei que não está de brincadeira. Ele vai parar de
financiar Lorenzo se eu não fizer o que está mandando.
Também sei que se Lorenzo soubesse da ameaça do pai, mandaria ele à merda na mesma hora. Entre mim e o dinheiro, ficaria comigo, mas isso é o que mais me
dói, porque o sr. Jauregui tem razão. Lorenzo teria que largar a faculdade ou
trabalhar feito um condenado, o que significa abandonar o hóquei de vez ou não ter tempo para se concentrar no esporte. E quero que ele se concentre nisso, porra.
É o sonho da vida dele.
Minha cabeça continua a girar.

Se terminar com Lorenzo, o sr. Jauregui vence.
Se não terminar com Lorenzo, o sr. Jauregui continua vencendo.

Meus olhos se enchem de lágrimas. “Ele é seu filho…” Engasgo com as palavras.
“Como pode ser tão cruel?”
Parece entediado. “Não sou cruel. Só pragmático. E, ao contrário de algumas
pessoas, tenho minhas prioridades bem estabelecidas. Investi muito tempo e
dinheiro nesse garoto e me recuso a ver todo esse trabalho ir para o ralo por causa de uma vadia de universidade.”
Estremeço de repulsa.

“Não perca tempo, Camila”, ameaça, asperamente. “Estou falando sério, não me teste e não pense que estou blefando.” Seu olhar gélido perfura meu rosto. “Pareço o tipo de homem que blefa?”
Sinto o ácido queimando em minha garganta enquanto nego lentamente com a cabeça.
“Não. Não parece.”

Nosso Acordo - Adaptação Camren Alternativo Onde histórias criam vida. Descubra agora