Capítulo 21

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Camila Cabello P.O.V

“Você perdeu uma aposta”, confirma Ally, na dúvida.
“É.” Sento na beira da cama e me abaixo para fechar a bota esquerda,
deliberadamente evitando o olhar da minha amiga.
“E agora vai sair com ele.”
“Aham.” Esfrego o polegar na lateral da bota e finjo que estou limpando uma
mancha no couro.
“Você vai sair com Lorenzo Jauregui.”
“Aham.”
“Isso tá me cheirando a furada.”

Claro que sim. Um encontro com Lorenzo Jauregui? Eu poderia muito bem ter anunciado que ia me casar com Chris Hemsworth.
Por isso, não, não culpo Ally por parecer tão surpresa. A desculpa da aposta foi
a melhor que fui capaz de inventar e, na melhor das hipóteses, é péssima. Agora
estou me perguntando se deveria confessar e falar de Allan.
Ou melhor, cancelar logo o encontro.
Não vejo Lorenzo desde o grande erro, que é como estou me referindo ao beijo. Ele me mandou uma mensagem ontem depois da segunda chamada. Três míseras palavrinhas: “Mamão com açúcar”.
Não vou mentir, fiquei emocionada ao ouvir que tinha ido bem. Mas não o
suficiente para iniciar uma conversa de verdade, então respondi com uma palavra apenas — “Boa!” —, e esse foi o único contato que tivemos até vinte minutos atrás, quando ele escreveu para dizer que estava vindo me buscar para a festa.

Para mim, o beijo não aconteceu. Nossos lábios não se encontraram, e meu
corpo não ardeu. Não gemi quando minha língua preencheu a sua boca, e não murmurei quando seus lábios tocaram aquele ponto sensível do meu pescoço.
Não aconteceu.

Mas… bom, se não aconteceu, então não tenho por que fugir da festa agora,
tenho? Porque não importa quão confusa e abalada o bei… o grande erro tenha me deixado, ainda estou ansiosa por uma chance de ver Allan fora da faculdade. Mas não posso contar a verdade a Ally. Em geral, sou tão confiante em outras áreas da minha vida. No canto, nos trabalhos da faculdade, com os amigos.
Quando se trata de relacionamentos, porém, volto a ser aquela menina
traumatizada de quinze anos de idade que precisou de três anos de terapia para se sentir normal de novo. Sei que Ally não aprovaria se soubesse que estava usando Lorenzo para chegar a Allan, e agora não estou com cabeça para sermões.

“Vai por mim, ‘furada’ é o nome do meio de Lorenzo”, digo, secamente. “O cara
trata a vida como um jogo.”
“E você, Camila Cabello, está jogando o jogo dele?” Ela balança a cabeça,
incrédula. “Tem certeza de que não sente nada por esse cara?”
“Por Lorenzo? De jeito nenhum”, respondo, depressa.

Aham. Porque você seeeempre dá uns amassos com os caras por quem não sente nada.
Afasto a provocação interna. Não, não dei um amasso em Lorenzo. Estava
simplesmente respondendo a um desafio.
A voz zombeteira surge em minha mente mais uma vez. E você não sentiu
absolutamente nada, certo?
Argh, por que não dá para desligar o sarcasmo do cérebro? Mas sei que fazer
isso não vai apagar a verdade. Senti alguma coisa quando nos beijamos. Aquele formigamento que Allan provoca em mim? Senti com Lorenzo. Mas foi diferente.
As borboletas não só flutuaram em minha barriga… fugiram e correram pelo meu corpo inteiro, fazendo com que cada centímetro de mim pulsasse de prazer.
Mas não significou nada. Em dez míseros dias, Lorenzo deixou de ser um
estranho para se tornar um amigo irritante, mas isso é o máximo que estou
disposta a aceitar. Não quero sair com ele, não importa quão bem o sujeito beije.

Antes que Ally possa continuar me pressionando, recebo uma mensagem de Lorenzo me avisando que está aqui. Estou prestes a dizer para esperar no carro, mas acho que temos definições diferentes de aqui, porque um segundo depois ouvimos
uma batida forte na porta.

Suspiro. “É Lorenzo. Pode abrir, por favor? Só vou prender o cabelo.”
Ally sorri e desaparece. Escovo depressa o cabelo e ouço vozes na sala de estar,
seguidas por um protesto estridente e passos pesados na direção do meu quarto.
Lorenzo aparece na porta vestindo calça jeans azul-escura e um suéter preto, e
algo terrível acontece. Meu coração parece um golfinho e dá um pulinho idiota de empolgação.
Empolgação. Quem diria.
Aquele bei… erro… mexeu mesmo com a minha cabeça.
Ele examina minhas roupas antes de arquear uma sobrancelha.

“É isso que você vai vestir?”
“É”, rebato. “Algum problema?”
Ele deita a cabeça de lado como se fosse a porcaria do Tim Gunn no Project
Runway. “Curti o jeans e as botas, mas a camisa não vai rolar.”
Dou uma conferida no suéter soltinho listrado de azul e branco, mas
sinceramente não vejo o que há de errado com ele. “Qual o problema?”
“Folgado demais. Achei que a gente já tinha falado sobre como você precisa
mostrar seus peitos de stripper.”
Uma tosse estrangulada surge atrás dele. “Peitos de stripper?”, repete Ally, ao
entrar no quarto.
“Ignore-o”, aviso a ela. “É um machista.”
“Não, sou homem”, corrige, e abre o sorriso que é sua marca registrada. “Quero ver decotes.”
“Gosto deste suéter”, protesto.
Lorenzo olha para Ally. “Oi, meu nome é Lorenzo. E o seu?”
“Ally. Colega de alojamento e melhor amiga de Camila.”
“Ótimo. Bom, pode dizer à sua colega de alojamento e melhor amiga que ela
parece uma vela de navio?”
Ela ri e, em seguida, para meu horror — traidora! —, concorda com ele. “Não
faria mal vestir algo mais justo”
, comenta, com muita delicadeza.
Olho feio para ela.
Lorenzo sorri ainda mais. “Tá vendo? Estamos todos de acordo. Mostre a que veio ou nem precisa vir, Cabello.”

Ally olha de mim para Lorenzo, e sei exatamente o que está pensando. Mas ela está errada. Não estamos a fim um do outro, muito menos namorando. Mas acho que é melhor que ela pense isso do que saber que vou sair com ele para
impressionar alguém.
Lorenzo caminha a passos largos até o meu armário como se fosse o dele.
Quando enfia a cabeça de cabelos escuros lá dentro, Ally me lança um sorriso.
Parece estar achando tudo muito divertido.
Ele passa os cabides para examinar minhas roupas, em seguida, puxa uma
camiseta preta fina.

“Que tal?”
“De jeito nenhum. É transparente.”
“Então por que você tem?”
Boa pergunta.
Ele tira outro cabide, desta vez um suéter vermelho com um decote em V
enorme. “Este” , diz, com um aceno de cabeça. “Você fica ótima de vermelho.” As sobrancelhas de Ally batem no teto, e amaldiçoo Lorenzo por colocar todas
essas ideias desnecessárias na cabeça dela. Mas, ao mesmo tempo, meu peito fica quente e derretido, porque… ele acha que fico ótima de vermelho? Como se tivesse mesmo reparado nas roupas que usei nos últimos dias…

Lorenzo me joga o suéter. “Certo, vista isso. Queremos chegar elegantemente
atrasados, e não estupidamente atrasados.”
Ally deixa escapar outra risada.
Olho para os dois. “Posso ter alguma privacidade, por favor?”
Ou estão alheios ao meu aborrecimento ou optaram por ignorá-lo, porque
ouço-os conversando tranquilamente na sala. Suspeito que Ally o esteja
interrogando sobre o nosso “encontro” e torço para que Lorenzo se atenha à
história da aposta. Quando sua risada rouca flutua até o meu quarto, um arrepio involuntário percorre minha coluna.
O que está acontecendo comigo? Estou perdendo de vista o que quero. Ou
melhor, quem quero. Allan. Allan Kohl. Não deveria ter beijado Lorenzo — nem
Dean, aliás — e me distraído com a estranha onda de calor que ele desencadeia em mim.
É hora de colocar a cabeça nos eixos e lembrar por que concordei com essa
farsa em primeiro lugar.
A começar por agora.

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