Capítulo 23

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Camila Cabello P.O.V

Desde que comecei a dar aulas para Lorenzo, tenho negligenciado meus amigos, mas, agora que ele fez a segunda chamada, meu tempo livre voltou a ser só meu.
Assim, na noite seguinte à festa de Beau Maxwell, encontro o pessoal de sempre
no café da faculdade, animada em revê-los. E fica óbvio que também sentiram minha falta.

“Mila!” Dexter pula da cadeira e me puxa para um abraço apertado. E quando digo apertado, quero dizer que quase sou engolida por esse abraço, porque
Dex é um gigante. Sempre o provoco dizendo que é igualzinho ao garoto de Um sonho possível e que, portanto, deveria ser da linha de defesa do time de futebol americano, mas Dex não tem estrutura atlética. Estuda música como eu, e, pode acreditar, o cara canta muito.
Megan é a próxima a me cumprimentar, e, como de costume, um comentário
sabichão salta de sua boca espertinha.

“Foi abduzida por alienígenas?”
, pergunta ao me abraçar com tanta força que mal consigo respirar. “Espero que a resposta seja sim e que eles tenham enfiado uma sonda na sua bunda por dez horas seguidas. É o que você merece por me ignorar por mais de uma semana.

”Rio do vívido retrato que ela acabou de fazer. “Eu sei. Não valho nada. Mas tive
uma maratona de aulas esta semana que me manteve ocupada.”
“Ah, todo mundo sabe quem tem te mantido ocupada”, interrompe Stella, em
sua cadeira ao lado de Dex. “Lorenzo Jauregui, Mila? Sério?”
Contenho um suspiro. “Quem contou? Ally?”
Stella revira os olhos da forma mais dramática. Acho que é uma coisa de alunos do teatro — eles aparentemente não conseguem dizer uma palavra ou fazer um gesto sem exagerar. “Claro que contou. Ao contrário de você, Ally não guarda segredos da gente.”
“Ah, nem vem. Só andei ocupada com as aulas e os ensaios. E o que quer que
Ally tenha dito sobre ele, não é verdade.”

Tiro o casaco de inverno e coloco sobre
a cadeira vazia ao lado de Meg. “Estou ajudando Lorenzo a passar em ética. E só.”
O namorado de Meg, Jeremy, sacode as sobrancelhas para mim por cima da caneca de café. “Você sabe que isso faz de você a inimiga agora, né?”
“Ah, espera aí”, protesto. “Isso é maldade.”
“Olha quem fala! A traidora”
, brinca Meg. “Como você se atreve a socializar com um troglodita? Como?”
Sei pelas expressões animadas que é tudo piada. Pelo menos até Lorenzo me
mandar uma mensagem.
Meu telefone apita, e sorrio no segundo em que o tiro da bolsa.

Lorenzo: Vc tinha q ter vindo à festa pós-jogo. Uma garota acabou d esvaziar uma jarra d cerveja na cabeça d Dean.
Deixo escapar uma risada e respondo depressa, porque preciso saber mais
detalhes.
Eu: AIMEUDEUS. Pq? (aposto q foi merecido).
Ele: Acho q esqueceu d dizer a ela q era uma relação aberta.
Eu: Claro. Homens.
Ele: Homens… termine a frase… Homens são maravilhosos? Obrigado, gata. Aceito o prêmio em nome de todos nós.
Eu: Prêmio de maior babaca? É, vc é o porta-voz perfeito.
Ele: Ahhhhh. Tô magoado. N sou um babaca L.

A ideia de que possa ter magoado seus sentimentos me faz afundar em culpa.

Eu: Tem razão. N é. Foi mal. L
Ele: Rá. Vc é a maior bobona do planeta. N tava magoado.
Eu: Ótimo, pq as desculpas foram da boca pra fora.
“Camila Cabello, favor comparecer à sala do diretor!”

Ergo a cabeça e vejo todos os meus amigos sorrindo para mim de novo.
Dex, que havia proferido a ordem, se dirige aos outros: “Ah, vejam, ela tá
prestando atenção na gente”.
“Desculpa”, digo, me sentindo mal. “O telefone vai ficar oficialmente guardado
pelo restante desta reunião.”
“Ei, vocês nunca vão adivinhar quem a gente viu ontem à noite no Ferro’s”
, provoca Meg, referindo-se ao restaurante italiano da cidade.
“Lá vamos nós.” O namorado dela suspira. “Não consegue ficar cinco segundos sem fofocar, gata?”
“Não.” Ela abre um sorriso animado, antes de se virar para mim. “Cass e Mary Jane”, anuncia. “Estavam num encontro.”
“Sabia que estavam juntos?”
, pergunta Stella.
“Sabia que ele tinha convidado M.J. para sair”, admito. “Mas tava torcendo para
que ela fosse esperta o suficiente pra dizer não.” Mas não me surpreende descobrir que M.J. fez exatamente o contrário. Agora, sem dúvida não estou mais ansiosa para o ensaio de segunda-feira. Se Cass e M.J.
já viraram um “casal”, nunca mais vou ganhar a discussão a respeito do dueto.
“Aquele imbecil ainda tá criando caso nos ensaios?”, pergunta Dex, com uma
careta.
“Aham. É como se a missão da vida dele fosse me azucrinar. Mas não ensaiamos
nos fins de semana, então tenho uma folga até segunda-feira. Como tá indo a sua música?”
Dex fica sério. “Muito bem, na verdade. Jon tem ouvido bem minhas sugestões.
Não é um louco possessivo em relação à composição, sabe? Mas não tem
problema nenhum em rejeitar as minhas ideias, o que também valorizo.”
Bom, pelo menos um de nós teve sorte na escolha de compositor. M.J. parece
perfeitamente contente em deixar Cass acender um fósforo e atear fogo à sua
música.

“Certo, quero muito ouvir mais, só que preciso de um café antes de qualquer
coisa.” Levanto da cadeira e pego minha bolsa. “Mais alguém quer?”
Depois que todos sacodem a cabeça negativamente, caminho até o balcão e entro no fim da fila. O café está bastante cheio para uma noite de domingo, e me
assusto quando várias pessoas na fila me cumprimentam. Não conheço ninguém,
mas sorrio e aceno desajeitada de volta. Em seguida, finjo digitar alguma coisa no telefone, porque não quero ser arrastada para uma conversa com um estranho.

Será que os conheci na festa de Beau? Mas todas as pessoas a quem Lorenzo me apresentou se misturam num único borrão. As únicas cujos nomes e rostos me lembro são Beau e Allan, e alguns dos outros jogadores de futebol.
Sinto um toque suave no ombro, viro para trás e me deparo com os vívidos
olhos azuis de Allan.
Falando no diabo.

“Ah, oi”, cumprimento, numa voz estridente.
“Oi.” Ele leva a mão de volta ao bolso do agasalho do seu time de futebol
americano. “Tudo bem?”
Tento parecer casual, apesar do coração acelerado. “Tudo. E você?”
“Bem. Mas… tô curioso sobre uma coisa.” Ele deita a cabeça do jeito mais
bonitinho possível, e, quando uma mecha de seu cabelo escuro cai sobre a testa, luto contra a vontade de ajeitá-la. “Qual é o seu problema com festas?”
, pergunta,
com um sorriso.
Pisco os olhos, confusa. “O quê?”
“Já é a segunda festa em que nos encontramos, e de novo você saiu cedo.” Ele faz uma pausa. “Na verdade, nas duas, você foi embora com Jauregui.”
Sinto uma onda de desconforto envolvendo minha espinha. “Ah, é que ele tem carro. Faço tudo por uma carona.”

No instante em que digo isso, percebo quão sujo soou, mas, ao contrário de
Lorenzo, que teria feito várias piadas com carona na mesma hora, Allan nem
sequer abre um sorriso. Se demonstra alguma coisa, é desconforto.
Ele fica quieto por um momento, antes de abaixar a voz.

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